Ir ver o último filme de Ridley Scott, com argumento de Cormac McCarthy, depois de ter visto a admirável série «Breaking Bad» não lembraria ao diabo. O problema é que me lembrou a mim. Resultado: a memória fresca da série fez bailar todo o tempo na minha cabeça a seguinte pergunta: terão Scott e McCarthy visto a série? Se não viram (coisa em que não acredito), deviam ter visto… e aprendido. Se viram, o filme não passa de uma reles imitação de cenas de antologia construídas por Vince Gilligan (eu sei que algo de semelhante existe na realidade e que este autor não tem o exclusivo da sua narrativa, et pourtant…) e, pior do que isso, do seu aproveitamento comercial no grande ecrã, agora que sabem que “está na moda”, para vender os fetiches de McCarthy – sangue a jorrar em primeiro plano, cabeças sem corpo e vice-versa, técnicas de assassínio macabras mas sofisticadas aqui – utilizando grandes vedetas da atualidade, como Brad Pitt, Penélope Cruz, Xavier Bardem, Cameron Diaz e Michael Fassbender. Ou seja, os dois juntaram o útil ao agradável, a fome com a vontade de comer. Mas o filme é francamente mau.
Fassbender, o “Counsellor“, é um erro de casting total (e como eu o acho um excelente ator!). Não só não tem perfil para aquele papel, como o próprio papel, ou seja a personagem que interpreta, é um absurdo total. Não tem pura e simplesmente cabimento num contexto daqueles. Caberá na cabeça de alguém um advogado filantrópico e cheio de bons sentimentos, amante perfeito, fiel e sincero, estabelecer uma sociedade com um safado e debochado de um líder de cartel (Bardem), sem ter a mínima noção de onde se está a meter? Cartelista esse igualmente sinceramente apaixonado, mas por uma sabidona de uma Cruela (C. Diaz), ex-bailarina, capaz de fazer a espargata, semi-nua, sobre o pára-brisas de um automóvel, e que, nas horas livres de sexo, controla toda a pirâmide do tráfico e se sai a rir de toda a gente, tal filme de série B? Escusado será dizer que há margem para Bardem se sentir inseguro, apesar do ar esgroviado.
Nada tenho contra a denúncia pelo audiovisual da violência extrema que grassa naqueles perímetros fronteiriços que mais parecem vespeiros. Mas, mais uma vez, há muito de gratuito na maneira de o mostrar neste filme. É um exercício plástico. Nada ali é contextualizado e o discurso pseudo-moralizante, qual coro grego, “intelectual” e “profundo” de Brad Pitt num meio como aquele quase não se acredita. E no entanto ele fá-lo muito bem.
eu não vi nada daquilo mas este filme que acabaste de contar vi todo e surgiu-me uma dúvida: será que os pés ficam muito fora do vidro do carro ou acompanham a largura do pára-brisas? :-)
outro embuste “cinematográfico”. tudo ao contrário do que é o césar monteiro.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/carta-aberta-sobre-joao-cesar-monteiro-lido-por-um-politico-anuncio-feito-pelo-produtor-paulo-branco-1612559
A isabel moreira devia seguir o exemplo do poiares maduro e não entrar nestas palhaçadas marketeiras do p.branco. o césar deve estar a rebolar-se, nem quero pensar nos adjectivos que lançaria. Enfim, sempre é mais um momento de protagonismo à conta alheia.
Olinda: O pára-brisas é suficientemente amplo.
pára-mazé de exibir a pelingrafia da desdentada, parece um anúncio de sexo com taxímetro.
edie, o verdadeiro artista faz tudo em nome da arte e a criatividade não presta contas a ninguém. quanto chegam as facturas, o artista não sabe do que se trata, nunca deu por isso, sente-se oprimido e incompreendido.
depende do artista, ignatz.
estava referir-me a gente que está armada em artista à pala do defunto e que a única coisa que sabem do dito é que era contestatário; pois: era bué contestatário deste tipo de palhaçadas e a isabel (qual anita vai às compra, anita diz poesia) ainda diz que há uma clara empatia entre a escrita do joão césar e a sua (ai mãe). Já estou como o filho, ajudem mas é a recuperar os negativos dos filmes.
Quanto à incompreensão, ignatz, não fiques triste: eu entendo-te. olha, cá vai à tua.
http://www.youtube.com/watch?v=6DiwN1LHfOU