Algum negociador esfrega os relatórios do FMI nas ventas do FMI?

A duplicidade de posições do FMI sobre o rumo das políticas a adotar pelos diversos países em crise é, de há muito tempo, notória. Por um lado, emite relatórios a analisar objetivamente as situações, as medidas tomadas e as suas consequências, relatórios esses que podem ser claramente apelidados de autocríticas, já que o mundo analisado é composto por países. Por outro, impõe aos países sob ajuda financeira a receita de sempre – cortes salariais, cortes na educação, despedimentos na FP, flexibilização dos despedimentos em geral, etc. – que os relatórios vêm depois apontar como causadora de grandes males, como o aprofundamento das desigualdades e a quebra do PIB.

É verdade que, com o dinheiro nos cofres, ou exibido e a roçar prazenteiramente o nariz dos falidos, o Fundo se sente totalmente livre para dizer tudo e o seu contrário. O que faz na prática, todo o mundo já conhece. Podia era poupar uns largos milhões, se omitisse estes relatórios não só inúteis, como também irritantes. Escuda-se sempre na argumentação de que cada país é uma exceção. No nosso caso, o facto de pertencermos a uma união monetária. Pois.

E então a maior progressividade dos impostos é que nos irá salvar. Outra vez pois.

“A maior valorização das qualificações trazida pelo progresso tecnológico, os sistemas fiscais menos   progressivos e a maior flexibilidade   dos mercados laborais são alguns   dos motivos para o agravamento da   desigualdade na distribuição do rendimento nos países avançados registado nos últimos anos, defende o   FMI, que alerta para o facto de mais   desigualdade significar, em média,   menos crescimento económico.  Um estudo publicado ontem pelo   Fundo Monetário Internacional —   Causes and Consequences of Income   Inequality: A Global Perspective — analisa a forma como evoluiu a distri- buição de rendimentos no mundo, calcula que efeitos isso tem no crescimento económico e identifica quais os factores que mais influenciaram os últimos desenvolvimentos.  Não só se confirma que a desi gualdade está ao “mais alto nível   em décadas” e que uma maior desigualdade tem como consequência   um abrandamento do crescimento da economia, como se conclui que algumas das causas para este resultado estão em políticas já aconselhadas pelo próprio FMI em diversos países, como a flexibilização  mercados de trabalho. […]”

Fonte: Público

7 thoughts on “Algum negociador esfrega os relatórios do FMI nas ventas do FMI?”

  1. Este texto pega numa situacao pontual onde uma politica correcta – flexibilizacao do Mercado laboral – pode ter algumas consequencias nefastas – aumento da desigualdade. O texto esquece-se de mencionar o principal ponto forte e a principal consequencia da medida, que e quantos postos de trabalho sao criados por efeito da flexibilizacao do Mercado laboral.

    Da mesma forma o post pega numa linha dum extenso relatorio e extrapola consequencias para o relatorio inteiro e para o funcionamento duma instituicao dizendo que nada do que faz presta.
    Um bom paralelo para este artificio de argumentacao e pegar numa fotografia da Cindy Crawford, amplia-la 1000 vezes ate so se ver a verruga que tem na cara, e depois dizer que se trata duma foto duma gaja que nao tem ponta por onde se lhe pegue.

    Enfim, o habitual grau zero da inteligencia que se costuma ver por aqui.

  2. oh burro do caralho, as fotografias publicadas da cinde são todas fotóxupadas e a verruga é maquilhada para se ver a kilómetros. parece que há uns bimbos com fetiche por verrugas a delirar com o detalhe. vá lá, podia dar-lhes para varizes e dentaduras drácula.

  3. O recentemente falecido Prof. Dr. Silva Lopes, deixou escapar, num programa televisivo, a informacão que o filho trabalha para o FMI, num do(s) escritório(s) que o mesmo tem em Lisboa, e eu fiquei com a impressão de que, o relatório, que
    era mencionado no dito programa televisivo, tinha sido feito, a pedido do governo português, género, encomenda.
    O governo queria implementar aquelas medidas, que eram danosas para o nosso povo, e como não queria assumir directamente o papel de odioso, encomendou-o ao técnico do FMI.
    Aliás, Carlos Moedas, referiu-se às recomendaçõs dele constantes, dizendo : este relatório está muito bem feito …
    I

  4. Eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.

    NÃO, NÃO ESTOU VELHO!!!!!!
    NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO PARA JÁ SABER TUDO!

    Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.

    E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade.

    Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no respeito das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e ….calar.

    Sou dos que acreditam na invenção desta crise.

    Um “directório” algures decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.

    Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.

    Parece que alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final.

    Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência.

    Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se.

    Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro entre os medicamentos e a comida.

    E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível.

    A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da multiplicação dos pães.

    Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000 licenciados estão desempregados.

    Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.

    Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada” faz um milhão de espectadores.

    Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros.

    Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.

    Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados.

    Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem…estar para ambas as partes.

    Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho…

    Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem?

    E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.

    Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.

    E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.

    Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.

    E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…

    Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço.

    E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.

    É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.

    (Júlio Isidro)

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