Sem noção de que está a imitar os trumpistas, o Tavares João Miguel prossegue hoje a sua caminhada rumo à normalização do Chega. Diz ele:
[…] Continuarmos com esta conversa [de que os potenciais 10% de votantes no Ventura são deploráveis] é não perceber nada do que está em jogo, nem a insatisfação profunda do eleitorado, como António Barreto explicou admiravelmente no artigo “Perceber”. O nosso regime democrático e a nossa cultura política estão a deixar demasiada gente para trás. Ventura não é o bólide dos fascistas — é o carro-vassoura dos abandonados pelo sistema.
A ideia de que essa insatisfação se combate com cercas sanitárias, ilegalizações partidárias ou caras de ai-que-nojo é de uma ingenuidade absurda. Ventura combate-se com melhores ideias — como Marcelo ou Tiago Mayan provaram nos debates — e com melhores políticas do que aquelas que temos visto em Portugal. Quem vota em Ventura não está a dizer que gosta do Chega. Está a dizer que não gosta do estado a que a política portuguesa chegou.
É fulcral perceber a diferença entre uma coisa e outra.
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Se virem bem, é todo um rol de “déjà-entendus”, estribilhos hoje na moda entre os neo-populistas, proto-fascistas, fascistas assumidos, oportunistas e gente sem escrúpulos em geral em alguns países ocidentais, entre os quais a América. Ele é os “abandonados pelo sistema” – que alegadamente votam no Ventura (também no Trump. É igual. Coitadinhos dos abandonados); ele é “a profunda insatisfação do eleitorado” – razão do sucesso do Ventura (olhe-se para aquele eleitorado do Trump que invadiu o Capitólio “profundamente insatisfeito com o sistema”, não é? Há que lhes dar voz, então não é?); ele é a “gente que fica para trás” devido ao regime democrático (mas quem? Os saudosistas do Salazar e das ditaduras? Os vigaristas vários que acolitam o Ventura? Os alucinados da QAnon? Os racistas? O regime democrático deixa-os para trás e isso é uma pena?); ele é ainda “o estado a que a política portuguesa chegou” (cá está, os direitolas passistas do Observador adoram esta frase, os trumpistas dizem o mesmo dos democratas).
Mas qual estado, senhores? Estamos assim tão mal? Sentem-se asfixiados? Porquê? Têm jornais, dizem o que querem, têm total liberdade económica, o que é que vos falta? O poder? Claro, isso não têm neste momento, mas é honesto falar, por causa disso, “no estado a que a politica portuguesa chegou”? Qual seria esse estado com esses vossos crânios? Hem? Com os do Rio, do Ventura ou do Passos.
Sim, sim, estou a achar-me parecida com o rapaz do vídeo que ontem publiquei. E estou a gritar. Mas eu avisei. É que não há pachorra para esta conversa. O Tavares está insatisfeito porque os seus amigos da direita não estão no poder e ama o Ventura porque ele diz estar descontente com o mesmo. Só que esta confraria de descontentes não deixa de ser uma amálgama perigosa, como se está a ver nos States, com a triste figura da maioria dos republicanos.
É um texto, mais um do caluniador profissional, completamente possidónio.
Que exagero.
Esquece dois minutos o autor, por favor, e repara que o que ele diz é relativamente audivel. A voga dos Trumps, do Chega, dos partidos de extrema direita na Europa, tem de facto a ver com o desnorte duma parte cada vez mais importante do eleitorado que considera que não encontra mais resposta nos partidos tradicionais. Vejam o caso da Italia, o Salvini chegou ao poder ao colo do partido 5 estrelas, um partido “anti-sistema” que tentou capitalizar os votos das pessoas que não se consideram representadas pelos partidos tradicionais, uns porque se julgam reféns do TINA, outros porque não se revêem num sistema em que tudo o que implica aumento da despesa publica, mesmo que com um aumento correlativo da receita publica, é proscrito como se se tratasse duma perigosa heresia, outros ainda porque se convencem que tudo o que cheire, mesmo de longe, a protecionismo, não tem a minima hipotese de ser aceite.
Podemos discordar, ou achar que afinal existem excelentes razões para escolhermos outro caminho, mas é perigoso que o sistema politico não ofereça nenhuma real alternativa e é verdade que isto empurra objectivamente os insatisfeitos para votos de protesto que dizem mais acerca do que eles repudiam do que acerca do que eles querem. Talvez isso seja menos visivel em Portugal, onde uma coligação de esquerda, e hoje o PS, beneficiaram (antes do COVID) duma boa conjuntura economica, mas aqui em França, é um facto que a politica seguida por Hollande não foi assim tão diferente da do Sarkozy que estava la antes dele, nem da do Macron que veio a seguir. E tanto o Sarkozy como o Hollande como o Macron apresentaram-se aos eleitores como uma rotura com o passado. Isto é perigoso, porque é ressentido como um confisco da democracia. As pessoas têm de ter a noção de que quando votam, podem de facto decidir alguma coisa.
E’ claro que ha sempre irresponsaveis, sonhadores perigosos, ressabiados cronicos, e patetas imaturos para a democracia. Isto é inevitavel. Mas quando os 15 % de descontentes estruturais, a distribuir equitativamente pelos dois extremos, passam a ser muito mais mumerosos, então o risco que eles possam entornar o caldo deixa de ser despezivel e é tempo de nos preocupar. Isto não quer dizer que as reivindicações indignas dos extremos devem passar a ser aceites. Quer apenas dizer que quando a parte dos grandes insatisfeitos alcança ou ultrapassa os 30 %, então é responsavel, e importante, olhar para o sistema politico e procurar saber porque é que uma parte tão importante da população deixou de encontrar uma forma de respiração atravês dele. Não tenho a certeza de que, em Portugal, tenhamos atingido este patamar. Mas sei que nunca é demasiado cedo para se precaver contra o risco.
Eu, modestamente, faço a hipotese que o texto que citas não quer dizer muito mais do que esta aqui em cima, que me parece de bom senso. Mas é verdade que me limito às palavras que transcreves…
Boas
João Viegas: Vejo que menosprezas o grande talento para a manipulação que estes vendedores de banha da cobra possuem. Pegam em duas ou três coisas que podem atrair os mais incultos ou mal formados, martelam e martelam, rodeiam-se de vigaristas como eles e, como não têm qualquer escrúpulo, soam como diferentes e muito decididos e essas pessoas acreditam que os podem levar ao céu. É a receita das seitas religiosas. Nada farão de diferente para melhorar a vida das pessoas.
E assim, a pouco e pouco, devagarinho. com reservas mas muita compreensão auditiva, lá se vão branqueando as espertezas do tal Tavares (não só dele, infelizmente).
Más
Penélope e Manojas,
Não passo a minha vida a ler o que ele escreve, mas até agora, não vi nada que me levasse a ter grande consideração pelo Tavares. O que ele diz de acertado é trivial e não é levado às suas consequências, as alarvidades nunca estão longe, etc. Mais uma razão, julgo eu de que, para não o criticar quando calha acertar… A não ser que queiramos entrar na logica bairrista que ele denuncia (no texto acima), com alguma razão, como sendo o fermento do populismo : “se não concordo contigo, então és o diabo, e por conseguinte tudo o que tu possas dizer é por hipotese estupido e de repudiar”.
Talvez seja deformação profissional mas, pessoalmente, sempre aprendi muito mais lendo aquilo que de inteligente dizem aqueles que não pensam como eu, sem no entanto que eles me façam mudar de opinião, do que nos aplausos e elogios babosos àqueles que escrevem aquilo que eu ja pensava antes de os ler.
Boas
viegas, vai dar banho ao cão.
tudo o que escreves é aceitação maizómenos encapotada da conversa da extrema-direita e subvalorização ou desculpa dos seus interpretes, do ventralhas ao trump é tudo malta porreira, excessos linguísticos, liberdade de expressão e em último caso a culpa é da esquerda que criou condições para a sua existência. passas o tempo a vender reaccionarice a retalho e chamas-lhe “inteligência daqueles que não pensam como tu”, só falta escreveres que o agá do adolfo queria dizer humanista.
Dou-te banho quando quiseres, querido Inacio. Estamos todos à espera que nos expliques o que esta fundamentalmente errado no trecho citado, mas ja sabemos, é mais facil ladrar… Quanto a chamares-me fascista, estas à vontade, ainda não atingimos o equilibrio em relação às vezes que me acusaste, aqui mesmo, de ser um reles comuna radical adepto da “esquerda pura”.
Um beijo e bom ano para ti !
Boas
“… ser um reles comuna radical adepto da “esquerda pura”
não me lembro de ter dito isso, mas isso de se fazer passar por “esquerda pura” é uma táctica reaccionária para vender o peixe facholas. bué de semelhante ao tradicional/rústico: “não gosto do sócras, mas até votei nele para o primeiro mandato” para entrada de mais um broche ao ministério público.
https://pt.wikihow.com/Tratar-e-Prevenir-Chatos-(Piolho-Pubiano)
O “não gosto do sócras” é acrescento teu. Quando me mostrares onde é que eu ja disse alguma coisa que se pareça com isso, mostro-te as tuas indignações perante a ousadia esquerdista irresponsavel dos meus comentarios que lembram que os direitos liberdades e garantias, existem mesmo quando o PS esta no poder.
bjs
o ventura não criou discurso nenhum , nem pegou em cenas para atrair bla bla bla , o ventura cavalga a vox populi , resultante da constatação que trabalhando e sendo produtivo jamais subiremos na vida ….e vendo os politicalhos a viverem à grande enquanto ” a pobreza extrema e desigualdades” – o V escreveu , logo existe -, resultam no candidato Tino. A Igreja católica foi à vida assim ,pela incoerência entre teoria e prática , por que não iria a democracia ? só é estranho terem demorado tanto tempo a aparecer estes tipos , porque a bandalheira total dos “representantes ” já começou há praí 3 ou 4 décadas.
3 vezes o monte , para o qual dizem que todos devemos trabalhar que ospois os iluminados redistribuirão de forma fenomenal resultando na riqueza colossal do país , desapareceu. 3 , três , 3 vezes , nada mais nada menos : que é do monte???? olha , foi-se .e nós não saímos da cepa torta com aumentos sucessivos de impostos. e nem aquecer as casas como deve ser podemos. e anda tudo calçado pq o chinês vende saparos a 1 euro…
pois, aquilo é a sintese do comentário rústico/facholas que tu ptraticas e agora armas em desentendido. semelhanças com os métodos ventralhas/trumpalhada são só coincidências semânticas. andamos todos a comer gelados com a testa e não alcançamos a profundidade do pensamento viégaz, afinal um grande admirador do sócras, malgré umas discordanciazitas que o trazem aqui sempre que lhe cheira a mafarrico.
joão viegas
11 DE JANEIRO DE 2021 ÀS 14:34
Vieira,
Não pretendi bater em ninguém, e muito menos numa porta. Para mim, o José Socrates é anedotico. Concordei com algumas coisas que ele fez (até cheguei a votar nele),
É claro que há gente que fica para trás, abandonada pelo sistema! O problema é quem se diz de esquerda sentenciar que ” populismo é mau”. Uma dose forte de populismo diádico e zero populismo triádico fariam maravilhas pela saúde da comunidade. E muito mal à saúde da economia política que diz Chega!
Descansa, Inacio, que eu não te confundo com o comentador das 15:34 mas, para todos os efeitos, e para ilustração de quem aparenta ter dificuldades de leitura, esclareço que o facto de eu afirmar que o Socrates é para mim indiferente (ou , se fosse o caso, de eu não me declarar “grande admirador” do dito), não equivale, nem de perto nem de longe, a afirmar que eu “não gosto do sócras”, o que eu nunca disse, nem escrevi, expressa ou implicitamente.
Boas