Memória para um lagar perdido (foto de Carmen Carvalho)
Depois de 1957 já se pedia em Santa Catarina uma gambiarra emprestada mas até essa data era tudo feito no lagar à luz dos candeeiros de petróleo. A adega era então o esplendor dos objectos: funis, dornas, celhas, cascos, pipas, barris, tinas, esmagadores, prensas, cordas – todo um mundo de objectos e alfaias agrícolas. No Verão meu avô era tanoeiro (além de carpinteiro no Inverno) e ia em Setembro com o senhor Josué (seu patrão) vender a obra à Feira de Rio Maior numa camioneta Dodge alugada de um ano para o outro. O padrinho da minha avó era tão perfeito no fabrico do vinho branco que vinham padres de longe (Salir de Matos, Carvalhal, Vimeiro, Turquel) buscar garrafões de cinco litros para as missas. Eles vinham de bicicleta, eram os anos cinquenta e muitos padres ainda não tinham automóvel.
Estas memórias particulares surgem no fim da visita ao Museu do Vinho do Cartaxo (telef. 243701257) na Quinta das Pratas (www.cm-cartaxo.pt) e o texto de António Nabais explica como, para além do vinho, o museu revela outras culturas agrícolas – o azeite, os cereais, a fruta, os legumes. O texto faz também a memória justificativa de muitos objectos: enxada, arado, charrua, tractor, foice, debulhadora. O percurso está de tal modo organizado que de repente parece que a casaca está vestida por um cavaleiro antes de entrar em praça e a torpilha parece estar nas mãos do hábil trabalhador que coloca enxofre nas videiras.
Tudo termina num poema da Odes ao Vinho de Omar Khayam (tradução de Fernando Couto, edição Moares 1981). Assim: «Uma vez que ignoras o que te reserva o dia de amanhã / Procura ser feliz hoje! Bebe vinho! Receberás a vida eterna. / O vinho é o único filtro que pode restituir-te a juventude. / Goza esse fugitivo instante que é a vida.»
apanhaste mais uma cardina à pala da cultura local e aproveitas para elogiar as qualidades marteleiras do padrinho da tua avó. era escusado, já tinhamos notado o adn na zurrapa poética que avias aqui na tasca. toma lá para te roeres d’inveja.
http://www.youtube.com/watch?v=oHowqKYSXNI
Para as missas, poeta ?
E você acredita ?
Jnascimento
É evidente que acredito pois seu muito bem que o vinho branco do padrinho Luís Ribeiro era apreciado pelos padres que vinham aos sermões da Quaresma a Santa Catarina. Já agora meu caro Joaquim Nascimento você acredita que em 1956 havia padres na minha Província que andavam de bicicleta e de motoreta???
Granda saloio, pá, mas saloio mesmo, o vinho deve ser azurrapa da pipa podre que taba lá na loja. Dize lá tamém apanhabas azeitoninha e descamizabas o milho?! ´´O pá, compra um baton,meu, e pinta-me esses beiços, pá, fogo, este gajo só escrebe sovre ele.
ó pazinho, li agora a tua promoção ao binho do teu parente, oube lá, pá sabes lá tu o que é bom binho e cumo se faz pá, mas eu digo-te, meu, plantas a vinha na melhor encosta que puderes, fazes a vindima como debe de sere pá, amandas tudopró pio, pá, sabes o que é o pio, não sabes? não debes sabere, mas eue explicu-te, pá, é aquele sítio onde mandas aquela gaita das uvas e depois saltas lá pra dentro e cumeças pisar naquilo, sobes as calças até aos joelhos mas não lvas os pés. Entendido pá! perecbes agora o sabor do que sai dali? Pois é pá. Tás a ber o meu abô a quem tu seu JAVARDO, chamastes torto mas TORTO és tu e mais quem te fez as oRELHAS, fazia assim o binho e nem queiras saber. Tu recebes emaisl de amisterdão, londres, paris e o caraças, o meu abô recevia clientes dos mesmos sítios, fogo, cumo o mundo é pequeno, cada bobadeira só com um cupito pá, e uns enchidos da matança do marrano…
Bou-me a candidatare ao aspirina pra ber se me deixam tamém autopromubere a minha geraçãoe antiga, pá, quando não ahistória corre o risco de ficar só com os teuse registose. fogo isso é o mesmo que a história só contar a história do fidalgo que andaba metido com uma rainha nossa, e que foi currido ali do palácio dos anjos…