Três em um

O projecto de revolução, perdão, o projecto de resolução que o PCP apresentou há dias no parlamento, a que se chamou “três em um” e que, como previsto, foi chumbado por quatro quintos dos deputados, advogava, sob a forma de eufemismos, três grupos de medidas.

Primeiro, a “renegociação da dívida”, que propunha basicamente o não pagamento de “pelo menos” metade do montante da dívida do Estado e a descida dos juros da dívida restante em “pelo menos” 75%, alvitrando ainda que fosse suspenso todo o pagamento da dívida enquanto a sua “renegociação” não fosse concluída (tal como nas greves, enquanto não há acordo).

Segundo, sob o lema da “libertação do país da moeda única” e da recuperação da “soberania monetária”, propunham os comunistas que se iniciassem os preparativos para a saída do euro e, logicamente, o saudoso regresso ao escudo, crismado “nova moeda”, com medidas complementares como o controlo do comércio externo, o controlo administrativo dos preços para debelar a inflação, o “combate à fuga de capitais” e uma interessante conversão de toda a dívida nacional, incluindo a privada, para a nova moeda nacional (esperando talvez que, desvalorizando esta, diminuiria a dívida em euros ou dólares…).

Em terceiro lugar, os comunistas propunham a “recuperação do controlo público da banca comercial e de outras instituições financeiras”, ou seja, um remake perfeito do 11 de Março de 1975 para todo o sector financeiro, começando logo pela intervenção “de emergência” do Estado nos bancos em dificuldades (isto é, em todos).

O Bloco de Esquerda apoiou a primeira e a terceira medidas, abstendo-se na segunda, isto é, o regresso ao escudo, por alguma razão misteriosa.

O projecto de resolução comunista NÃO propunha nem a ressurreição de Vasco Gonçalves, nem a recriação do Conselho da Revolução, nem a reanimação da Aliança Povo-MFA, nem a nacionalização da comunicação social.

Um projecto moderado, portanto.

12 thoughts on “Três em um”

  1. Ó Júlio, misturar nisto o Vasco Gonçalves, o Conselho da Revolução e quejandos daquele tempo, é um tiro nas botas. Se não fosse essa gente, ainda andavas a suspirar à mesa do café. Isso mostra que o nevoeiro mental que aí anda é muito cerrado.

  2. O Salgado, do BES quando quando foi solto por uma fiança de 3 milhões deve ter rido à gargalhada, lembrava-se das visitas que fez durante uns meses a Caxias para visitar os seus antepassados.

    Tinha sido Vasco Gonçalves que os mandou para lá.

    Será que estes anos de rebaldaria bancária não teria sido vingança daquele PREC?

  3. Portugal não precisa de autorização para sair do euro. nem para deixar de pagar a dívida. nem para desvalorizar a moeda. nem para arcar com a inflação. nem para a diminuição dos salários reais. nem para engolir o livro de Ferreira do Amaral. e nem para ter assistido de camarote à queda do Berlusconi.

  4. val, quando vi 3 em 1,julguei que ias falar do glorioso sporting c.portugal.a fezada era tão grande, que desta vez fui para o café ver o jogo.quanto às propostas do pcp,tenho a dizer que eles sabem para quem falam, quando fazem estas propostas, com a cumplicidade dos joãos lisboas.o bloco ao votar duas propostas,ultrapassou o syriza pela esquerda.não estou em idade de morrer,mas fico preocupado, ao ver a morte lenta dos jovens bloquistas!

  5. No tempo da banaca nacionalizada nunhum banqueiro se deu aos desfrutes que os seus colegas dos bancos já privados se vieram a dar.
    Prova provada que os empresários privados gerem muito pior as empresas que o Estado.
    Contra factos não há argumentos.

  6. Vasco Gonçalves e amigos ministros de então,quanto dinheiro terão desviado em proveito próprio? Terás feito bem as contas,de outro modo és um pulha! Há pessoas cujo porte e desempenho merecem o respeito de todos,incluindo o tolinho da aldeia.

  7. Muito bem exposta a “trama” em que o PCP continua a navegar… Eles tentam tudo, eles tentam tudo…para que o resultado se mantenha “correcto” nas urnas!
    Aquando do PEC IV, foi o “compadrio” com a direita – vejam como eles – “verdadeira esquerda” – continuam a insistir no “desatre Sócrates”! E agora é correr para as eleições que se aproximam, demarcando já o terreno: ou é “como nós queremos” ou não será possível o “compromisso de esquerda”!

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