A coisa cabe toda dentro desta americana palavra: comics. Sendo adaptação de banda desenhada (sub-especialidade: graphic novel), é tão denso quanto uma folha de papel. Talvez nem seja um filme. Seguramente, não se trata de cinema.
Dentro do chico-espertismo que molda a indústria do entretenimento, a equipa que produziu e realizou o 300 foi roubar descaradamente às fórmulas vencedoras na bilheteira. Pegou na fotografia de Gladiator, nas cenas de Braveheart, nos diálogos de Xena, e acrescentou a antropologia do hip-hop. Resultado: um produto adequado aos indivíduos cujos cérebros correspondam aos 12 anos de idade biológica. Esta característica neuronal, esclareça-se, pode encontrar-se em pacientes com 65 anos já gastos, ou mais.
A querela relativa aos espartanos versus persas, e à História da história, é totalmente irrelevante. Perder tempo a discutir o assunto é sintoma de grave falha cognitiva. Tais como irrelevantes serão as supostas alusões ao racismo, aos muçulmanos, ao Oriente, ao Irão, aos homossexuais, ao eugenismo, ao culto da violência, à estética gore, e sei lá que mais. Esses espasmos são pavlovianas manifestações do marketing que está na génese deste artigo de consumo. A questão que importa ao cinéfilo é bem outra: a que género pertence?
É que esta coisa não pode entrar no género Histórico, visto estar-se a marimbar para a dita. Não pode ser de Guerra, pois não se vê nenhuma guerra, apenas uns maduros a decepar tipos que avançam para eles dentro de umas vestimentas carnavalescas. E não pode ser de Acção, porque não tem o menor estremecimento emocional, é um acabado aborrecimento do princípio ao fim. Então?
Então, é uma comédia. Uma das mais hilariantes que me lembro de ver. O facto de ser involuntária, só lhe aumenta a graça.