Hoje de manhã, no carro, ouvi, na Antena 1, Luís Montenegro, do PSD, dizer que, em caso de rompimento definitivo do acordo que estabelece a base de apoio ao Governo PS, não era obrigatório irmos para eleições. “Em tese, não é?”, dizia a jornalista e ele corroborou, acrescentando que, como o PS é actualmente minoritário no Parlamento, poder-se-ia formar um governo de coligação PSD-CDS com o apoio do PS. É claro, ó Montenegro! Como é que ninguém vê tal evidência? (Esta anedota já se encontra relatada aqui)
Percebe-se que as eleições são a última coisa que lhes interessa, dadas as sondagens. Então, dedicam-se ao anedotário, procurando convencer-nos de que ainda vivem na ilusão de que a vitória obtida em 2011 lhes vale para mais alguma coisa do que para darem o lugar a outros.
A questão é a seguinte: a tropa passista continua a ser actualmente o PSD; não há outra gente. Com ela, continuaríamos com as mentiras, com a submissão à linha única de pensamento austeritária, com a destruição da escola pública, da Caixa pública, os esquemas esquisitos na banca, com o desprezo pelo Estado social, de regresso à caridade e à emigração, etc. Além de que é difícil descortinar quem, na direita, com um mínimo de credibilidade, gostaria de se lhes associar. A estes, aos mesmos.
Por mim, podem continuar a manter o Passos como líder do partido e, portanto, da oposição. É a melhor garantia de que não haverá desentendimento à esquerda. O PSD tem dificuldade em perceber isto. Ou talvez não, pelo menos o PSD que ainda disponha de algumas cabeças pensantes, pois é verdade que, neste tempo de vacas magras para eles, alguém tem que estar na liderança e agradecem que esta direcção aprecie o sacrifício. Mas esta tropa está convencida de que a táctica passada da pulhice, da chicana e da irresponsabilidade os há-de levar ao poder de novo. Já são conhecidos, é impossível.
Penélope, não li o teu post mas, por falar em tristeza maior, em drama e tragédia ou em humor (negro) chamo a atenção para a parte politicamente substancial e, por isso, importante que se pode ler no artigo miserável assinado pelo Francisco Assis e que está no P. online de ontem.
Deixei estes comentários sobre o assunto, algures.
1/3 Quando li este artigo, e apesar de tudo, confesso que fiquei estupefacto com a deriva política de Francisco Assis. Começo pelo fim, pois nada tendo a dizer sobre o ponto 3 porque aparentemente se trata daquilo que consiste em fazer a lide doméstica (varrer, lavar, cozinhar e despejar o lixo). Sobre o ponto 2, no entanto, o nível de exposição aproxima-o de um plágio porque a argumentação sobre a FCSH parece clonada dos artiguinhos que a Helena Matos escrevinha para o Observador e que lhe servem para pagar as sopas, o cabeleireiro e, qual comércio justo numa madrassa onde impera a economia liberalona, para empolgar o espírito dos frequentadores da dita fundada por uma certa direita portuguesa. Nada a opor, claro, mas a comparação é reveladora sobre o nível intelectual de… ambos.
2/3 E sobra o ponto 1, na parte que é politicamente substancial. Começo por dizer que ele comprova a nula influência de Assis no espectro político português (à atenção da Sonae, que lhe paga o pilim!). Sem comentários, dois!, o que torna ainda mais denso, e de diversas formas, o que pensei escrever quando o li. Ou seja, sendo por uma vez excessivamente radical, imaginava eu cinematograficamente que no velório de Francisco Assis um qualquer militante anónimo filiado no Partido Socialista, ou um simpatizante do actual acordo parlamentar militantemente empenhado (eu que estou aqui à mão, por exemplo), não deixaria escorrer pelo rosto uma única lágrima ou não deixaria ficar uma rosa de despedida sobre a sua urna mas, antes, se lembraria de depositar um exemplar amarelecido do jornal da Sonae.
3/3 E porquê este azedume? Simplesmente porque, como disse (e bem!) o António Costa ainda recentemente dirigindo-se a Passos Coelho, as coisas são neste momento completamente claras de se ver: “Neste clima que lhe desagrada procura construir uma teoria de que há crispação, mas não há nenhuma crispação no país nem na Assembleia da República, o que há é uma bancada ressabiada pelo facto de ter falhado tudo”. Bingo! Transparente como a água, percebem-se pois quais são as agendas em confronto (PS/BE/PCP vs. PSD/CDS que se prestam a estas figuras sem terem um pingo sequer de… política!), e não restará mesmo nada para que o cidadão comum compreenda de que lado está distante o Francisco Assis.
«Basta assistir a um debate quinzenal na
Assembleia da República para perceber o
quão daninho pode ser o exacerbamento das
paixões partidárias. A partir de certa altura
os argumentos pouco contam, a retórica
decai até ao nível
do indecoroso,
o sectarismo
sobrepõe-se a
qualquer tipo de
preocupação crítica,
o dogma esmaga o
espírito de abertura
à compreensão do
outro, a palavra
torna-se o veículo do
ensimesmamento
ideológico. É
penoso observar
a transmutação
de grupos
parlamentares em
claques agressivas,
como se uma lógica
tribal sobrelevasse
inteiramente a mais
pequena vontade de
discussão racional.
O grau de
confrontação atingido entre os dois
principais partidos políticos portugueses
não serve os interesses últimos da nossa vida
democrática. Projecta, aliás, uma influência
nociva em toda a vida cívica nacional e
tem, como é óbvio, um efeito devastador
no interior destes partidos. Um ambiente
desta natureza constitui o caldo de cultura
mais favorável para a afirmação hegemónica
das correntes mais extremistas de ambos
os lados. É vê-los ululantes e desvairados ao
lado dos respectivos líderes.»
Público, 9.3.2017, p. 52
quem é este bicho, luiz montenegro ? também é juís ?