É raro ler as crónicas de deputados bloquistas. No entanto, num momento em que aparentemente se agitam por causa do próximo orçamento, convém ir ver o que andam a dizer.
O deputado Pedro Filipe Soares escreve hoje, no DN, sobre a grande traição que terá sido a aceitação do cargo de líder do Eurogrupo por Mário Centeno. Podem ler, para eu não ter que estar a repetir ou sintetizar o que diz.
A tragédia da falta de investimento na Saúde é dada como exemplo de traição. Como se o aumento do número de médicos e enfermeiros e das suas remunerações não fossem investimentos. Além de não ser verdade que não há outros investimentos. Vários centros de saúde já foram construídos, novos hospitais estão a caminho. Enfim, Para Pedro Filipe Soares o Eurogrupo é mau, porque foi mau (o Dijsselbloem era, de facto, execrável) e sempre será mau. Não há volta a dar. Não duvido que, se Hugo Soares fosse proposto para líder do Eurogrupo, recusaria, porque considera essa uma entidade estática, ou seja, alguém malévolo se lembrou de a lá pôr e pronto, é europeia, tem o estigma europeu, pouco interessando quem a dirige ou quem passa a ter voz, poder e credibilidade para propor e tentar mudanças de orientação. Se tal acontecesse, Pedro Soares mandava a Europa passear, porque não gosta. Embora nunca diga de que Europa gostaria para além dos chavões da solidariedade e do utópico anticapitalismo, nem o que faria (caso se sentasse ao lado) para lidar com representantes de outras democracias que elegem os seus governantes legítimos, os quais não são, pelo menos nunca até agora, militantes da extrema-esquerda. Muito pelo contrário. Ia-se embora porque ficava com urticária? 95% do que o Bloco diz, em matéria teórica, é conversa. Em matéria prática, não sabemos, mas imaginamos e, olhem, não. O vosso papel é outro.
Pedro Soares acaba a criticar Augusto Santos Silva por representar o que ele chama a «defesa da Terceira Via», que, diz ele, granjeou tão maus resultados para os partidos socialistas e sociais-democratas na Europa. O assunto tem muito que se lhe diga. Terá sido a «terceira via» a culpada de todos os males? E terá, sequer, definhado para sempre? Mas, e a extrema-esquerda? Prosperou? A derrocada da «terceira via» beneficiou os críticos de esquerda dessa via? Está à vista que a resposta é não.
Invocar o falhanço da chamada «terceira via» é não perceber o que se passou e passa. É não perceber a facilidade com que se exploram os receios dos cidadãos comuns perante os movimentos migratórios recentes (mais no resto da Europa, que não aqui, razão pela qual a direita local fica sem um argumento poderoso) ou o receio compreensível com o colapso de todo o sistema bancário (a que a «terceira via» é totalmente alheia), o medo de perda das poupanças, a preferência por um estilo de vida «ocidental» apesar de tudo, etc.
Porque não são os partidos de extrema-esquerda a ganhar com a crise, com a austeridade e até com o abandono da austeridade? O facto é que não são.
Hugo Soares? (no 3º capítulo)
*parágrafo
:)
Pedro: Obrigada. Já corrigido.
ainda lá ficou mais um huguinho , no 3º andar.
PS) a 3 via era uma máscara idiota que usaram governos ditos de esquerda para praticarem cenas de direita. uma escusa , um subterfúgio para manterem em cena a zombie dicotomia esquerda /direita. quem manda é o mercado , há bués , é a Única Via -:)