Estão lembrados de uma jornalista da TVI, casada com o patrão, que tinha por isso toda a liberdade para fazer do seu telejornal, por exemplo, sei lá, um tribunal para julgar pessoas de quem não gostava, com produção de «provas» e tudo, exceto advogados, deontologia, decência, inteligência e ah! também provas? Lembram-se dessa jornalista e dos seus momentos de ficção rasca, mas agressiva, em que que elegia para personagem principal do seu delírio, misto de justiceira e de guionista de novela, um político real, no ativo, cuja vida pretendia à viva força narrar e enlamear ao mesmo tempo? E lembram-se de como não olhava a meios para criar cenários credíveis – como os diretos do exterior da sede do Serious Fraud Office, em Londres, para manter o suspense de que um dia daqueles uma revelação absolutamente demolidora lançaria para sempre na lama, e na cadeia, o dito personagem? E lembram-se ainda de como a entusiasmada repórter de serviço acabou por se vir embora ingloriamente, ficando condenada a associar para sempre Elm Street à tarefa mais inútil, ridícula e humilhante da sua carreira? Pois, é essa mesmo.
Ao fim de uns anos em que nada de condenável foi apurado por quem de direito em relação ao tal político e em que, pelo contrário, ficou demonstrado à saciedade a tramóia que os inimigos políticos lhe montaram e o circo com que brindaram e entretiveram o povoléu durante anos até à chegada ao poder, os amigos do governo a quem a dita jornalista prestou tão diligentes serviços decidiram premiá-la abrindo-lhe a porta da televisão pública, embora começando por um programa de entretenimento. Mas, como era de prever, o concurso era uma primeira etapa. Soube-se agora que, em Setembro, cumprirá a segunda etapa, integrando um painel de debate político na RTP Informação. Debate político, repito e presumo. A terceira e última etapa ficará para as próximas legislativas. Será assim?
Ora, há, pelo menos, um português, o Nuno Azinheira, que escreve sobre televisão no DN, que vê em Manuela Moura Guedes cultura e inteligência e considera ótima e cheia de sentido a sua contratação como comentadora, não o incomodando nada que passe a pivô quando for conveniente. Trata-se, para ele, de um desperdício, a não utilização de tão competente profissional.
Nuno Azinheira (NA) tem toda a liberdade para gostar de quem muito bem entender. Porém, não deixa de me intrigar a base em que assentam estas suas opiniões:
NA considera então que 1) Manuela é desalinhada, 2) Manuela é independente (foi deputada do CDS), 3) Manuela pensa, 4) Manuela pensa diferente e isso provou ser positivo no passado e finalmente 5) a «irreverência» à custa do bom nome de outrem e substituindo-se à Justiça é perfeitamente aceitável em programas de informação sérios.
Francamente.
Mas continuemos e concluamos:
“Em primeiro lugar porque Manuela é uma mulher informada e culta e não uma bonequinha que se limita a papaguear o teleponto. Ora, a televisão precisa disso e o País não é tão grande assim que se dê ao luxo de ostracizar uma profissional com o currículo e o saber-fazer de Moura Guedes. Em segundo lugar, a RTP deu um bom tiro porque Manuela, sendo polémica e nada consensual, é mediática. E a televisão pública precisa(va) disso. O resultado está à vista: o Milionário segura mais de meio milhão de portugueses e já vai para a terceira edição.
Manuela, que é um espírito livre, vai agora integrar um painel de debate semanal na renovada RTP Informação que surgirá em setembro. A ideia é ótima e faz todo o sentido. É uma forma de voltar ao jornalismo. Não como pivô, mas talvez da forma mais útil e mais adequada ao seu estilo rebelde.”
Bom, por esta altura já devem estar tão surpreendidos quanto eu. De que currículo estará NA a falar? E que história é essa de «voltar ao jornalismo»? E o «rebelde», não é fofinho? Quanto ao mediatismo: dando de barato que MMG é mediática, e não me esquecendo da(s) razão(ões) por que isso acontece, que é(são) das piores do mundo, devo dizer que, das poucas vezes que me detive naquele concurso, fui obrigada a concluir que só os concorrentes e a expectativa do dinheiro a ganhar devem conseguir fidelizar alguém. A apresentadora é simplesmente um bocejo. Culta? Como é que era mesmo aquele provérbio cuja existência ela defendia?
NA será demasiado ingénuo ou antes demasiado míope? Ou nada disso? Se é tudo uma questão de audiências e a verdadeira qualidade não é critério, porque não transmite a RTP um Big Brother qualquer?
Nuno Azinheira; mais um avençado!
deixo aqui dois momentos culturais recentes da guedes
https://www.youtube.com/watch?v=Ohzxby6rtns
https://www.youtube.com/watch?v=40Sic2uPXr4
Quem ainda não se convenceu de que o país está entregue a uma poderosissima máquina anti-Abril, que é esta direita de maioria absoluta de “um Presidente, um governo e uma maioria”, pense neste “sinal dos tempos” que é a contratação de uma jornalista de arruaça (alguém sabe quanto ganha, numa RTP que passa vida a dizer que não tem dinheiro?). Já não há palavras para denunciar este “fartar vilanagem”. Os que ainda o podem fazer são sufocados, em cima da hora, para neutralizar o eco da sua denúncia ou do seu contraditório. Para um “Sócrates” existem quatro ou cinco Marcelos, com todo o tempo do mundo para desfazer o seu contraditório. O panorama das televisões generalistas é arrasador para as esquerdas, todas, agora que nem o PCP ou o BE deixaram de dar jeito para bater no partido da alternancia governativa. O PS ainda não entendeu que devia dar um murro sonora na mesa. Não vai dar. Esboroar-se-á com o está a acontecer com o Estado Social. Penso que a direita salazarenta nunca sonhou com estas facilidades e ingenuidades do PCP, do BE e do PS-Seguro & C .
voto obrigatório e consenso, não era mais prático regime de partido único?
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=736535&tm=155&layout=121&visual=49
Faço minhas a palavras da Maria Abril .
Lembrei-me disto
http://okayempatins.blogspot.pt/2010/06/sei-la-e-blandicia.html
Totalmente oportuno, Mdsol! Obrigada.