Palavras não ditas

Caros jovens, ilustres cinquentões:

Alguns de vós compreendem agora finalmente que um partido de protesto, sem a herança histórica do PCP, além de inútil à democracia, não dura eternamente. Alguns de vós criticaram, e bem, a direção do partido por se ter aliado à direita em Março do ano passado para derrubar o governo anterior, com os resultados eleitorais e as consequências calamitosas para os portugueses por demais conhecidos. Alguns de vós sentem responsabilidade pela subida ao poder do maior bando de aldrabões, incompetentes, oportunistas, insensíveis, vendedores e vendidos de que há memória neste país, querendo redimir-se através de um grande gesto, procurando aliados. Alguns, pelo contrário, não sentem nada disso: intencionalmente os colocaram no poder, despudoradamente discutem agora alternativa(s), pelo que me pergunto, por esses, o que estou aqui a fazer. Alguns pensam convictamente, pretendendo arrastar outros para o radicalismo de sempre, que correr com a Troika é abrir as portas ao progresso do país. Alguns de vós perceberam sem dificuldade que o António José Seguro nunca conseguirá levar os socialistas à maioria absoluta, uma oportunidade, pois, para acederem a cargos de poder, numa eventual coligação. Muitos de vós, eternos revolucionários, simpatizam com quem, no PS, se mostra mais contestatário e inconformado. Muitos de vós têm ou mantêm um único objetivo estratégico, dividir o partido socialista e conquistar assim mais votos em futuras eleições. Esta será mais uma tentativa nesse sentido, com pouco juízo, diga-se. Muitos de vós simplesmente invejam e desejam o sucesso, até ver entre aspas, do Syriza, sobretudo do seu líder.

Pois bem, o facto é que também eu estou indignado (e descrente no Seguro). E interessado em ouvi-los. Sou um homem de esquerda.

(palavras que não constarão, e não por acaso, de uma hipotética introdução de um hipotético discurso de Mário Soares no próximo Congresso das Alternativas, onde o BE estará em força e predominantemente)

Nota à margem: Alguém ouviu, como eu, o Nicolau Santos dizer ontem na SIC N que não esteve na conferência de imprensa do Gaspar, porque parece que até os jornalistas esta gente já seleciona?

23 thoughts on “Palavras não ditas”

  1. Também reparei nessa da selecção de jornalistas. Foi dito assim en passant e assim ficou. Mas eu entendo, é que não há verba para comprar cadeiras para todos e assim os que são seleccionados depois contam aos outros.

  2. Também reparei na observação, embora tenha ficado com a ideia que os “convidados” foram para reuniões no MF para ir saindo informação. Não tive oportunidade de ver na íntegra o comício do ministro Gaspar, pelo que não sei se o inefável Camilo Lourenço, ou outro da mesma estirpe, fez alguma pergunta ou comentário “incómodos” para o MF.

  3. Já agora. No Prós e “Contras” de 2ª feira, o General Garcia Leandro disse que aprecia o PM (homem honesto e tal) mas que está rodeado de gente ligada à extrema direita financeira americana.

  4. O debate das moções de censura, deu para ver mais um estertor deste moribundo regime!
    Começam a confirmar-se rachas na maioria, é triste ver a forma alucinada como os deputa-
    dos do PSD aplaudiam as intervenções em sua defesa, do p.ministro…revelador da falta de
    sentido crítico em divórcio com o sentir dos portugueses!
    Uma nota sobre a intervenção de F. Assis, uma lição de como deve ser feita a política e, pela
    expressão captada a Seguro…este, pensava alto quem me dera saber falar assim!!!

  5. iá, a cassete. zangam-se com uns por lhes quererem condicionar o voto na censura, e depois querem condicionar o voto de outros nos pecs (mas só naquele que a direita não lhes aprovou)

  6. Como dizia o Aleixo… Para a mentira ser segura….

    Ninguem se aliou á direita, em coerência recusaram o PEC IV , como já tinham recusado o PEC III, pois não era por essa via , que se resolviam os problemas do País.

    Aliás NUNCA faltaram os votos da esquerda a Socrates ,quando ele tomou medidas de esquerda ( muito poucas) , aliás como nunca faltaram os votos do CDS ou do PSD a Socrates , quando na maioria dos casos, tomou medidas de direita.

    A direita NUNCA apresentou nenhuma moção de rejeição do governo de Socrates , talvez por isso e em agradecimento, Seguro não apresente nenhuma moção de rejeição do governo PSD-CDS, entende-se ,afinal não são assim tão diferentes.

    Interessante será ouvir amanhã na Aula Magna, os deputados do PS ,que hoje OBJECTIVAMENTE deram o seu apoio ao Coelho-Gaspar-Portas, acusarem o actual governo de cobras e lagartos.

    Parole…Parole

    Aquele que poderia ser um Congresso para uma Alternativa Democratica, transformou-se NUMA FARSA, perante a COBARDIA que hoje na Assembleia da Republica demonstraram, muitos deputados do PS.

  7. Por favor, mudem o nome deste espaço para Aspirina PEC 4. Fica em conformidade com o pacto diabólico que fizeram e atesta esta aldrabice política que é acusar o PCP e BE de dar o poder à direita com um PEC 4.0 (no mesmo ano, refira-se). Este discurso apenas serve para animar as hostes (para quem não tenha dois dedos de testa e respectivo conteúdo) que na falta de uma clara orientação (objectivo?) política seguram-se em aldrabices passadas e truques de retórica gasta e inútil. Ainda por cima, mesmo em discurso indirecto e no plano hipotético, acusam arrogantemente outros partidos de inutilidade democrática. Quem são estes seres? Que respeito merecem?

  8. Penélope, “onde o BE estará em força e predominantemente”?! Talvez ingénuamente acredito ou quero acreditar que assim não seja. Mas, para que conste, queria dizer-lhe que se essa sua impressão se confirmar, não terei a mínima hesitação em sair pela porta fora!

  9. Os social fascistas e os esquerdelhos do bloco, estão muito preocupados com o congresso das esquerdas.Eu como votante no Ps,fico satisfeito com o aparecimento de uma esquerda, com quem se possa dialogar.No blogue cinco dias,os socialistas não têm assento ao fim de meia duzia de criticas ao Pcp.Não aceito este tipo de critica ao aspirinaB.Augusto, o nosso pior resultado foi 28 % o vosso melhor não chegou a 9% portanto é natural que estes numeros se reflitam em todos os blogues onde nós queiramos navegar.querias o contrario? Importem comunistas!mas desconfio que nem em cuba consegue arranjar.

  10. e ao que parece, pela primeira vez, as celebrações do último 5 de outubro vão ser em condomínio privado e por convite, que o povo grita muito e cheira mal. O passos, nem em cerimónia privada participa, que estas coisas da república são mafiosices maçónicas, palhaçadas populares ou sei lá o que o homem pensa. (ah, é verdade,não pensa).

  11. Para justificar as suas alianças com a direita e as políticas de direita, ouvimos durante anos os dirigentes do PS, de Mário Soares a Guterres, acusar o PCP de “encostar o PS à direita”.
    Com Sócrates, o argumento mudou um pouco e o PCP passou a ser acusado de considerar o PS o seu inimigo principal.
    Agora, com Seguro, o PCP e o BE passaram a ser responsáveis por uma imaginária aliança com o PR, o PPD e CDS que terá obrigado a chamar a troika e fez eleger esta maioria criticada pelo PS nas palavras mas defendida nos actos (das “violentas abstenções” às violentíssimas aprovações da legislação do trabalho, por exemplo).
    Até quando julgam poder iludir o eleitorado com tais embustes?

  12. Zé; Edgar: Porque não negociou o Bloco um acordo de coligação com Sócrates em 2009, para o qual foi convidado? Teriam tido uma ocasião soberana para controlar as “derivas direitistas” do engenheiro…

  13. “Porque não negociou o Bloco um acordo de coligação com Sócrates em 2009, para o qual foi convidado?”

    Porque os deputados do Bloco com os do PS não dariam a majestática maioria absoluta. E, além disso, não me lembro de um convite formal entre as partes para haver um acordo pré-eleitoral nem pós-eleitoral. Agora o que eu vejo claramente é o BE a fazer tudo para que o PS adira à alternativa. O PS enuncia uma ameaça de moção de censura, o BE disponibiliza-se para a apoiar. Depois, o PS, acreditando que sem a TSU o roubo, o assalto, em suma, a imoralidade acabou retirando a ameaça e abstendo-se na votação de outras moções. Já agora lanço o repto: o que difere a baixa da TSU das suas alternativas (assalto fiscal) recentemente enunciadas para que o PS mudasse de intenção?

  14. Sócrates tanto “negociou” uma aliança com o BE como “negociou” uma aliança com o CDS, ou seja, para o PS ‘direita’ e ‘esquerda’ já não são, na prática, diferenças operativas e fundamentais para o seu posicionamento.

    O PS é o partido do nim.

  15. Zé: Foi então por uma questão matemática que o Bloco não quis negociar com Sócrates. Tens piada. Podes continuar a divertir-nos.
    Quanto à diferença entre o regime em que se concretizava a baixa da TSU e o aumento generalizado da carga fiscal, não sei fazer-te um desenho. A medida era imoral, sobretudo em tempo de redução generalizado de salários. Era algo à parte. Era uma à Mitt Romney. Uma provocação. Teve a resposta que mereceu e o Seguro não esteve mal, acompanhando a indignação.
    Estás enganado quando dizes que as medidas ontem anunciadas são a alternativa à baixa da TSU para os patrões. Elas aconteceriam sempre, com ou sem mexidas na TSU. O buraco orçamental aberto pelo Gaspar é incomparavelemnete superior aos 500 M€ que reverteriam para o Estado com as ditas mexidas.
    Não me admiraria muito que a ideia provocatória da TSU não tivesse outro objetivo senão levar pessoas como tu a pensar que estas medidas se devem à rejeição das mexidas na TSU.

    João: O que há de errado em procurar uma coligação e uma base para governar, respeitando os resultados eleitorais? É evidente que, com o PP se negociaria uma base de entendimento diferente da que se negociaria com o Bloco. Era uma questão de cedências em matérias diferentes.

  16. Bem, deveria ter desconfiado que isto era “conversa redonda”. Vamos aos desenhos: a questão aritmética não era importante para o BE. O PS era governo e precisava de uma maioria parlamentar. Consegue perceber a diferença? Não, eu explico: o PS precisava de uma maioria parlamentar para conseguir, sem grandes sobressaltos, implementar todas as medidas governativas emanadas do anterior séquito governamental. Para isso teria que negociar (sabe o que é isso?), entre os vários partidos representados à sua esquerda (PCP + BE) ou com o CDS, acordos pós-eleitorais. Houve convites formais endereçados ao BE? Que eu saiba, não. Mas já que assevera com tanta certeza que o BE não quis negociar com o PS em 2009, deve com certeza possuir mais conhecimento sobre assunto do que eu. Ilumine-nos, sff.

    “Quanto à diferença entre o regime em que se concretizava a baixa da TSU e o aumento generalizado da carga fiscal, não sei fazer-te um desenho. A medida era imoral, sobretudo em tempo de redução generalizado de salários. Era algo à parte.”

    A baixa generalizada da TSU retirava rendimentos aos assalariados portugueses direccionando uma parte substancial para as empresas e 500 milhões para o défice (ou pensava que iria para consolidação da Segurança Social?). O aumento brutal (34,6%) da carga fiscal, retira uma quantidade enorme de rendimentos a todos os contribuintes portugueses e direcciona-os para tapar o défice. Diferenças? O fim. Semelhanças? O roubo de rendimentos. O que é imoral, o fim ou o roubo? Pela sua resposta (a redução da TSU é algo à parte e imoral) o que padece de imoralidade é o fim dos milhares de milhões de euros caçados aos rendimentos dos portugueses e não o roubo. Não há aqui alguma inversão de valores? Penso que sim, ou então é um refluxo da cegueira partidária ao tentar justificar algo injustificável e explicar quão gelatinosa é actuação política deste PS de Seguro (embora apoiado por uma larga maioria de “socialistas”).

    De referir que quando usei o termo “alternativas à TSU” não era no plano prático mas sim no plano do discurso político. O governo propôs medidas alternativas pois recuou na baixa da TSU e avançou com uma nova carga fiscal. Politicamente, trocou uma medida por outra. Na prática, os fins são substancialmente diferentes logo não são medidas alternativas. Se quiser brincar ao jogo das palavras e dos seus significados, continue, pois não terá nada de importante para dizer.

    Volto a repetir, o PS classificou a redução de rendimentos via baixa da TSU como imoral logo censurável mas acha que a redução de rendimentos com o “assalto fiscal” não é imoral e logo não censurável. É isso que defende? O que condiciona a acção política do PS, os meios ou os fins?

  17. “A baixa generalizada da TSU retirava rendimentos aos assalariados portugueses direccionando uma parte substancial para as empresas e 500 milhões para o défice (ou pensava que iria para consolidação da Segurança Social?)”

    Ui, como eu adoro esta linguagem cuidada! A “transferência” de 2.300 milhões de euros dos trabalhadores para as empresas era apenas uma parte substancial do esbulho de 2.800 milhões!
    Substancial como, assim como mais de 82%, não era?!

    Não querer entender que, tirar uma determinada coisa a alguém, em nome de um futuro benefício, e depois transferir 82% desse desvio para cofres que não se tutelam, é uma vulgar vigarice.

    Tirar rendimentos a muitos (não a todos, como este Zé parece querer fazer acreditar) para aplicá-los sabe-se lá em quê, não é um roubo, é uma prerrogativa dos governos que pode ser considerada escandalosa, mas não se reveste de características nem sequer semelhantes à anterior.

    Não querer entender que a contribuição para a TSU que, quer o trabalhador, quer a entidade patronal é uma forma de remuneração do trabalho com um fim assitencial idêntico é desconhecer a génese da Segurança Social.

    Depois o característico estampanço. O governo não propôs medidas alternativas à TSU, pois quando anunciou a trafulhice foi logo dito que se preparava uma alteração das tabelas de IRS, do IMI e de outros impostos e taxas, pelo que a haver alternativas as mesmas deviam ficar-se pelos 500 milhões da diferença, o que não está para acontecer.

    Não trocou nada por nada, quando muito enganou toda a gente com uma habilidosa cortina de fumo e foguetório q.b..

    Quanto ao que o PS disse, é que a proposta da TSU era inaceitável e imoral, e que se o governo a pretendesse levar em frente apresentaria uma moção de censura.

    E era imoral por ser um retrocesso civilizacional e levaria à destruição da relação entre trabalhadores e empresas.

    Tentar misturar conceitos com rendimentos é no que dá.

  18. Há um qualquer problema de comunicação, só pode. Teófilo, sou contra a baixa da TSU para sustentar empresas e sou contra o assalto fiscal feito aos contribuintes para financiar algo insustentável. Defendo a queda deste governo. Simples e objectivo, não vejo problema.

    Não há pirueta retórica que consigam justificar a razão porque o PS defendeu uma moção de censura se insistissem na baixa da TSU e não defende as moções que criam censura claramente o assalto fiscal que vivemos e que irá piorar. Você defende o “conceito” de assalto fiscal que retira os rendimentos aos portugueses e que resultado, aliado a políticas recessivas, nos criminosos resultados orçamentais deste ano? Se não defende, parece, com a sua “abstenção violenta” ou com redopios palavrosos para explicar o inexplicável.

  19. Eu, quanto à TSU já nem falo, pois nem a entendo, nem concebo transferências de verbas destinadas ao pagamento de prestações sociais para serem entregues a empresas, seja ele o destino que lhe quiserem dar.
    Quanto ao assalto fiscal, sou contra, porque entendo que não nos leva a lado nenhum, que é apenas uma maneira de sacar dinheiro onde já não há, e que se destina não se sabe a quê.
    Não gosto de abstenções, mas não podendo concordar com certos textos, aceito o sacrifício da abstenção para não me juntar à direita bronca a ter de votar contra os mesmos.
    Se o BE ou o PC queriam vê-las votadas pela esquerda em conjunto tinham simplificado a moção, mas, infelizmente, nem eles se entendem, pois cada um não está a olhar para o país mas apenas para a sua agenda política.
    Ou será que queriam ver o PS a apoiar uma moção onde se fala no “pacto de agressão, assinado por PS, PSD, CDS” entre outras pérolas de estilo?
    A coisa é tão transparente que o texto da moção desapareceu do “link” do BE…

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