Haverá algo de comum entre os piropos que se podem ouvir na rua como “Lambia-te toda” ‒ que Fernanda Câncio hoje relata no DN, da sua própria experiência de criança de 12 anos – e “Have a nice day”, que é um dos cem piropos que uma americana adulta ouviu passeando pelas ruas de Nova Iorque durante dez horas, tudo registado em vídeo?
Para algumas pessoas, há, e muito.
Para a revista que expõe o vídeo, são tudo formas de “assédio verbal”. Dizer “God bless you”, “Smile” ou mesmo “Beautiful girl” seria algo de equivalente, na sua essência, a seguir ao lado de uma mulher durante dez minutos, dizendo alarvices ou fazendo propostas, como acontece num caso do vídeo. É tudo assédio. É tudo piropo. É tudo igual.
O vídeo em si tem bastante interesse e fixa a nossa atenção. As conclusões são tendenciosas.
A mulher vai pela rua silenciosamente, nem a cabeça vira. Não reage, nunca responde a nenhum dito nem a nenhuma provocação. Seria interessante fazer-se um vídeo em que a mulher interagisse com os piropeiros, para rejeitar os elogios ou as propostas. Tiraríamos melhor as nossas conclusões.
Fernanda Câncio, que diz que o piropo de rua (qualquer piropo, presumo) é uma “forma de agressão” e de “dominação das mulheres”, lamenta contudo que as mães aconselhem mal as raparigas quando lhes dizem “Se se meterem contigo nunca respondas” ou “Mulheres honestas não têm ouvidos”. Porque Fernanda Câncio acha que as mulheres não se devem calar nem ter medo, devem sim reagir ao piropo (se não gostarem dele, presume-se). Muito bem. Ora o que vemos no vídeo é uma mulher bombardeada por ditos e dichotes e que sistematicamente se cala, que não reage. E se ela tivesse logo dito “Fuck off” àquele palerma que seguiu ao lado dela durante dez minutos?
não, não é tudo assédio. algumas expressões possuem graciosidade e simpatia. ademais há olhares – ou, por exemplo, quando um homem mexe na fruta quando estamos a passar -, bem mais intensos e perturbadores do que meras palavras.
a questão aqui é o limite, o limite individual antes de ser colectivo, que não se resolve com uma resposta bem dada. quer dizer, em que mundo vivem os que acham que mandar foder um tarado acaba-lhe com as taradices?
esta coisa é mais ignorância cultural do que desejo de dominação – é muleta da frustração.
e depois também me parece mal que sejam as mães as responsáveis pela continuidade dos assédios na rua. as mães querem o melhor para as suas filhas – assim como os pais e não se trata de ensinar a não ter ouvidos nem boca: trata-se de nos protegermos de mais incómodo e também de controlarmos o medo do que poderá vir a seguir, sim, o que não significa que não nos importemos.
mas suponho que a Fernanda não seja fortemente assediada, e ainda bem, desde os doze anos – altura em que a um lambia-te toda deve ter respondido e o tarado há-de ter-se calado, envergonhadíssimo, e nunca mais durante a sua existência o voltou a dizer. agora, já na menopausa, a Fernanda era bem capaz de responder tirando as cuecas e esfregando-as na língua do tarado: como uma boa mão com certeza lhe ensinou.
o texto da Fernanda é uma caricatura, faz rir. :-)
Ainda há quem diga que as flores não andam!
Os últimos dois ou tres piropos que me lembro de ter ouvido foram dirigidos à minha mulher, por mulheres, na minha presença. Será também crime!
E esta?
“… quando um homem mexe na fruta quando estamos a passar… tirando as cuecas e esfregando-as na língua do tarado…”
oh bécula, a badalhoquice e a confusão nessa cachimónia é tanta que o assédio vira caso de asseio sexual.
Uma observação, não foram cem piropos por hora, mas sim cem piropos em 10 horas (“100 Catcalls In 10 Hours”).
Não, não é tudo assédio.
E’ assédio um comportamento que, ostensivamente, se dirige a uma pessoa transmitindo-lhe a ideia que ela não é considerada como tal, mas como objecto, ou pelo menos como um ser que não pertence à mesma espécie do que o seu interlocutor e que, como tal, pode muito bem aguentar com os caprichos e as vontades deste ultimo, ainda que não lhe apeteça atura-lo.
Como é obvio, a caracterização dependera sempre do contexto. Entre outras coisas, a consciência de que o comportamento não é desejado pela vitima, ou a indiferença manifesta a esta questão, sera um indicio importante. Não vi o filme, mas posso imaginar que muitas interpelações de rua, ainda que não usem palavrões ou alusões explicitas, mereçam a qualificação de assédio e que devam ser distinguidas de comportamentos anodinos e inofensivos como “por favor, minha Senhora, sabe indicar-me onde fica a praça do Chile”.
Portanto não é muito complicado fazer a diferença.
Mas, como sempre, ha burgessos interessados em misturar tudo. Estes ultimos, que normalmente nunca dedicaram dois segundos a tentar saber do que estão a falar, são normalmente os primeiros a vir com queixumes do tipo : “isto agora, uma pessoa não pode fazer perguntas inocentes nem dar os bons dias na rua, é o totalitarismo do politicamente correcto”.
E, ao que parece, nos temos que os aturar…
Boas
joão viegas, e não se podia reunir os burgessos todos e mete-los no campo pequeno? Just asking…
oh viegas, se eu abordar a tua filha todos os dias, à saída da porta do prédio onde moras, em paris, para lhe perguntar anodina e inofensivamente “por favor, minha Senhora, sabe indicar-me onde fica a praça do Chile”, é considerado assédio ou pedido de ajuda?
Seria interessante inquirir junto da cronista Câncio se piropos homossexuais também devem ser criminalizados. E, já agora, se não seria boa ideia criar uma espécie de Notariado Nacional do Primeiro Contacto Sem Risco, encarregado, não de investigar a existência de vida extra-terrestre, mas antes de promover a continuidade da vida humana terrestre sem os riscos de criminalização inerentes ao processo.
A coisa funcionaria assim: em vez de fazer olhinhos e lançar palabrillas, o/a potencial criminoso/a comunicaria o seu interesse à instância neutra no ofício mais próximo e esta iniciaria o processo formal através de declaração em formulário normalizado e correcto, no género daqueles classificados da imprensa, com dados identificativos e medidas.
E, já agora, porque não criminalizar também os piropos e solicitações, tanto hetero como homossexuais, femininos? À excepção, naturalmente, dos profissionalmente assumidos e considerados, portanto, como contactos de negócios.
Eu cá, depois disto, à primeira que me pergunte “sabe indicar-me onde fica a praça do Chile”, pelo sim, pelo nao, pergunto-lhe logo se não está a querer objectificar-me para me lamber todo.
Fui ao “jugular” como me é habitual. Fiquei parva ! Então não é que a F. Cancio diz que é a Isabel que está por detrás do júlio e fez este post !!!
ai que riso! :-)
pronto, fui lá deixar pozinhos de perlimpimpim e a Fernanda mandou-me ir lá fora ver se lá está a chover. pelos vistos a vaidosona achou que estou a assediá-la. :-)
ah! achou mesmo: chamou-me estúpida e ordinária por estar a solicitar aplicabilidade prática ao texto que escreveu. ah! :-)
mais novidades: confrontada com a incoerência de fazer um texto ao qual se nega dar-lhe aplicabilidade prática pelo direito que uma jornalista adquire quando escreve em jornais de referência: o de acrescento de responsabilidade naquilo que diz – e perante a possibilidade de se tratar, afinal, de uma metajornalista a Fernanda guardou o meu comentário. ou então está a pensar muito bem no que vai escrever. gosto tanto quando me tomam por fraquinha, estúpida e ignorante. :-)
Fernanda Câncio atribuiu a autoria indirecta (“por interposta pessoa”) do presente post à Isabel Moreira, pelo facto de esta o ter “likado” no facebook. É uma forma abusiva e manipulatória de proceder e também uma maneira de desconsiderar o autor deste post, que é o Júlio, uma pessoa geralmente não interposta. A jornalista, que deveria medir as palavras, insinua mesmo que a Isabel se teria valido de um “método”, o de falar pela voz de outros.
A senhora não se dignou considerar a existência autónoma do post que visava expressamente a sua coluna do DN, bem como um artigo da Visão. O que ela fez foi reagir ao facebook da Isabel com uma espécie de dislike censório (é a chamada censura do gosto), despachando no acto o post do Júlio “por interposta pessoa”, ou seja, citando um comentário lançado nesta caixa por um infeliz habitué. Ora o Júlio não vai ripostar à Fernanda nem tampouco lhe fará a tremenda injustiça de lhe creditar a autoria directa ou indirecta desse pobre comentário. Se a Fernanda algum dia sentir a irresistível tentação de dirigir a palavra ao Júlio, ele talvez lhe responda. Mas vai ter que o interpelar directamente e abster-se de lhe atirar com lixo alheio, caso contrário ele ignorá-la-á.
Eu quando era miúdo tinha uma velha tia que me lambia as bochechas (por fora) sempre que me via. É de me considerar abusado ou não? A dúvida não me tem deixado dormir.
Quero dizer que não eram beijinhos do modelo ventosa de baixa sucção. Eram mesmo lambiçocas molhadas que começavam no queixo e acabavam quase na nuca. É de apresentar queixa e exigir que arrasem a campa da velha ou não? Socorro, por favor, estou a sofrer muito.
A bomboquinha, coisa doce tão fofinha, barrou o meu último comentário. ficou-se pelo insulto que tentou fazer-me sem me responder à questão que lhe coloquei. o mais curioso nisto é que alguém que escreve sobre o despropósito de se tapar os ouvidos e a boca às mulheres apresenta-se como a primeira a fazê-lo tomando aquilo que sugere às mulheres do mundo que façam como arma de arremesso contra os tarados – responder-lhes na mesma linha para assim os enfrentar – como estupidez e ordinarice.
os castrados, pois, é que gostam de castrar – já que colocar questões práticas de possíveis respostas que envolvam conas, pilas e simpatias é, aos olhos da bomboca, ser mulher socialmente inaceitável e por isso passível de ser desprezada.
tanta incoerência, arrogância e autoridade, já se sabe, só pode meter nojo. mas suponho que se tivesse dito ordinarices em inglês era bem. ou então que tivesse falado em pipi e pilinha, como as mamãs ensinam aos filhotes.
és uma mulher asquerosa e prepotente. uma feminista frustrada, está visto, Fernanda. e convencida. mas da minha parte, podes esquecer: nem mais um texto teu vou ler – e olha que nesta casa és amiúde elogiada.
vai-te foder e oxalá um dia destes encontres alguém que te mande um piropo simpático sem ser por interesse ou sectarismo ou para te dominar sexualmente – será sinal de que, afinal, és um pouquinho interessante sem a poltrona já quente e com a marca do teu cu na comunicação social.
estás a precisar, docinho. :-)
oh vaca! nem todos são obrigados a aturar a tua estupidez e ordinarice. por mim já tinhas ido de frosques, mas pelos vistos há quem ache que conversa de alterne dá prestígio ao blogue.
ai que riso!, Florindo Rilhafoles!, só li agora a saga das bochechas lambidas.:-)
conta mais.
Não sei se aos 12 anos — as meninas são mais precoces que os meninos — a Câncio terá ficado agradada, furiosa ou indiferente ao peso do priopro (um priopro é um piropo excessivamente priápico), mas eu cá ainda hoje mudo de passeio sempre que me vou cruzar com uma velha daquelas que lambem os beiços enquanto andam.
Aliás, a minha situação é muito pior que a da Câncio porque a tia Aldôncia lambia primeiro e perguntava depois! Geralmente perguntava se podia «vender este ciganinho», e eu percebia logo onde ela queria chegar, e ainda hoje estou traumatizado e a pensar seriamente em mudar de sexo. Mas para um sexo que ainda não haja, porque as mulheres também sofrem muito.
Só por milagre escapei ao destino da Maddie e daquele tipo que se vestia de princesa no carnaval e que o Herman José violou em Portugal enquanto o seu sósia contratado se mostrava no Brasil. O que quero saber agora é se posso arranjar um daqueles atestados do doutor psiquiatra Álvaro, que servem para os juízes se resgatarem dos seus pecados junto da opinião pública. E depois mando mesmo arrasar a campa da velha.
Oops, desculpem. Um piropo excessivamente priápico é um priopo, não é um priopro. Um priopro é um piropo priápico profissional, daqueles que muitas nórdicas entradotas vêm procurar aos nossos Algarves. Mas qualquer dia vai tudo preso e é bem feito.
Sim, Florindo, é verdade que os PPP estão a arruinar o nosso país e que o culpado de estado geral da nação é o Sócrates, mas agora que a Câncio lançou a ideia de começar a mandar prender todos os lançadores de piropos, pode ser que retomemos o bom caminho.