Copia-se aqui a nossa resposta ao inquérito do Miniscente. Isto é, pode comentar-se também aqui.
O que lhe diz a palavra «blogosfera»?
Vejo a blogosfera como uma multidão informe, aloucada, saudavelmente contentinha de si, passeando descontraída pelos rebordos dum abismo que dá para o mundo físico. Ela é, assim, um universo paralelo, em que tudo é real, também. Reais são os seus prazeres, dores e desvarios, reais os seus sonhos, triunfos, frustrações. Só que a realidade é doutro tipo: impalpável, fugidia, insatisfeita. Os habitantes dela são, por sina assumida, transumantes, desenraizados, nómadas. Nesse sentido, esse habitáculo galáctico em que se entra teclando, e donde teclando se sai, pode revelar-se mais inóspito do que o suporíamos, e portanto, a prazo, rejeitável. Mas podem seguir-se-lhe universos menos habitáveis ainda. Só uma coisa parece certa: a intranquilidade veio para ficar.
Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu através dos blogues?
Foi o observar da descoberta, alheia e própria, da inaudita versatilidade deste brinquedo, o «blogue», que consegue produzir coisas tão humanas como a admiração e o enamoramento, mas também a irritação, a suspeita e o enxovalho. Tudo público, claro.
Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Criar-me mais um gastadoiro de tempo, onde ele já era tão escasso. Mas a queda compulsiva para intervir vinha já de longe. Ninguém foge ao fado.
Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
É, decerto. E o controle social, em que a blogosfera é exemplar, evitará que o mundo exterior, repressivo, ponha tão cedo as botifarras aqui dentro.
E queriamos acrescentar que ficámos muito satisfeitos com a nossa resposta ao inquérito.
Diz Lobo Antunes que uma entrevista é sempre um exercício de vaidade. E, acrescento eu, um teste à genuinidade.
Aqui, claramente falhado.
Diria mesmo mais: estamos quase entusiasmados.
Somos – habitualmente – um exemplo de discrição, de reserva, de compunção. E, pronto, chega-nos uma vaidadezinha, ninguém no-la perdoa.
É duro existir.
Só é duro existir quando queremos, e tentamos, ser aquilo que não somos.
mau… mau mao.
… uma vaidadezinha não faz mal a ninguém (in-veja= ver para dentro)
Talvez o defeito seja mesmo meu. Demasiado atento. Se calhar devia ir mais na onda. Mas não consigo enganar-me.
Ps: Reconheço, contudo, que consegui gostar de alguns textos do prosador em causa.
As melhores respostas que li, nas entrevistas em causa.
Um exemplo de tolerância para contrastar com aqueles que peroram contra a “libertinagem”. Sousas Tavares e afins que até se dão ao luxo de intervir na Assembleia da República, despudoradamente insinuando questões pessoais.
Isso, sim, uma autêntica vergonha indesculpável. Uma ignomínia.
Eu gosto bem da multiplicidade expressa na primeira resposta…
Para mim a blogosfera é a modos que um hiperplano tangente à Noosfera de Anaxágoras. Noutro lugar chamei-lhe hipertopia.
(Mao: também tem direito à sua vaidadezinha, já lhe li aqui poética de obsidiana)
Foi a melhor entrevista. Aquele final até merecia destaque
Vou postá-lo
“;O)
Da vaidade sou mestre
Autêntico
Sem palavra fácil
Sem caminhos largos
Sem oferendas e comendas
Ó pardo que não me vês
Volta os olhos ao amor