Não é que este governo não tenha tido tempo para se sentar, como vaticinava Teixeira dos Santos. Sentou-se e bem. Tudo o que fizeram, contratações diárias, cortes atrás de cortes, nomeações de amigos e apoiantes, puderam perfeitamente fazê-lo sentados, tranquilamente e sem grande esforço. O pote oferece belos sofás. Como anunciaram, era e está a ser um prazer aplicar um programa externo desta natureza. Entretanto, mesmo que quisessem desentorpecer as pernas e ir até à rua, um local em que se anda normalmente de pé, não podiam, ou cada vez menos o podem, tais os apupos diretos e enxovalhos matutinos com que são brindados, se tiverem tido a ideia de abrir a boca na véspera. Logo, mais uma razão para permanecerem confortavelmente sentados.
O ministro Crato «has a dream», mas um sonho de retrocesso, e aproveita os cortes orçamentais para repor a escola elitista e classista de antigamente, seguindo as suas memórias de lisboeta da classe média, mas metendo 30 adolescentes em cada sala de aula. Dificulta o trabalho na escola pública e ajuda assim os privados, o que, de certa forma, é um contrasenso face ao seu espírito revivalista. O ministro Gaspar, com as suas teorias «thatcherianas» fora de tempo, abre buracos atrás de buracos, que alguém vai ter de tapar. Saldo da Segurança Social? Prestes a ir à vida. Aumento do IVA? É já a seguir. Despedimentos na FP? Vão começar. Aumento da recessão? Consequência lógica. Serviços públicos? Impossíveis de gerir, disfuncionais e prontos a serem liquidados. Gaspar ignora o país, com o qual, aliás, parece não se identificar, ocupando-se com somas e subtrações que nunca podem bater certo. Conseguirá pôr o país a produzir para cumprir os seus compromissos e a financiar-se a juros decentes? Quando estivermos todos mortos, quem sabe?
Na Defesa, Administração Interna, Ambiente/Agricultura, etc., nada se faz, logo haverá toneladas de medidas a tomar depois (alguém viu Miguel Macedo ou Assunção Cristas enquanto o país ardia? Pareceu-me vê-la, a ela, animada num comício do CDS nos Açores). Portas passeia-se, segue a estratégia e colhe os louros das conquistas de outros e distancia-se o mais que pode das confusões de São Bento e São Caetano. Relvas, com um pé dentro e outro fora, prepara com azáfama o seu futuro no privado, de que Passos beneficiará se o proteger entretanto. Mota Soares, sob o lema da caridade, enlata velhinhos e crianças em lares e creches e consagra um novo sinónimo para «pobre» – malandro/mandrião. Passos é o vazio total, apenas uma voz bem timbrada e até imprópria para as grosserias que profere. Algo não bate certo. Foi um erro não ter ido trabalhar com o Filipe La Feria. Conta com Gaspar para o conteúdo técnico e com Relvas para a estratégia política. Ambos estes suportes se estão a desmoronar.
Com estes atores assim dispostos no palco, pagamos ao menos o excesso de dívida? Não, não pagamos. Agravamo-la. Essa é a parte dramática. O país está a ir pelo cano, ao som de elogios, mas a ir.
Parece-me que quem não terá tempo para se sentar, tal a quantidade de medidas que vai ser preciso tomar para corrigir os desmandos destes incompetentes e civilizar o país, será o próximo governo.
Com dois semestres de liderança, António José Seguro nada tem feito para provar que é uma boa alternativa. Se mais nada fosse, o facto de as sondagens continuarem a dar ao Governo maioria absoluta no meio do descalabro a que estamos a assistir e da incompetência e vacuidade que revelam os seus membros devia levá-lo a pôr o lugar à disposição, ou ser forçado a tal. Sei que, estando a situação na Europa por definir – mantém-se o euro, não se mantém o euro, sai a Grécia, saem os do sul, não sai ninguém, morre tudo, salvam-se alguns, reduz-se a zona euro, etc. – não é apetecível assumir a liderança da oposição com vista a um futuro governo. Mas o contrário não pode ser a inexistência de oposição e o eterno «bluff» de Seguro: ira-se por vezes, mas na prática pactua. Não há qualquer interesse, nem para o partido socialista nem para o país, em andar a negociar ou a celebrar acordos ou pactos com os farsolas e incompetentes que nos governam, quando estes têm maioria absoluta e, ainda por cima, aplicam uma receita objetiva e comprovadamente desastrosa. Manter Seguro à frente do PS é destruir a credibilidade do partido e das pessoas competentes que tem e empobrecer a democracia.
Exactissimamente.
Vai manter-se à frente do PS.
Só sai se perder as autárquicas ou se arrastar o PS para um governo de salvação. Caso contrário, mantém-se como Ministro da Oposição e ainda chega a PM. Afinal continuamos a viver o tal tempo em que tudo o que é medíocre, vai ao poder, ou vende que se farta, ou lidera audiências. Democraticamente!
Amen!
Que resumo tão tristemente certeiro. E não se pode tirá-los de lá, por causa da legitimidade conferida.
(ressalva: no Ambiente/Agricultura não se faz nada? Mas a Cristas disse que já tinha os quadradinhos quase todos preenchidos, só faltavam dois por culpa de uns parceiros mais teimosos).
Quanto ao retirar do Seguro, faça-se: responsabilidade do PS, mas pensar bem em quem põem em seu lugar…pleeease.
isto é perfeitamente nojento.
Uma forma enviezada e sacana de deixar as pessoas no desemprego sem assumir a decisão. Raispartam o Crato e a matilha que o rodeia.
Penso que alguns profs já estarão com uma pontinha de saudades…ai.
Excelente, Penélope!
Quanto ao cratino, mas não só, em Setembro é que vão ser o “elas”…