Integração à alemã

O ministro das Finanças alemão e o vice-presidente da Comissão de Defesa do Parlamento alemão assinam hoje um artigo no Diário Económico sobre a UE. O artigo é importante, dada a influência alemã no processo europeu. Em resumo, a sua ideia é continuarem a ditar o rumo da Europa no contexto de um núcleo restrito de países (o que lhes permite dar as ordens mais facilmente, no diretório), reforçar o controlo dos países considerados prevaricadores (o moralismo e o preconceito, sempre eles, como se os alemães fossem seres superiores) através da nomeação de um comissário com direito de vetar os orçamentos nacionais (imaginamos que alemão ou apoiado pela Alemanha, e portanto sob as suas ordens e conivente com os seus ditames) e, falando embora em mais integração, afastar qualquer hipótese de união política e de mais democracia na Europa, que afinal é só um mercado e sob o seu controlo (por exemplo, já que pretendem comandar, seria conveniente que se submetessem ao voto dos restantes europeus ou então que admitissem um governo europeu eleito; uma oligarquia assente na chantagem financeira é que não pode ser, meus caros).

Eis um parágrafo revelador:

Consideramos que a União Europeia (UE) deve concentrar-se essencialmente nas seguintes áreas: um mercado interno justo e aberto; comércio; moeda e mercados financeiros; clima, ambiente e energia; política externa e de segurança. Ora, só é possível alcançar um sucesso duradouro nestas áreas se os Estados-membros agirem ao nível europeu. Actuação idêntica se impõe face a desafios como a demografia e a escassez de mão-de-obra especializada. Precisamos de trabalhadores qualificados para sermos fortes e competitivos.

Mercado aberto para os alemães comprarem tudo o que interessa.

Moeda. O resultado da competência alemã. É verdade que também da carneirada que colaborou. A moeda, claro está, deve estar ao serviço de suas excelências, ou não será.

“Agirem a nível europeu?” Tem graça, porque neste mesmo artigo confessam que o princípio da subsidiariedade é o mais importante, parecendo ignorar, porque lhes convém, a interdependência da banca, da economia, etc. E, já agora, agir a nível europeu com base em que estrutura democrática?

“Desafios como a demografia e a mão de obra especializada?” “Precisamos de trabalhadores qualificados?” Quem? A Europa toda ou a Alemanha? Portugal e a Itália, por exemplo, não precisam? Precisam apenas de empobrecer? Não precisam de pessoas (demografia), de um ensino de qualidade e de trabalhadores qualificados? É por isso que Shäuble promove a situação atual, que favorece a fuga destes da periferia para a Alemanha?

Caros senhores: vão a votos na Europa toda. Se ganharem, escrevam todos os artigos, editoriais e constituições nacionais e tratados que quiserem. Até lá, passem bem e continuem a comer salsichas.

6 thoughts on “Integração à alemã”

  1. Esta pseudo União entre 28 paises da Europa, não passa dum enorme embuste em que muitos povos cairam. Há, alguns anos, se perguntassem a um qualquer português, ou doutra nacionalidade, se eram a favor do processo de integração europeia, a grande maioria mostrava-se favorável. Hoje com o conhecimento prático que existe àcerca das politicas desta “união” e seus resultados nos paises periféricos, tenho quase a certeza que a maioria seria contra.
    Assim se desperdiçou a oportunidade de construir o antigo sonho de alguns grandes Homens europeus, de uma Europa coesa e solidária, onde não existissem as antigas rivalidades que tanto sofrimento e dor causaram no último século A perspectiva que se desenha de novo, é a de uma Europa de países rivais e inimigos, com interesses próprios e sentido de exploração imperialista dos mais fracos. Oxalá que não venha tudo a terminar de novo dum modo dramático como aconteceu no passado, pois destes politicos que actualmente governam os diversos paises europeus pouco há a esperar. O seu maior defeito foi não terem aprendido nada com a História e estarem a repetir erros que tão caro custaram a todos.

  2. enquanto a direita mandar na europa,tudo vai continuar na mesma com a cumplicidade e o silencio medroso de alguns paises da europa ocidental e do leste,estes ainda numa fase onde o dinheiro entra a granel.e tudo que não cheire a comunismo é bom para eles.segundo alguns entendidos na matéria o maior problema foi a adesão à moeda única.

  3. «Um comissário com direito de vetar os orçamentos nacionais (imaginamos que alemão ou apoiado pela Alemanha, e portanto sob as suas ordens e conivente com os seus ditames)»?

    É capaz de ser essa a tal «pasta significativa» que Passos Coelho espera ver atribuída a Carlos Moedas.

    Que, diga-se em abono da verdade, já tem uma bem-sucedida experiência de três anos a executar o que a Alemanha manda, a perscrutar o que a Alemanha quer e a adivinhar o que a Alemanha pensa.

  4. penélope,peço desculpa pela deriva. voltando à “vaca fria” li agora esta noticia que passo a citar: é preciso proceder a negociaçoes substanciais imediatamente, sobre questões de organizaçao politica e de soberania no sudoeste da ucrania para proteger os interesses legitimos de quem ali vive. PUTIN. sem comentarios!

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