Dom Januário

Este bispo Januário – que em jovem esteve ao lado de outro bispo que foi perseguido e exilado pelo ditador Salazar – não tem papas na língua. Algumas das suas ideias não são lá muito bem articuladas e denota dificuldade em dominar a emoção. Às vezes até parece que está na blogosfera a mandar umas postas de pescada com espinhas. Mas ouço-o frequentemente com gosto e proveito. Este, pelo menos, é um dos que não renegaram a doutrina que apregoam. É um dos que têm saído em defesa dos fracos, dos pobres, dos velhos, dos indefesos, dos sem trabalho, dos imigrantes sem papéis, etc. E até já defendeu, contra o papa, o uso do preservativo e a pecaminosa homossexualidade.

Januário saiu-se anteontem com umas novidades sobre o actual governo, que qualificou de “profundamente corrupto” e achou composto por “diabos”. Comparados com eles, os do governo Sócrates eram uns “anjos”. Uma evidência, dir-se-á, mas vinda de um bispo soa a novo. Saltaram-lhe logo ao caminho chusmas de pêpêdolas indignados. Que o bispo estaria a fazer política e não devia. Que insultou gente honrada e esforçada pelo bem da nação. Que tem que escolher entre o pastoreio das almas e o comentário político. O inolvidável Aguiar Branco estigmatizou a atitude “política” do bispo. Um tal Almeida, do partido democrata-cristão, afirmou mesmo que Januário não prima pelo bom senso, insinuando que o que dali vem está contaminado por demência. Alguma vez ouviram esse almeida comentar os afrontosos dislates regularmente proferidos pelo tiranete da Madeira, que nem sequer é do partido dele?

Estes indignados de borra fizeram-me lembrar os que há meio século se indignaram com o bispo do Porto, que em 1958 desafiou Salazar e pagou com a sua expulsão do país até 1969. Disseram que ele era um bispo “político” e “imprudente”. Afiançaram que era “vermelho” e que estava feito com os comunistas. Insinuaram repetidamente que era chalado. O grande homem, de seu nome António Ferreira Gomes, apenas tinha desalinhado dos seus colegas do episcopado, um bando de fervorosos salazaristas falsamente apolíticos, chefiados por um tal Cerejeira que tinha vivido em união de mesa e pucarinho com o futuro ditador, numa república a dois, em Coimbra, abençoados pelo papa. Os bispos de antanho apoiaram o Estado Novo desde a fundação e viveram tristemente à sua sombra até ao fim, sem independência, sem carácter e sem dignidade para darem um murro na mesa ou exigirem sequer coisas tão simples como a oficialização do ensino católico ou a criação da Universidade Católica – sempre denegadas pelo ditador e só concedidas pela democracia. Os padres que “faziam política”, isto é, que não eram salazaristas, eram castigados, presos pela PIDE, exilados e, obviamente, ostracizados pela própria Igreja.

Por isso vejo com muito bons olhos todas as imprudências deste bispo, que não esqueceu o seu mestre – e ainda bem que não esqueceu. No fundo, a Igreja Católica devia-lhe agradecer, pois ele é apenas um contrapeso à linha política de um episcopado que (já não se lembram?) fez toda a espécie de críticas, ataques e chantagens ao governo anterior e agora está muito caladinho. Por contraste, Januário permite-lhes continuar dizer que “não fazem política”.

14 thoughts on “Dom Januário”

  1. D. Januário disse que este Governo é corrupto!!!!!!mas o mais grave não é a evidência da corrupção. Não!!!! O mais grave é ter afirmado que há Gangs, gangs ouviram ?…..Quem acusou o “toque” ? ah!!!….

    N.B. estava tomando um café numa esplanado, junto ao mar e ouvi dois jovens comentando…..«« Estão a dar emprego aos boys de 25 anos, para gabinetes dos MIn. e SEc. EStado com ordenados de 3 a 5 mil euros!!!! mas uma parte é para o partido. Ainda consegui ouvir…..este processo é uma forma de financiar o partido….»» Estes jovens possuem uma “imaginação”…..Ou será que nâo ?? ( Não gosto de ouvir conversas dos outros, mas eles não faziam segredo do que afirmavam) e afirmo já, que não ACREDITO.
    D. Januário diz que há gangs e diz que há fome….que há diabos….e foram estes que assumiram gostar de gorvernar com a TROICA, e por isso, resolveram aliados ao PCP/BE/PP/PSD, travar o PEC IV e derrubar o governo…….Agora ? há um desemprego nunca visto, que provoca fome, e a fome provoca doença, e a doença provoca instabilidade, e a instabilidade provoca violência…..Só nos faltava isso….D. Januário, também falou nisso……Só não falou na NOSSA PRIMAVERA……Nossa incluindo a Europa……

    Agora falo eu: – D. Januário como homem de fé, reze para que Portugal e a Europa não entre no campo da violência. A Guerra não pode ser a solução, mas a porta está aberta.

    Obrigado D. Januário pelas orações, há Portugueses que merecem o seu apoio, especialmente os desempregados e os mais carênciados..

  2. Ontem ouvi na TVI o debate entre Fernando Rosas, Santana e Assis. Primeiro tema: Dom Januário e a suas declarações indignadas. Rosas comprendeu o bispo, enquanto Assis e Santana defenderam e compreenderam até à náusea as “instituições democráticas” vilipendiadas pelo bispo. Assis e Santana disputaram a primazia nos ataques ao bispo. Não ocorreu a estes dois nobiilissimos defensores das “instituições” veneráveis da república, o quanto estas mesmissimas instituições têm sido, não por palavras, mas por actos continuos, corrompidas até às fundações, exactamente pelos seus dignissimos pares e supostos defensores. De facto, o povo já não acredita no presidente da república, nos governantes que temos, nos parlamentares e políticos, nos magistrados, na comunicação social…Factos!
    Assis e Santana, dois cavaleiros negros da política corrupta geradora de corruptos, armaram-se em defensores da puta da sua dama institucional, como os cavaleiros salazaristas empenharam a palavra e a honra na defesa do antigo regime. Assis e Santana fingem que não sabem que “instituição” é um conceito apenas e que a realidade é o corpo das suas leis e seus efectivos executores ou corruptores.
    E pensar que este Santana já foi PM e Assis era a alternativa a Seguro!
    Por mais injusta e perniciosa, para a instituição governamental, que seja a denúncia indignada de D.Januário, nada se compara aos encobrimentos criminosos de toda a espécie por parte dos deputados e governantes da democracia, a ponto de a descredibilizarem por completo perante a esmagadora maioria do povo português.
    A cegueira de homens como Assis e Santana impede-os de ver a sua criminosa complacência com os gangs que se formaram à volta dos governos e dos parlamentares.
    Pior, muito pior: viram e calaram!
    Esta gente mete nojo. Chamar-lhes mafiosos, talvez seja dar-lhes um tratamento excessivamente carinhoso.

  3. OK …e o bispo não perde a sua liberdade de expressão por ser bispo e tiroliroliro… e a separação da igreja e do Estado supõe que se mantenha uma certa reserva e tirolirola… e a separação não impede um membro do clero de emitir opniões politicas e trololola… e a césar o que é de césar a deus o que é de deus e tralalalo… e a doutrina da igreja é também sobre a cidade de deus, pese embora seja a mesma doutrina a ter definido o conceito de laicidade e trulululu…

    O governo é corrupto ?

  4. Caro Júlio, segundo o site da Católica: “15 de Julho de 1971. O Estado reconhece oficialmente a Universidade Católica Portuguesa como pessoa coletiva de utilidade pública tendo por finalidade, entre outras, a de “ministrar o ensino de nível superior em paralelo com as restantes Universidades Portuguesas” (Decreto-Lei nº 307/71). O Decreto Humanam Eruditionem institui canonicamente a Universidade Católica Portuguesa.
    Culmina um processo, iniciado décadas antes sob a égide do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira.”
    O que até faz sentido dada a boa União entre igreja católica e estado novo.
    Quanto ao bispo Januário só me apetece dizer: haja Deus!

  5. Um governo decente, tinha acionado uma queixa contra o “caluniador” d.januario.segundo manuel pina (jn) disse ontem, que o discurso foi truncado,para conveniencia do governo.

  6. Eduardo J: Salazar já estava a ser roído pelos vermes em 1971 quando a UC foi finalmente autorizada pelo governo. Os cursos de Economia e Direito da UC datam de 1974 e 1976. Antes havia Teologia e Filosofia, basicamente para padres. Agora veja uma coisa: foi durante a Primeira República, em 1918, consulado de Sidónio Pais, que a Igreja católica portuguesa declarou querer criar uma universidade. A correspondência de Cerejeira com Salazar mostra que a Igreja continuou a insistir durante décadas, sem resultado. Veja quanto tempo o Estado Novo (não Salazar, mas sim Marcelo Caetano) demorou a reconhecer UC como pessoa coletiva de utilidade pública (1971), mesmo assim só quatro anos depois de Roma a ter criado unilateralmente (1967). A única coisa que persuadiu Salazar a aceitar o ensino superior de Teologia em Portugal (mas sem UC) foi que assim os padres portugueses já não iriam tanto para Lovaina ou Roma, onde desaprendiam o salazarismo.

  7. A voz rude, mas firme, de Januário Torgal Ferreira torna-se mais cortante e áspera quanto mais contrasta com a ausência gritante de uma voz com autoridade nacional que diga o mesmo que ele de uma forma mais polida, mas igualmente certeira!

    O importante não é tanto a crua verdade do que este corajoso Bispo diz, é antes não haver mais ninguém que o diga com estes desassombro e convicção genuína, na ágora política e na comunicação social, ou seja, NÃO EXISTIR HOJE EM PORTUGAL UM VERDADEIRO LÍDER DA OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA!

  8. A atribuição da tarefa de morder na canela do bispo a João Almeida, que muito sensatamente perorou sobre a falta de bom senso de D. Januário, mostra bem a inundação de bom senso que afoga as meninges de uma das secções do gangue, muito justamente melindrada. O deputado João Almeida, como a seguir se recorda, é campeão olímpico de bom senso, modalidades de estrada e auto-estrada. Aonde terá ele ido buscar inspiração para o discurso? Provavelmente ao fundo de uma garrafa de whisky, que é onde mora, por feliz coincidência, a fada do bom senso, sua adorável madrinha.
    Eles confiam demasiado na fada do esquecimento, pelo que aqui vai copy paste, para memória presente e futura:

    « João Almeida em tribunal

    DEPUTADO DO CDS CONDUZIU COM ÁLCOOL

    João Almeida, deputado do CDS-PP e presidente do Belenenses, vai ser julgado por condução sob excesso de álcool. O parlamentar foi apanhado pelas autoridades ao volante, em 17 de Junho de 2010, em estado de embriaguez, tento o teste acusado uma taxa de álcool no sangue superior a 1,2 g/l, um crime punido com pena prisão até um ano, ou com multa até 120 dias.
    João Almeida vai a tribunal em breve, pelo que solicitou o levantamento da imunidade parlamentar para prestar declarações no 4º juízo do Tribunal Criminal de Lisboa. A Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da AR autorizou o levantamento da imunidade considerando que o crime em causa não tem cariz político. João Almeida, de 34 anos, é deputado do CDS desde 1999. “Não falo sobre a minha vida pessoal”, disse ao CM, João Almeida, quando confrontado com a situação. »

    Link em:

    http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/deputado-do-cds-conduziu-com-alcool

    1,2 g/l é obra, e o milagroso facto de ainda por aqui andar, inteiro, a enriquecer-nos com a graça do seu sensato verbo, mostra além disso que esta secção democrata-cristã do gangue goza de protecção divina, ao contrário do bispo, sem sombra de dúvida um sinistro discípulo clandestino do Grão-Tinhoso.

    Pois é, amigos e companheiros, o bom senso é uma coisa fodida.

    Fernando, muito bem visto. Já agora, a coisa foi na TVI ou na TVI24, para eu tentar ver no site deles a parvoeira completa?

  9. oh escalracho! andas armado em porteira ou é acumulação de créditos para o quadro de honra do aspirina? o gajo só é deputado e o regimento não obriga à abstenção, foi levantada a imunidade, foi a tribunal, qual é o problema? realmente o bom senso é uma coisa fodida e a parvoeira idem.

  10. “ODE” A UM COLIFORME REPUGNANTE, BULLY OCIOSO DOS COMENTOS DO ASPIRINA
    (reedição)

    Vai-te foder, parvalhatz merdoso e poltrão,

    furúnculo pestilento em hemorróida de macaco,

    escarro tuberculoso enxertado em cagalhão!

    Acaso temos culpa do desgosto que te consome quando te olhas ao espelho?

    Com que direito nos obrigas, afogados pela crise,

    a gastar o dinheirinho em “Baygon Animais Rastejantes” para lidar com a tua laia?

    Que culpa temos nós que para escrófulas da tua raça, parvalhão,

    só restasse a licenciatura em vomitório de terceira classe?

    De que puta de ETAR fugiste, meu cabrão?

    Que o Milagre do Autoclismo se abata sobre ti, coliforme repugnante,

    e Nossa Senhora da Santíssima Reciclagem te dissolva no seu seio, dejecto infame!

  11. Caro Joaquim Camacho,
    pelos visto não interessa à pasquinada do costume as proezas do borrachola, pois devem considerar que um deputado com 1,2 g/l é coisa normal, embora a lei diga que é crime e dá direito a pena de prisão.
    Quanto ao teor das declarações do Santana ou do Assis sobre os entendimentos do senhor bispo nada me admiram pois aquilo é farinha do mesmo saco que apenas tem etiqueta diferente.
    Se um se pela pelas santanetes o outro é mais bolos…
    Basta recordar a triste figura que fez quando tentou concorrer à CMPorto e o seu posterior comportamento para se saber o que iria sair dali.

  12. “… pois devem considerar que um deputado com 1,2 g/l é coisa normal, embora a lei diga que é crime e dá direito a pena de prisão.”

    então houve tratamento preferêncial e não se cumpriu a lei, bora lá investigar o compadrio, ainda vamos ter um caso a sério com a teofilização da pasquinagem.

  13. Camacho, a coisa foi na TVI24. Aliás, bem sabes que os debates desapareceram por completo dos “canais abertos”. Que jeito que dá, não é amigo Camacho? O grande povo, aquele que não tem dinheiro para pagar os “canais fechados” é entretido com a voz única das novelas e concursos. Resta o “pros e contras”, que anda à procura dos sinais positivos desta governaçâo dos gangs…

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