Fixem bem: já citamos Ricardo Arroja

Sobre a subconcessão dos EN de Viana do Castelo, e assente a espuma das explicações de Aguiar Branco (os jornalistas de serviço à conferência de imprensa de ontem estavam francamente hipnotizados ou tinham-se esquecido de estudar o assunto), há amigos do Governo que não deixam de estranhar a decisão e o processo.

Isto dito, parece-me ilógico que o Estado se revele disponível para injectar de imediato 30 milhões de euros, com a finalidade de financiar despedimentos, e sanear de uma só assentada, uma empresa cuja subconcessão até 2031 lhe renderá apenas um total de 7 milhões (um montante nominal que apenas será real se a renda paga pela concessionária for actualizada anualmente à taxa de inflação). A operação só faria sentido se o valor actual das rendas fosse superior aos custos de liquidação ou de saneamento da sociedade, incluindo as indemnizações laborais – o que não parece ser o caso. É, pois, motivo para questionar: assumindo que os concorrentes eventuais sabiam que o Estado estaria na disposição de suportar o legado laboral dos ENVC, permitindo o seu redimensionamento (e lucro?) imediato, por que razão não conseguiu o Governo atrair mais interessados para a subconcessão? E, por conseguinte, não tendo conseguido maximizar o valor da renda, por que razão avançou o Governo? Com os dados que são públicos, o Executivo teria feito bem em proceder de imediato com a reestruturação orgânica e financeira dos ENVC, conforme previsto já pelo anterior Governo, aguardando no entanto por um veredicto definitivo sobre as ajudas de Estado, e só depois avançando para a reprivatização ou para a subconcessão.

5 thoughts on “Fixem bem: já citamos Ricardo Arroja”

  1. Tudo isto é muito fácil de entender. Vamos por partes.

    A partir de agora a Martinfer passa a ter onde ir buscar os soldadores de que precisa, para erguer torres de aerogeradores e outras estruturas em aço, e que não tinha onde ir buscar. São o última grande concentração de operários especializados em metalomecânica pesada que o norte do país (ainda) tem. Tal como o palheto do merceeiro Evaristo, no filme “A Canção de Lisboa”:

    — Deste, não há mais!

    Assim serão os últimos moicanos oferecidos à Martinfer, a preço de saldo; o Estado português — isto é, o Zé Tuga — fica a pagar as indemnizações de despedimento para que os trabalhadores possam, depois, ser subcontratados precariamente pelas subcontratadas da Martinfer… É genial para a Martinfer, mas negativo para o país.

    Todas as empresas portuguesas de metalomecânica pesada e construção naval que tinham escolas de formação ou foram desmanteladas (casos da Mague e da Lisnave) ou estão em estado de hibernação (casos da Setenave e dos EN de Viana do Castelo). Não houve, como na Coreia do Sul, reconversão a técnicas de produção mais modernas. Houve desmantelamento, puro e simples.

    A culpa dessa situação recai na adesão ao euro, como sabemos ou deveríamos saber. Enquanto a Coreia do Sul enfrentou (após a crise financeira de 1997) uma desvalorização da sua moeda de mais de 50%, nós suportámos um processo inverso. Isto tornou pouco competitivas as indústrias de mão-de-obra intensiva mais qualificada.

    Como ninguém fez o que se deveria ter feito, em 2011, falta agora pouco tempo, muito pouco tempo, para ficarmos um país cuja mão-de-obra não estará à altura de suportar a indústria pesada. Em termos deste tipo de indústria, estaremos em breve ao nível dos sul-americanos.

    Os principais culpados políticos desta situação foram os governos do partido laranja; a começar pelos de Cavaco Silva.

  2. joaopft,a martinfer já vai há muito tempo buscar mão de obra aos estaleiros de viana, para fazer os seus barcos.quanto à formaçao profissional,falo da de soldadores,que permitiu a muitos que lá se formaram trabalharem em estaleiros e plataformas petroliferas em muitas partes do mundo a ganhar pipas de massa.

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