Provocações

You will not fuck with my children’s future. You will not destroy the freedoms my grandfather fought two world wars to defend. Fuck off you over-promoted rubber bath toy. Britain is revolted by you and you little gang of masturbatory prefects.

 

Hugh Grant, no Twitter

 

Boris Johnson decidiu suspender o Parlamento por um mês, numa altura em que o mesmo poderia de alguma forma bloquear a saída sem acordo do Reino Unido da UE, prevista para 31 de Outubro. Esta decisão está a ser ferozmente criticada por muitos políticos e comentadores britânicos, para além de gente dos meios artísticos deveras irada (ver acima), que a classificam de choque, esperteza saloia, brincadeira de mau gosto, golpe e um terminante “morte da democracia”. (O tweet de Hugh Grant tem comentários muito agressivos, o que prova que há também gente com muito ódio aos europeus, inclusivamente pelas baixas causadas nas duas grandes guerras)

 

Ora bem, visto daqui, o circo ia animado há já vários meses e já só faltava mesmo a entrada do elefante na arena. Do elefante ou do palhaço-mor, é o que iremos ver. Um ou outro acaba justamente de entrar. Agora, ou se parte a louça toda de vez, ou se reduz a democracia a cacos, e em frente para o abismo, ou a arena é simplesmente do palhaço exuberante, que faz o seu número, não tem graça e é corrido entre apupos e arremessos de garrafas. Ninguém esperava viver para assistir a isto do outro lado do Canal, penso eu.

 

O desavindo Parlamento, onde se sentam os opositores de Boris (eventualmente em maioria), dispõe apenas de uma semana – desde 3 de Setembro, altura em que reabre após as férias, até 9 – para aprovar uma moção de censura que derrube Johnson e abra caminho a eleições. Mas será isso que quer?

 

Eu devo dizer que, olhando para o que se passou há pouco tempo no Parlamento com a votação do acordo de Theresa May e de todas as outras propostas referentes ao problema da saída, votação dirigida, por entre apelos estridentes e algo patéticos à ordem, pelo seu presidente, John Bercow, a imagem do desnorte parlamentar atingiu um pico inigualável e o descrédito foi total. E pior: não se via um fim para os sucessivos desacordos. De facto, o Parlamento não sabia o que queria. Todas as propostas foram rejeitadas com um maioritário «não». E o problema maior é que nada se alterou.

 

E foi assim que, após a demissão de Theresa May e a eleição intrapartidária de Johnson, e mantendo-se a posição da UE inalterada devido, nomeadamente, ao problema das Irlandas, era tentador para um charlatão como o Boris usar do seu poder máximo e calar o Parlamento dizendo-lhe que é inútil. Era tentador e Boris, que, como um seu à época conterrâneo famoso, resiste a tudo menos à tentação, não resistiu.

 

Não é difícil, por outro lado, concordar que, com aquele Parlamento, não se vai longe na questão da saída da União Europeia. Mas daí até acabar com ele deveria ir um passo de gigante. Pelos vistos, não foi. Não será que “para grandes males grandes remédios”? Estou dividida.

 

Mas enfim, imaginemos que Johnson tem dois gramas de seriedade e três de juízo: dir-se-ia que, perante um claro impasse, nada mais lhe restava do que lançar o grande desafio aos adversários do Brexit: “Não querem sair ou não querem sair sem acordo, têm uma semana para me demitirem.” É um repto, é um jogo. Só não percebo por que razão este homem, se está tão confiante de que representa a vontade da maioria dos britânicos, não convoca eleições já. Se a resposta é que “poder, podia, mas não seria a mesma coisa”, então entrou mesmo o palhaço. É o mais certo. O homem gosta de “show”. Infelizmente, o que já não é tão certo é que não ganhe as eleições. Numa época em que tudo é espectáculo, parece haver gosto por pândegos no poder. Ali, “of all places”, é que me parece assaz inesperado.

 

 

4 thoughts on “Provocações”

  1. Que giro, tanta gente preocupada com os EUA, Reino Unido, Itália e Brasil. Até já querem nacionalizar a Amazónia, mas só a parte brasileira, em nome da fraternidade de esquerda. Que fofos :)

    Parece que a soberania dos países só se aplica quando há ingerência da UE, Troika ou cenas que não gostamos.

    O PS não é aquele partido que se aliou a 2 partidos anti União Europeia para poder ter acesso aos dinheiros públicos? Aqueles que defendiam a saída de Portugal e deixarmos de pagar a dívida?

    Estão preocupados com esta democracia? LOL

  2. bom ,pelo menos tem tomates e é original. e toma atitudes nunca vistas. fora da caixa , não se preocupa com as críticas. dou-lhe o benefício da dúvida , será doido mas não estúpido. os mediocrezinhos todos certinhos já enjoam e já se viu que não servem para nada.

  3. a imagem do desnorte parlamentar atingiu um pico inigualável e o descrédito foi total. E pior: não se via um fim para os sucessivos desacordos. De facto, o Parlamento não sabia o que queria.

    Exatamente. É isso mesmo: um Parlamento que não sabe o que quer.

    com aquele Parlamento, não se vai longe na questão da saída da União Europeia.

    Exatamente. Não se vai a lado nenhum.

    Se aquele Parlamento ao menos se entendesse a si mesmo, convocaria um referendo (se necessário, com recurso a segunda volta) para decidir qual das três opções escolher: não sair da UE, sair da UE com o acordo negociado por May, ou sair da UE sem acordo. Infelizmente, porém, aquele Parlamento nem a si mesmo se entende, nem as suas próprias limitações compreende.

  4. O Povo inglês tem apenas aquilo que merece.

    E os direitolos que agora se rebolam com os supostos “tomates” do palhacinho, a marionetinha do trampa, e com o seu olímpico desprezo pelas regras da Democracia (“decisões nunca vistas” e “fora da caixa” – puta de linguagem banal desta mentalidade merdiática… -, como se isto tudo não fossem coisas mais que vistas e gastas na Europa desde os anos vinte e trinta!), tal como os arrogantes facínoras em Portugal gulosamente se refastelaram com o chumbo do PEC 4, são os mesmos que se vão esborrachar na dura realidade, quando a 31 de Outubro, não acontecer NADA e a vetusta e estafada “Grã”-bretanha tiver, mais tarde ou mais cedo, que meter o rabinho entre pernas e ficar naquele sítio enorme onde, como no Hotel Califórnia, decididamente “you can check-out any time you like, BUT YOU CAN NEVER LEAVE”!

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