Ora bolas, Ricardo

“Falar de Cavaco Silva nos dias de hoje sem ser para dar pancada é assumir uma posição absolutamente minoritária” – escreve Ricardo Costa, actual director da SIC, sobre o homem que cessou hoje a sua presidência com a mais alta taxa de impopularidade de sempre. Ora Cavaco é, garante Ricardo Costa, “o segundo político mais importante do pós-25 de Abril”. Como quase pede desculpa por ter essa opinião, deduz-se que quis fazer um elogio do fulano.

Para quem tinha vontade de elogiar, podia ter feito melhor. Porque “importante” quer dizer muito pouco sobre o verdadeiro valor de um político. Salazar, o maior inimigo da liberdade e da democracia no século XX em Portugal, foi o político mais importante do país durante quarenta anos. No fim, até teria mais adeptos do que Cavaco tem hoje. Os maiores carniceiros e liberticidas do mundo durante esse século também foram todos muito importantes – e, em geral, muito populares, até deixarem de o ser.

Ricardo Costa usa o truque de falar do político e não do presidente Cavaco, para fazer abranger pelo elogio ao presidente os anos de vacas gordas do primeiro-ministro. Mas não fica por aqui o chico-esperto na sua intenção de branquear o presidente cessante. Cala, por exemplo, o mega-escândalo das escutas de Belém, uma refinada canalhice vinda directamente de um presidente da República. Sobre as acções da SLN e as mentiras que Cavaco repetidamente disse a esse propósito (que nunca tinha comprado acções do BPN), Ricardo Costa declara agora que foram apenas um erro de “comunicação”, porque tanto esse caso como o do valor da sua pensão de reforma teriam sido “facilmente explicáveis e entendíveis”. Isto dito por quem era director do Expresso quando o escândalo das acções foi revelado pelo mesmo semanário! Que a polémica em torno da pensão de reforma de Cavaco era fácil de evitar, não se duvida. Bastava que o fulano estivesse calado! Mas a compra e venda de acções a Oliveira e Costa, fora do mercado e a preços de favor, não tinha qualquer possibilidade de ser explicada nem entendida. Quem acabou por pagar esse meio milhão de euros a Cavaco e à sua família fomos todos nós, como se sabe.

Se a fama de honesto que Cavaco granjeou entre muitos dos seus apoiantes é totalmente incompreensível, o modo mesquinho, dúplice, ultra-sectário e vingativo como exerceu a sua presidência perdurará na memória colectiva. Que Cavaco não era pessoa “especialmente talhada” para o cargo de presidente é a menor das críticas que se lhe pode fazer, mas mesmo esse juízo é alegado por Ricardo Costa como atenuante. Coitadinho do homem, estava tão sozinho em Belém…

Ora bolas, Ricardo!

13 thoughts on “Ora bolas, Ricardo”

  1. Já foi… deixem agora a estória para os historiadores, que a história far-se-á daqui a uns anos
    Quanto ao substituto, já começo a achar folclore a mais . Mais parece a coroação de um rei. E depois…. quem vai pagar todas estas festas e festarolas ? O pagode, claro. Começo a torcer o nariz mais cedo do que esperava.

  2. o que eu não percebo é que importância tem o que o pior dos Costas pensa sobre o que quer que seja.
    Já se percebeu que o homem não pensa nada de jeito.
    Ele não merece tamanha publicidade.

  3. BE e PCP já fizeram do novo presidente um presidente de facção. Daqui a uns meses vão queixar-se disso. Afinal o muro ainda não caiu: há partidos que ainda se auto-excludem da vida parlamentar.

  4. Como poderá ser esquecido (deve haver vídeos com discursos e corta fitas) o grande investimento de morangos du famoso Russell da Cristina Onassis que ainda tem dívidas e famílias destroçadas lá para os lados de Odemira.

    Grande iniciativa de cavaco p.m.

    Lembrem lá essa asneira para RICARDO CORAÇÃO DE FAÇÃO ficar mais elucidado e não dar tanta voltinha.

  5. Embora não se goste de Cavaco, mas fica para a História a Ponte Vasco da Gama e a Expô 98 e o CCB.
    Depois vieram os imitadores, os detractores, os banqueiros nas coxas, os empreiteiros impostores e os sanguessugas.
    Aguentou os maquinistas, camionistas e sindicalistas, jornalistas, regionalistas norte sul e ilhas.
    Aguentou os armadores e pescadores que queriam o dinheiro e o peixe.
    Aguentou os agricultores que queriam os tomates tractores e Todo-o-Terreno.
    Aguentou professores sem alunos, alunos sem professores. Aguentou greves porque sim, greves porque não.
    Mas que vida!

  6. Olha ó Joe, estive a ler aquilo e imagina como é que eu não havia de compreender a censura de imprensa do tempo do meu ídolo de Santa Comba?

    Tás a ver, agora a ter que aturar jornalistas portugas estes 40 anos, o que o Zé povinho atura!

    O difícil agora é encontrar um bom ditador que não seja alemão!

  7. Reaça, o teu idolo não tem muitas razões de queixa do jornalismo vigente, ganha concursos de televisão e tudo. O que é o Passismo e o Cavaquismo senão a tentativa de aproveitamento do mito salazarista? E quem foram os seus maiores story-tellers? Os jornalistas.
    Es um ingrato.

  8. Exactamente Joe, interpretas exactamente o pensamento do meu ídolo, também tu achas que os jornalistas são todos uns mentirosos.

    Terem o descaramento de comparar estes pigmeus Passos e Cavaco àquele gigante.

  9. Talvez PSD e PS estivessem desesperados em ver Cavaco pelas Costas.

    Mas assistimos à cabeça baixa do Bloco e dos Comunistas.

    Não seria por se ir embora o seu “bombo da festa”?

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