Gostei de ler ontem no Público a entrevista ao dono da Taberna da Rua das Flores, André Magalhães. Sobretudo a parte em que diz que a cenoura ralada nas saladas, tão habitual nos restaurantes portugueses, não faz sentido nenhum (chama-lhe “a coisa mais parva”). Para mim também não faz. Em minha opinião, usa-se e abusa-se da cenoura ralada, talvez porque dê mais colorido ao prato (mas se é para ser cenoura, porque não assada, caramelizada, grelhada? E se é para ser amarelo, porque não pimento assado?), enquanto, digo eu, se desprezam outros tipos de legumes e tubérculos (igualmente existentes no nosso território e clima), que poderiam introduzir uma maior variedade, que já tarda e seria mais do que bem vinda, nas nossas saladas. Regra geral, nos restaurantes de gama média e baixa, que são a maioria, a componente “saládica” resume-se à alface e ao tomate, com ou sem cebola, e normalmente com a bendita da cenoura crua ralada.
Os meus aplausos, pois, para o senhor Magalhães, que parece ser alguém autorizado, por ter falado nesta problemática de urgente resolução.
Sem querer, recuei ao Paleolítico
Fiquei hoje a saber que o meu regime alimentar, ao qual fui chegando através de experiências e tentativas de eliminação de reacções estranhas e incomodativas no meu corpo, anda muito perto do que se chama “a dieta do Paleolítico”. Eis a lista do que se deve e não deve comer ao abrigo deste regime (vai em inglês, foi retirada do Daily Mail):
DO EAT
Fruit
Apples, bananas, oranges, avocados, pears, strawberries, blueberries etc
Vegetables
Broccoli, kale, peppers, onions, carrots, tomatoes etc
Lean meat
Beef, lamb, chicken, turkey, pork, veal etc
Seafood
Salmon, trout, haddock, shrimp, shellfish etc
Nuts and seeds
Almonds, walnuts, hazelnuts etc
Natural healthy fats
Lard, coconut oil, olive oil etc
DO NOT EAT
Dairy
Milk, cheese, ice cream, butter, milk and white chocolate
Grains
Bread, pasta, rice, wheat, spelt, rye, barley
Processed food
Burgers, hot dogs, pizza, donuts, breakfast cereals, chips
Processed sugar
Soda, fruit juice, table sugar, candy, cake, ice cream
Legumes
Beans, lentils etc
Alcohol
Unless it’s distilled liquor – but no mi
Aí está. No fundo, nunca me dei bem com a civilização que põe milhões de vacas indolentes a deteriorar a camada de ozono para nos causarem artrites e que adoça e faz inchar o trigo com o reforço ilimitado do glúten.
Obviamente, a ideia que os promotores deste regime têm do paleolítico é totalmente mítica. Como muito bem dizem os cientistas seus críticos, o regime alimentar dos homens das cavernas era basicamente o que se podia arranjar e sobretudo variava conforme a geografia. Para se chegar ao regime constante da lista seria preciso tomar como modelo hominídeos que vivessem em locais paradisíacos, com animais de caça, peixes, florestas, vegetação variada, água abundante, etc. Assim, é para mim também evidente que a designação dada a este regime alimentar, algo apelativa, é mais um apelo ao regresso à natureza pré-industrial e pré-agrícola (uma quimera) e ao repúdio dos alimentos processados, a maior parte dos quais faz comprovadamente mal, do que a recuperação de um regime saudável, cientificamente comprovado, que terá sido seguido há milhares de anos e que foi lamentavelmente abandonado graças à maldita da agricultura. Na verdade, o que acontecia naquela altura, quando os conhecimentos eram escassos e os medicamentos inexistentes, era que a esperança média de vida não passava dos 40 anos (e, mesmo assim, há provas de que já havia artrites e tendinites) e que a maior parte das crianças efectivamente nascidas não passava dos 5, máximo 15 anos. Por mais que fossem as nozes e os veados consumidos e por menos que se cultivasse a terra. E que a situação assim continuou durante milhares de anos e até há bem pouco tempo.
No entanto, dito isto, homens das cavernas idealizados à parte e plenamente consciente de que quase ninguém hoje em dia tem o privilégio de comer carne de animais que vivam saltitando ou cirandando pelos bosques e prados, e com base na minha experiência, os alimentos que constam da lista do permitido têm boas razões para lá estarem, assim como os proibidos. No meu caso, tornei-me pré-histórica por acaso e sem saber do que alguns crânios de nutricionistas andavam a inventar e a aconselhar a gente como manequins e celebridades de Hollywood. Não pretendi emagrecer. Simplesmente fui eliminando alimentos que percebi me faziam mal (chegada aos cinquenta, claro) – na forma de inflamações musculares, dores de cabeça, reacções alérgicas – e, verifico agora, acabei a eliminar precisamente os que constam da lista dos “Do Not”, excepção feita ao arroz e às batatas (mesmo assim raramente no meu prato, para não perder a linha), e dos cereais, que consumo sem glúten.
Sei que o processo evolutivo da espécie humana não se faz uniformemente, que há organismos mais receptivos do que outros às mudanças alimentares, que há pessoas mais alerta ou menos resistentes do que outras, e sei também que há milhões de homens e mulheres no planeta que vivem muito bem e longamente sem nunca se preocuparem com o que comem. Mais: muitos milhões não sabem sequer se comem, pouco importa o quê. A possibilidade de escolha de regimes alimentares é um luxo incompreensível aos olhos de boa parte da humanidade. Mas não é por isso que cada um, onde quer que se encontre e com os meios de que disponha, deixará de procurar o bem-estar, com dietas páleo ou sem gorduras ou sem hidratos de carbono ou sem nada disso e com tudo. Até com cenoura ralada na alface.
A discussão dos gostos começa por ser uma discussão a sós. Connosco.
Enquanto na sociedade da abundância e do desperdício, as pessoas se vão inquietando com o que devem ou não comer, com o que faz mal, ou menos bem, com o que engorda e provoca colesterol, até, imagine-se, com o excesso de proteínas e de vitaminas, neste nosso mesmo mundo, neste nosso planeta, nesta nossa casa comum, há milhões que passam fome, passam sede, não têm acesso ao mínimo indispensável e, ESPANTO, milhares de crianças morrem diariamente de sub-nutrição. É assim esta nossa civilizada humanidade, o nosso egocentrismo, o nosso confortável bem estar, nosso e dos que nos estão mais próximos e que contam para nós. E todos vivemos tranquilos com isto. Quem está ao lado, que se lixe. Como é que dizia o outro? Que o mundo era dos espertos? Eu digo diferente: o mundo é dos cínicos e dos hipócritas, dos egoístas e dos predadores; dos imbecís e dos inconscientes.
Consolação: no final todos morrem, ninguém cá fica e, no final, vão-se todos embora tal e qual como chegaram: SEM NADA
Cada um coma o que quer. Mas eu não me sinto mal com dieta do paleolítico que não levo a rigor. Mas trigo e leite retirei e sinto menos inflamações ou dores e sem leite deixei de ter gosma . Gosma é catarro.
O bocado de cenoura e beterraba em farripas que acompanham o bifinho de peru grelhado, levam 15 segundos a fazer e não exigem que se lave mais um tacho ou frigideira, que se gaste mais detergente, e só consomem energia muscular humana (e não gás natural). É o nível zero de processamento.
Até a confeção grelhada (processamento nível 1) do bifinho é a mais económica. Não tem adição de gordura, poupando o consumo da máquina de lavar e de detergentes poluidores.
Os restaurantes são empresas. Visam o lucro… prefiro os ripados à comida de tacho, que é em regra muito menos saudável.
Mas… o que é que isto tem a ver com José Sócrates?
ainda não li o que diz o magalhães, vou fazê-lo já a seguir, mas assim à primeira reflexão parece-me uma discriminação à cenoura. adoro-a cozida e estufada. até porque não acho piada andar a diminuí-la em cru. no entanto, e nas nossas cozinhas de rua, faz mais do que sentido: antes mais um legume nos pratos do que menos um já que os portugueses são mais dados à substância.
viva a cenoura! :-)
não me ralo, é certo. mas onde é que ele fala das cenouras, cáspite?! deve estar tão ralada que nem se lê. :-)
Tem toda a razão! NÓS é quem deveríamos decidir o que comer e não nos deixarmos influenciar pelo neuromarketing e outras formas agressivas de nos meterem goela abaixo produtos cheios de agrotóxicos.
Como dizem os bons médicos, confirmados pelos relatórios científicos do NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE, eles não matam na hora, mas aleijam. Aleijam rins, fígado, pâncreas e vamos ter cancro e outras doenças quase incuráveis vinte anos mais tarde.
É um ótimo negócio para a indústria de química fina, que primeiro lucro como o cartel de agrotóxicos, depois com as substâncias que as ind.famacéuticas transformam em remédios. Remediam, mas não curam, criam dependência o resto da vida.
Noutros países muitos destes aditivos alimentares e agrotóxicos são proibidos, p.ex. nos Nórdicos. O que já não podem vender por lá, vendem aqui. Por que? O que fazemos nós? Consumimos sem pensar na saúde!
Olinda: Quando lhe perguntam de que é que não gosta.
Penélope, devemos estar a ler coisas diferentes. ou então é algo para ouvir a que eu não tenho acesso. agora estou mais ralada do que a dona cenoura. :-)