A nota do presidente da República sobre o caso Centeno, divulgada pela presidência segunda-feira à noite, é a primeira gafe grave de Marcelo desde que chegou a Belém. E dizer gafe é pouco, porque são várias e não são só meras gafes.
Em cinco pontos singelos, o presidente da República começou por revelar que Centeno pôs o seu lugar à disposição do primeiro-ministro – o que não lhe competia a ele, presidente, revelar. Aludiu depois a uma alegada falha de comunicação entre o ministro das Finanças e o gestor Domingues – o que não lhe competia a ele, presidente, relatar. Queixou-se de forma velada de que alguém (Centeno ou Costa?) interpretou indevidamente as “posições do presidente” sobre o assunto da Caixa – deixando para o público a tarefa de interpretar o significado dessa queixa enigmática e de perceber a quem ela se refere. Declarou enfim que, depois de ouvir o primeiro-ministro, o qual lhe disse manter a sua confiança em Centeno, ele presidente “aceitou tal posição”, atendendo ao “interesse nacional, em termos de estabilidade financeira” – sem que se perceba porque é que um presidente tem de aceitar ou não aceitar a confiança do chefe do governo num dado ministro.
Temos, pois, que o presidente Marcelo parece mesmo querer continuar a sua antiga actividade de comentador político, de preferência fazendo revelações apimentadas e inconfidências de bastidores. O mais grave de tudo é o dislate final, que lhe foi já apontado pelo deputado socialista Porfírio Silva e pelo constitucionalista Vital Moreira. Com efeito, os ministros não carecem da confiança política do presidente da República, muito menos da sua “aceitação”, termo que implica um poder que a Constituição não lhe dá. Acrescente-se que também a confiança do primeiro-ministro num ministro não carece da “aceitação” do presidente da República.
Se o presidente quiser, pode formular, perante o primeiro-ministro, todas as dúvidas que entender sobre a permanência ou não de um ministro no governo. Vir exprimir essas dúvidas para a praça pública é insólito e até pode ser estúpido, ainda que não seja propriamente inconstitucional. Absolutamente estúpido e profundamente errado é vir declarar publicamente que “aceita” ou não “aceita” determinado ministro, coisa que definitivamente não lhe compete. Se o presidente está descontente com o governo e se não lhe chegam as reuniões com o primeiro-ministro para fazer as suas pressões ou ameaças, então só tem um caminho constitucional, se não quiser estar quieto e calado: dissolver a Assembleia e convocar eleições.
Já se percebeu que Centeno foi trapalhão nas negociações com Domingues e que lhe faltou alguma prudência, o que certamente advém da sua total inexperiência na política. Outra coisa é a histeria da direita, inconsolável com os resultados positivos do primeiro ano de governação de Costa e Centeno e ansiosa que se fale de outra coisa. Mas eis que Marcelo resolve ceder à histeria raivosa e vem dar uma no cravo, outra na ferradura, para assim se justificar e sacudir o capote perante o execrável laranjal – necessidade que até agora não tinha sentido. Muito mal, senhor presidente!
Em estéreo, do post ao lado e com as devidas rectificações. «Temos, pois, que o presidente Marcelo parece mesmo querer continuar a sua antiga actividade de comentador político, de preferência fazendo revelações apimentadas e inconfidências de bastidores.», pois é mas não é só: esse é o estilo do inquilino do palácio de Belém agora que perdeu (momentaneamente?) a pose e agisse como se fosse um concorrente do Big Brother, mas o caso deverá servir também para olhar para o papel dos membros do Conselho de Estado (António Lobo Xavier e Luís Marques Mendes, no caso) nas useiras… revelações apimentadas.
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aeiou
15 DE FEVEREIRO DE 2017 ÀS 14:25
Guida, assim de repente.
Se percebi bem, os SMS foram passados para as mãos do PR através do António Lobo Xavier que é amigo, ex-colega na administração do BPI e que se fartou de elogiar a escolha de António Domingues para a CGD na Quadratura do Círculo da SIC Notícias. Aliás, esta não é a primeira vez que o tipo do CDS faz essa função de toupeira nos bastidores do inner circle de Marcelo que extravasa, parece-me!, e que não dignifica o cargo que ele desempenha de membro do Conselho de Estado. Sendo conselheiro, mantendo no entanto as prerrogativas de continuar a expressar-se no espaço público, deveria ser no Conselho de Estado o local onde exercesse a sua performance pró-presidencial. Assim sendo, espero que a entourage de António Costa ou os nomes de peso indicados pelo PS (ou o Francisco Louçã, já agora) o façam sentir no local próprio. Idem, inaceitável é também o papel de porta-voz oficioso exercido por Luís Marques Mendes.
Nota, em tempo. Como as coisas estão, e passado um ano de exercício frenético de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República, o palácio de Belém parece estar a transformar-se verdadeiramente na casa do Big Brother. Confirmando as vozes mais avisadas que existem sempre nesta situações, muito embora me pareça que algumas devessem “afinar” a maneira de lidar com o assunto (Porfírio Silva, isto é para ti!), recorde-se que este é o verdadeiro (?) estilo do inquilino.
aeiou
15 DE FEVEREIRO DE 2017 ÀS 15:43
Ah, ou assim. Pensei mas não o escrevi que, para mim, subsistia, no caso dos SMS trocados pelo amigo do Lobo Xavier e Mário Centeno, um problema maior ou de igual tamanho que não conseguiria de imediato resolver, a saber: deverá um Presidente da República aceitar que as comunicações pessoais existentes no telemóvel de terceiros cheguem às suas mãos? E publicamente fazer, exclusivamente a partir dessa leitura solitária (cfr. o comunicado daquela longa madrugada…), uma peça central da sua acção institucional como inquilino que é da Presidência da República? Estando em causa o relacionamento institucional, no caso com o Governo? Não me parece, sinceramente. Mas então como evitar que este problema tenha ocorrido se, ainda por cima, foi um membro do seu Conselho de Estado quem faz a entrega? Deverá o PR recusar “tomar conhecimento”, preventivamente e na primeira vez (!), como fazem os tribunais de recurso? Ou será de boa regra que não seja o conselheiro (que tem por missão aconselhar, mas não individualmente) a constranger a acção do próprio PR nestas situações, o que no caso deveria partir da cabeça do António Lobo Xavier? Estou nesta, [nas tardes ou] nos serões em Belém alguém poderia tomar a palavra.
O Presidente apenas cometeu uma, (1) , umazinha gafe.
A continuar com esta média, no fim do mandato não vai perfazer 4 gafes.
Comparado com os antecessores presidentes, apenas Américo Tomaz ficará atras dele que não cometeu nenhuma gafe.
Seria de admirar que o intriguista encartado ora investido Presidente pela vontade da maioria do povo cujo alimento primordial de espírito é a borga, seja ela de carácter telenovelesco, futebolístico, autofotista ou pimbalho televisivo ou musical, não se deixasse enfim enredar nesta novela que o reviralho direitista tem alimentado com doentia persistência.
Não admira já que (the new mogul empire is a perpetual-motion machine fueled almost entirely on bullshit.)
o trampismo, ou seja, a política que se alimenta exclusivamente da trampa quanto mais infecta e mal cheirosa melhor, constitui a narrativa notável deste tempos novos da nova pós-realidade.
Talvez uma gafe, por zinha que seja, não valha, de facto, mais que um ingénuo e imprevidente peido Presidencial.
quando a esquerdalhice começa a vomitar, até a trampa foge de tão entediada fica…
Em primeiro lugar, isto é o caso Domingues e não o caso Centeno. O vilão desta história é Domingues, um homem que ocupou um cargo público central com enorme arrogância e desprezo pelo accionista (o Estado Português, que somos todos nós) a quem tinha o dever de prestar contas. Foi Domingos quem esteve realmente mal, em toda esta novela, que se portou como uma celebridade arrogante do show-biz, enquanto Centeno tinha que engolir todas as suas chantagens, se queria ver a recapitalização da CGD aprovada em Bruxelas.
Entretanto… ouvi dizer que Lobo Xavier vai para vice do novo BPI (versão España) enquanto o seu amigo Domingues fica de fora. Como foi possível que Lobo Xavier não tivesse conseguido indrominar Gonzalo Gortázar (com os mesmos SMS que mostrou a Marcelo) para que o espanhol fizesse Domingues ocupar o lugar que tão bem havia ocupado (segundo nos havia dito Ulrich) na comissão executiva do BPI?
Com grande pena minha não temos, neste momento, acesso aos SMS trocados entre Fernando Ulrich e Gonzalo Gortázar, para assim podermos descortinar o motivo por que Domingues ficou aquém das qualificações exigíveis para merecer assento na comissão executiva do BPI, versão España.
De modo que, o melhor para todos nós será Luis Montenegro, Nuno Magalhães, Lobo Xavier e Marcelo Rebelo de Sousa irem todos ao “Manhãs da Júlia”, na SIC, discutirem esta problemática deveras relevante. Fico a aguardar…
António Lobo Xavier, pois.
[…]
A história continua mal contada. Tendo em conta tudo o que foi publicado, Centeno é o bode expiatório e talvez tenha sido o mais ingénuo. Mas cabe perguntar se ninguém avisou Domingues de que Centeno não manda no TC e que mesmo que quisesse não podia comprometer-se em nome deste. Nem mesmo o seu amigo Lobo Xavier, jurista de profissão o ajudou neste imbróglio?
Estrela Serrano no Vai e Vem, aqui:
https://vaievem.wordpress.com/
se ele não dissesse – nós não sabíamos. eu sou pelo saber para depois, então, digerir. se Marcelo for o alcoviteiro das verdades, venha ele. :-)
ou é de mim ou o básico sofreu mutações…
jpferra, muda as fraldas e deixa o senhor que ele é hetero.
O BEIJOQUEIRO DE BELÉM É UM AMADOR
Muito bem, senhor Júlio! Vejo que compreendeu bem quanto se precipitou ao prometer já de bandeja o seu precioso voto ao eventual recandidato Marcelo.
Muito mal, menino Mal por Mal, comparar já o beija-flor ao cabeça-de-abóbora, apenas com uma gafe. Não seja tão pessimista…
Mas, calma aí! EFECTIVAMENTE, Marcelo não tem só a solução de dissolver a AR e convocar Legislativas antecipadas: pode ainda primeiro demitir o Costa e sacar do seu governito de iniciativa presidencial, que parece ser o seu único objetivo estratégico (o bloquito central do tó-tó seguro com o rui rio??!): EXPERIMENTA LÁ, homem, se tens coragem!
Excelente, joaopft.
Muito mal Marcelo, ao propôr o nome de Mário Soares, para o novo aeroporto no Montijo, isso sim !
Por alma de quem ?
Ele fez algo ligado à aeronáutica ?
Aeroporto Humberto Delgado, ainda vá lá, já que Humberto criou os transportes aéreos nacionais .
Agora Mario Soares ??? A titulo de quê ???
Se o agente que o escoltou até S. Tomé, tivesse aberto a porta do avião e o tivesse empurrado para fora, ainda vá que não vá ( e a este respeito, diria que não se teria perdido muito, e bastante de nefasto se teria poupado ao País ) .
A mesma discordância com relação ao aeroporto, Sá Carneiro. Dar o nome de uma pessoa que morreu num acidente grave provocado por uma queda de uma aeronave, a um aeroporto, é no mínimo, de mau agoiro, sinistro, e de mau gosto .
Rui Reizinho: enquanto eu vir Passos Coelho e a pior canalha da direita furiosos com Marcelo, a minha opinião sobre a presidência dele dificilmente mudará no essencial. Se as coisas enveredarem por outro rumo, então falaremos. Não sou sectário nem preconceituoso. Avalio, a todo o momento, pelos resultados.
João Pontapé: esse teu comentário ignóbil fica aí, não o mando para o esgoto para que se saiba que, em 2017, ainda há ratazanas que lamentam que a PIDE não tenha cometido mais crimes. As caixas de comentários funcionam como confessionários da escumalha a que pertences. Com a vantagem, para ti e outros como tu, de não terem de ser queimados com pontas de cigarros ou pontapeados nos colhões para confessarem quem realmente são. Nada disso. Arrastam simplesmente o seu triste coirão até aqui e metem voluntariamente a boca no trombone.
E PORQUE RAZÃO UM AEROPORTO COM O NOME DE MÁRIO SOARES????????
Que fez ele? Lutou pela liberdade? De quem? Onde? França? Assinou a presença na pide, para o registo de mártir de maus tratos e ala vers France!!!
Amigo de tudo o que tramou este país, na saúde,na economia, meteu-se em prefácios defensivos de quem deixou morrer gente em Portugal, e viveu bem, como comuna de barriga cheia!!!! Ele foi o protótipo do socialismo “duas caras” , seja, “dirijo de barriga cheia, os que querem igualdade económica e acreditam na treta esquerdista”.
Houve pelo menos um comuna que praticou o que defendia: Alvaro Cunhal, também ele iludido com o socialismo utópico, porém,amargou na cadeia, sendo o único digno de respeito social e histórico, pela luta das suas convições.
Portanto, caro autor do artigo, atente no verbo, pois nem todos gostam de rap comuna e viciado na cegueira…
Realmente assenta-lhe que nem uma luva, é mesmo um rap de canalha, um chorrilho de impropérios .
Muita história está por fazer e muito haverá ainda a dizer .