Ana Gomes e José Sócrates

Em declarações hoje ao jornal da Sonae, Ana Gomes diz, comentando as declarações de Fernando Medina anteontem na televisão:

Só tenho pena que não haja mais vozes do PS, eleitos do PS, a dizer aquilo, em particular os seus responsáveis máximos. E a tirar consequências políticas daquilo que se sabe, independentemente do que a Justiça venha a apurar. Não se pode deixar de tirar consequência políticas, sabendo que um primeiro-ministro do PS “mercadejou” o cargo, que se aproveitou do cargo para tirar vantagens pessoais. […] Aquela linha do “À Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política”, que tem sido utilizado por António Costa, não é mais aceitável, sobretudo a partir do momento que já não é só o Ministério Público, é também o juiz de instrução, que vem dizer que aquele indivíduo foi corrupto.

Antes de mais, Ana Gomes mente. O juiz de instrução Ivo Rosa não declarou que Sócrates “foi corrupto”, nem podia ter dito tal coisa, porque foi apenas chamado a decidir as matérias sobre as quais Sócrates deveria ser levado a julgamento.

Ana Gomes recusa distinguir acusações de factos provados em tribunal. Pior, ela sustenta que sobre Sócrates há algo que “se sabe, independentemente do que a Justiça venha a apurar” (sic). Ela já se tinha comportado assim em outras fases do processo, atentando desinibidamente contra a presunção de inocência do inquirido, do arguido, do acusado e agora do pronunciado. Ana Gomes não se atrapalha com as garantias do Estado de Direito, niquices inventadas para chatear nobres jornalistas e honestos políticos.

Que Ana Gomes emporcalhe a sua conduta com os mesmos tiques “justiceiros” do jornalismo tabloide, da extrema-direita populista ou do seu velho MRPP, é lá com ela. Fernando Medina fez algo de parcialmente semelhante, colando-se oportunisticamente às sentenças condenatórias de Sócrates emitidas na praça pública. A diferença, porém, é que Medina, por razões obviamente eleitoralistas, fê-lo a título pessoal, sem se atrever a fazer recomendações ou exigências sobre o que deveria ser a “linha” do seu partido ou do governo a tal respeito.

Ao contrário de Medina, Ana Gomes exige expressamente que o primeiro-ministro e líder do PS deixe de respeitar e defender a delimitação do que pertence à justiça e do que pertence à política. Ana Gomes acha mesmo “inaceitável” que António Costa continue a recusar a intromissão da política nos meandros da justiça e vice-versa. A fulana deseja, visivelmente, que o primeiro-ministro e dirigente do seu partido se acanalhe como ela, dando como provadas acusações não julgadas e alinhando com julgamentos na praça pública.

Curiosamente, José Sócrates, numa atitude simétrica da de Ana Gomes, tem vindo a vituperar o seu partido por não o ter defendido, ou seja, por não se ter intrometido no seu processo judicial. Denotando também uma surpreendente falta de senso político, o ex-governante socialista recusa ver a armadilha que tal intromissão representaria para António Costa, o seu partido e o seu governo. Uma armadilha em que a direita e toda a comunicação social adoraria ver Costa meter ambos os pés, para do mega-processo a Sócrates poderem fazer finalmente o ansiado giga-processo ao PS, ao governo, a Costa e, no fundo, à esquerda. Foi também para esse fim – e Sócrates deveria sabê-lo melhor do que ninguém – que em 2014 foi fabricada a Operação Marquês.

Entre Ana Gomes e José Sócrates, espero que António Costa persista intransigentemente na defesa do Estado de Direito.

13 thoughts on “Ana Gomes e José Sócrates”

  1. Agora sou eu que digo: não é verdade !
    Sócrates nunca disse que queria que o PS se intrometesse no processo para o defender pessoalmente.
    Sócrates sempre disse que queria que o PS tivesse tomado posição sobre as violações do Estado de Direito de que ele foi sendo vítima. São coisas TOTALMENTE DISTINTAS.
    Neste ponto eu acho que Sócrates tem carradas de razão.

  2. Sim, Sócrates tem razões para pedir ao PS que tomasse posição sobre as violações do Estado de Direito de que ele foi vítima. Tem razão porque foi vítima de atropelos da lei por quem devia defendê-la, os magistrados.

    Isso é relativo ao julgamente cível ou criminal pela Justiça.

    E relativamente ao julgmento político? Será legítimo fazer trafulhices desde que elas sejam legais, e a seguir vir pedir os votos numa eleição? Infelizmente há muitas pessoas que respondem “sim” a esta pergunta. Basta ver o que aconteceu a Isaltino Morais.

  3. O que aconteceu com Isaltino Morais foi uma “segunda oportunidade”.
    Não vejo nada de mal nisso.
    O homem pagou a sua dívida à sociedade (a dívida que os tribunais lhe mandaram pagar), portanto se o Povo quis perdoar e dar uma segunda oportunidade porque não haveria de ser livre para o fazer ?
    O Povo é soberano e tem de continuar a ser.

    PS: e não me venham com a cena de que quem foi condenado uma vez por “corrupção” deve ficar inibido de voltar a desempenhar cargos públicos de forma vitalícia. digo desde já que sou CONTRA. Sabem porquê ?
    1º – porque o poder de perdoar tem de permanecer nas mãos do Povo soberano
    2º – porque no dia em que uma Lei dessas for aprovada então é que vai ser um gosto meter políticos de esquerda na choldra. No fim só restarão os da Direita para se poder votar, lindo não ?

  4. Sócatres linchado a torto e a direito pla direita pela esquerda pela extrema direita comentadores blogues pessoal das redes sociais partidos sem nome comentadores televisivos canais de televisão mais as senhoras e homens acho que falham as crianças.
    Admitam que a coisa é tão feia que a vergonha ausente dessa gente inaudita e sem perdão não abona em favor de ninguém nunca deles próprios. É aberrante como existe apenas um alvo neste país de m…. o que só diz da falta de inteligência e caracter dos aberrantes tugas numa sociedade de faz de conta onde tantos e tantas dariam pano para mangas para o dizsse dizssse dos atores da danada corrupção da qual se acham incolumes.
    Tanta gente para analisar espiolhar eles as famílias deles e mais a riqueza deles e tem de ser um único, o tal, imperdoável sempre culpado de tudo até dessas coisinhas que gosto tanto. Por favor, é~se muito estúpido nesta porcaria de país. Apresentem provas ou calem-se todos.
    NOJENTO!
    Vergonhoso MP mais juízes escutas provas inventadas riqueza empréstimos .
    Diria eu tal qual Sócrates tenho uma riqueza deixada por Família desde tia avó, a avós, a antepassados ilustres, empresto dinheiro até dou a amigos meus, sendo que um deles , doente e sem nada para viver, vive numa das minhas casas e recebe todo o dinheiro que precisa para ter uma vida digna.
    É indigno o que fazem , vergonhoso, aterrador e insuluoso e inqualificável a humilhação a que sujeitam alguém a uma entrevista Nazi e terrivelmente pulha num canal de tv como a tvi, canal esse onde este processo teve início há anos atrás. Assim penso, pensarei e sempre pensei,

  5. “Infelizmente há muitas pessoas que respondem “sim” a esta pergunta. Basta ver o que aconteceu a Isaltino Morais.”

    chama-se democracia e é difícil de entender por espíritos esclarecidos e pessoas de bem.
    só deveriam votar esclarecidos que representariam o voto do povo inculto e incapacitado para votar.
    os tribunais deveriam proibir esses flagelos de se candidatarem ou de voltar a trabalhar.
    há quem não durma ou tenha úlceras por causa do sócras, o país ganhava em poupanças com o sns, comparticipação em medicamentos e despesas de funeral com suicídios dos gomes ferreira e anas gomes.

  6. “2º – porque no dia em que uma Lei dessas for aprovada então é que vai ser um gosto meter políticos de esquerda na choldra. ”

    Muito bem, Jasmim.
    O Brasil vai na frente, mostrando o caminho. Uma das principais razões de avacalhamento do sistema político e judicial brasileiro foi precisamente a lei da “ficha limpa”, aprovada em 2010, ainda por Lula, que impede a candidatura de candidatos condenados. Em 2013, Dilma sancionou a delação premiada. Resultado: A luta política deixou de fazer-se nas urnas de voto e transitou para a instrumentalização dos tribunais. Além disso, os maiores corruptos do Brasil encontraram uma maneira simples de se livrar da prisão e ficar em casa gozando as vantagens dos seus actos corruptos: entregar insinuações fantasiosas sobre os adversários políticos dos Juízes e Procuradores.

  7. “Foi também para esse fim – e Sócrates deveria sabê-lo melhor do que ninguém – que em 2014 foi fabricada a Operação Marquês.

    Entre Ana Gomes e José Sócrates, espero que António Costa persista intransigentemente na defesa do Estado de Direito.”

    Sobre o desrespeito de Ana Gomes e de Fernando Medina pelos princípios do Estado de Direito Democrático e o favor que fazem à direita, nada se dirá: autoclassificam-se como meros oportunistas políticos.
    Agora, sobre a posição de Júlio, diz-se:

    Se a operação Marquês “também” foi “fabricada” para envolver o PS, ou outro partido que fosse, então a dita operação ofende o Estado de Direito e deveria ser denunciada pelo Presidente da República, pelo Governo e pelo PS.
    E se assim foi, Sócrates tem razão de queixa do seu partido, tanto mais que toda a direita partidária fez tábua rasa do princípio da separação de poderes, invocada por António Costa.
    Ou seja, seguindo o raciocínio de Júlio, a conclusão óbvia é que António Costa não terá defendido o Estado de Direito. E haveria várias formas de o fazer sem apoiar qualquer crime que Sócrates pudesse ter cometido. Finalmente, não sendo militante PS, mas apoiando, na maioria das vezes, a sua acção política, entendo que os seus militantes deveriam refletir em todo este caso e o mau serviço que prestaram à Democracia, cedendo ao populismo mais básico.

  8. Mais uma mulher rejeitada que se assume rejeitada agora mesmo na TVI – a Psicologa (?) marada Joana Amaral Dias!
    Eu sabia !!!!!
    Acabou de dizer que o mauzao do Socras a tinha convidado para ser deputada pelo PS e depois … desconvidou-a!!!!!

  9. “Acabou de dizer que o mauzao do Socras a tinha convidado para ser deputada pelo PS e depois … desconvidou-a!!!!!”

    foi enganada, corrompeu-a e não lhe pagou.
    se tivesse recorrido à justiça o alex obrigava-o a casar com ela ou pagar pensão de alimentos para o cão.
    bora lá fundar a associação das vítimas do socas.

    durante 14 anos os jornais, telejornais, jornalistas e comentadores andaram diáriamente a dizer aos portugueses era corrupto. na 6ª feira passada um juiz explicou ao país que os crimes de corrupção de que sócras era acusado cairam todos por serem fantasias insustentáveis, além de alguns já terem prescrito, portanto tudo o que foi escrito e dito pela comunicação social era mentira. hoje em todas as televisões o anterior corrupto passou a mentiroso pela boca de quem andou a mentir durante 14 anos. agora deve faltar legislação para criminalizar políticos mentirosos, indemnização a vítimas de mentiras (caso joana amaral), ajuda psiquiátrica a vítimas de bulling do ex-primeiro ministro (casos crespo & monteiro) e mais cenas que encaixem em molduras tamanho 3, modelo nº 16 do estilo “Excluem-se dos números anteriores as condutas socialmente adequadas e conformes aos usos e costumes.” para decorar os estúdios da campanha em curso.

  10. Segredo de justiça
    Sistematicamente a passagem para os média de partes de processos em segredo de justiça, ao longo de muitos anos, em casos que estes consideram «suculentos», criou a ideia de nada se poder fazer dada a impossibilidade de detetar a origem da fuga, se da acusação se da defesa, embora esta não tenha beneficiado das fugas, dada a natureza destas e a evidente intenção de provocar julgamentos na praça pública. Os inquéritos que se seguiam raramente apuraram a origem. Mas, como por vezes acontece, o juiz Ivo Rosa conseguiu a verdadeira proeza de do seu extensíssimo despacho nem uma vírgula transpirou.
    Conclusão, Quis custodiet ipsos custodes ? é uma frase em latim do poeta romano Juvenal, traduzida como “Quem há de vigiar os próprios vigilantes?” e outras formas como “Quem vigia os vigilantes?”, “Quem guardará os guardiões?”, “Quem vigia os vigias?”, “Quem fiscaliza os fiscalizadores?” ou similares.(WIKI)
    Até quando normalizamos o abuso sistemático de quem se comporta acima da lei que deve respeitar e defender.

  11. Os criminosos divulgadores e facilitadores das peças que estavam em segredo de justiça, e que permitiram a transmissão em direto dos interrogatórios do arguido Sócrates, terão de pagar a sua divida à Justiça e à sociedade !!!

  12. Muito bem, Jasmin e outr@s: o ensurdecedor silêncio de Marcelo, de Costa, da Ministra da Justiça, da Procuradora-Geral da República, do Conselho Superior da Magistratura e de tantos outros altos responsáveis nacionais face aos gravíssimos atropelos ao Estado de Direito e à Justiça cometidos, no âmbito deste processo vergonhoso, pelas autoridades judiciais deste País, que aliás podem até configurar crimes (foi já aberto o inquérito à nomeação “manual” do carlos alexandre em 2 014), bem como o psicodrama mediático que foi violentamente imposto à população portuguesa nos últimos dez anos, criando um clima gravíssimo de proto-comoção social acerca de um antigo Primeiro-Ministro e dirigente do maior Partido português, mais do que justifica uma intervenção urgente, firme e corajosa por parte dos mais elevados poderes públicos deste País.

    A sua ausência neste momento é gravíssima, irreparável e será devidamente classificada pela História, duma forma que abafará a insuportável boçalidade da cantilena amorfa e estéril dos papagaios de serviço, desde os vulgares pregoeiros pegajosos da tagarelice social de massas, a essa besta acéfala da Ana Gomes e ao finório patetinha do Medina, entre muitos outros cobardes balofos, presumidos, hipócritas e javardolas.

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