Como é, portugueses?

Não vai haver eleições para já, mas a associação recreativa que nos governa e que gravita em torno de uma espécie de professor Pardal das Finanças, está a colocar-nos em sérios apuros. Gorado o seu único plano, é tempo de outros assumirem posições claras e alternativas quanto ao futuro do país, com vista a dele tomarem conta. Do que observo, há quatro em cima da mesa.

Primeira – Posição do Governo. Mantemo-nos no euro. Cumprem-se à risca os ditames da Troika, usando-se mesmo uma fórmula mais ousada para demonstrar empenho e saber. Crença de que, quanto mais depressa e profundamente empobrecermos, mais depressa deixaremos de ser pobres. Se a situação se aproximar de níveis sem regresso (horizonte atual), nenhuma alteração se reivindica, para não incomodar quem tão generosamente nos recompensará depois. Espera-se que a Alemanha ajude, pelos nossos lindos olhos. Se a situação piorar indefinidamente, espera-se que a Alemanha e a Troika ajudem indefinidamente. Não será assim. Não só a Alemanha não ajuda indefinidamente, porque sabe fazer contas e nunca viu beleza especial nos nossos olhos, aliás nem reparou que os temos, como há outros países em apuros, e são cada vez mais e maiores, ameaçando a própria existência da moeda única. Assim a Alemanha veja que já recuperou o suficiente dos empréstimos ao sul e … “aufwiedersehen”. Perspetivas: negras a curto, médio e longo prazos. Possível sentimento da população: pertencer a um clube de ricos para sermos os limpa-chaminés não se justifica. Acabaremos fora do euro ou seus escravos.

Segunda – Posição do atual PS. Mantemo-nos no euro. Cumpre-se em geral o acordado inicialmente com a Troika, procurando não matar totalmente a atividade económica (talvez agora já seja tarde). A situação não é famosa, as previsões também não; convicção de que só melhorará com uma renegociação das condições do acordo. Forte aposta numa mudança de rumo da liderança europeia, que, no entanto, demora a produzir efeitos concretos. Aqui a hipótese bifurca-se: ou a Troika aceita rever o acordo (os prazos, os montantes, algumas medidas, etc.) e faz-se nova tentativa – perspetivas: cinzentas, mas com boas abertas a médio prazo; ou a Troika e sobretudo a Alemanha não aceita renegociações (como parece estar a dizer à Grécia), mantém o rumo atual e impõe mais medidas de austeridade até não restar no retângulo homem e mulher sobre pedra, uns porque morreram, outros porque fugiram. Perspetivas: regresso à Idade Média.

Terceira – Posição, imagino, de parte do PS e eventualmente do Bloco. Declaramos a nossa vontade de nos mantermos no euro, mas ameaçamos sair, caso não nos sejam dadas melhores condições para cumprirmos os nossos compromissos. Aposta no receio e na impreparação da Alemanha para resistir ao efeito sistémico. Das duas, uma: ou essas condições são-nos dadas e repete-se o que já foi dito mais atrás, ou não nos são dadas e saímos do euro. Grande caos inicial, enorme fúria da Alemanha (confessemos que nos daria gozo), consequências para a Europa imprevisíveis (com dados da hora atual), mas… regresso à nossa moeda e à nossa independência, e recuperação da economia provavelmente assegurada (ao contrário do cenário “euro-acorrentados”). Não seríamos os únicos na Europa. Perspetivas: negras e agitadas no imediato, cinzentas logo a seguir, com um rosa a espreitar, apenas ensombrado pelo que entretanto se passar na restante Europa, da qual fazemos geograficamente parte (conflitos sérios não estão excluídos).

Quarta – Posição potencialmente existente, mas sem defensores claros. Comunicamos desde já que o euro não nos interessa nestas condições e saímos, assumindo o nosso destino, tendo de recorrer igualmente ao FMI, mas agora com moeda própria passível de desvalorização. Possibilidade de acordos de financiamento com BRICs e outros, que exigirão contrapartidas também. Abandono do clube Euro, no qual, para todos os efeitos, já ocupávamos uma posição totalmente irrelevante, subalterna e em afundamento.
Não arrisco dizer que é esta a posição do PCP. Do que conhecemos deste partido que não seja a função de agitação, sobretudo contra o PS, nenhuma posição é aceitável se não forem eles – o povo e os trabalhadores – a assumir o poder “contra o grande capital”, sendo que todas são aceitáveis desde que assumam o poder. A sigla BRIC para o PCP seria, no entanto, BRICCC, pois incluiria a Coreia do Norte e Cuba, países que, estranhamente, não são emergentes, mas submergentes.

As três últimas posições, para vingarem, exigiriam a proximidade de eleições, mas nada impede os partidos de assumirem a sua defesa mais cedo, e em função do evoluir da situação, por uma questão de clareza perante os eleitores. É claro que qualquer das três exige líderes fortes, convictos e convincentes, caso contrário o discurso do medo em que assenta a primeira posição levará a melhor. E, no entanto, os resultados do rumo seguido estão bem à vista de todos.

5 thoughts on “Como é, portugueses?”

  1. acho que aí a frase chave é “Não vai haver eleições para já”. Logo, não me parece que tenhamos assim tantos cenários à escolha. Ganha a Primeira. A não ser que a contestação social, tão típica dos portugueses, seja de tal dimensão que haja que pôr mão na coisa e contar com o independentíssimo PR para dissolver a assembleia.

  2. Mais parece um apelo à aliança PS/BE.
    Depois de tão criticado o PCP por defender a renegociação da dívida, já todos começam a acolher a proposta, fingindo que não o fazem e insistindo que o PCP não apresenta alternativas.
    A verdade é como o azeite!

  3. eu, por acaso, acho que o PCP é dos mais activos na apresentação de alternativas: a que teve mais impacto, nem foi assim há tanto tempo, ocorreu nos idos de Março de 2011.

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