Vinte Linhas 682

Tomás frente ao jardim ao som de «La línea scura» de Ludovico Einaudi

Cabe no teu olhar uma herança invisível que é a de seres o filho mais velho, um pequeno pai para o teu irmão Lucas na permanente preocupação de que ele esteja sempre bem. Que nada lhe falte e nada o assuste – seja em casa, seja no jardim ou seja à beira do mar.

Tens apenas cinco anos, nasceste em 2006 e só agora em 2011 percebes o que é ser o irmão mais velho de alguém, essa obscura tarefa de infinitas preocupações e cuidados, esse trabalho invisível e sem horário pois não se entra às nove para sair às cinco da tarde. É para sempre.

A tua bisavó (n. 1929) foi irmã mais velha de três irmãos, o teu avô (n. 1951) ainda é irmão mais velho de duas irmãs, a tua mãe (n. 1978) permanece a irmã mais velha de dois irmãos – Filipe e Marta. Ser irmão mais velho é um ofício cheio de presságios, de noites mal dormidas, de sustos, de lágrimas invisíveis, de soluços escondidos.

Os pais são importantes na vida dos filhos mas são também outra coisa: respondem pelos filhos na vida civil e pública, perante os Tribunais e a censura social, estão na primeira fila dos conflitos. Nada os substitui. Mas ser irmão mais velho é tarefa do domínio das questões sentimentais – o amor, a ternura, o carinho, a angústia. Toda uma escala entre a alegria e o temor, um olhar vigilante para o defender (o irmão mais novo) de todas as agressões, um gesto firme para o proteger de tudo o que o pode fazer sofrer.

O irmão mais velho é o jardineiro desse jardim onde os outros irmãos podem brincar em segurança porque o seu pequeno pai está vigilante. Não conheceste a tua bisavó (n. 1929) mas há no teu olhar uma herança do seu jeito inquieto de cuidar dos irmãos, um jeito que ela tinha como todos os irmãos mais velho. Como tu, Tomás.

7 thoughts on “Vinte Linhas 682”

  1. Bom dia poeta:
    Eu acho muito belas cada uma das 25 linhas de hoje e, intimismo por intimismo, quero dizer-lhe que tenho pena de ser filho único.
    Mesmo sabendo mal a lição, ainda assim parece-me que você fica a dever outras tantas linhas ao seu neto mais novo, com instruções sobre o estatuto de junior que deve aceitar sem reclamações, para não se aleijar no jogo.
    Enfim, poeta, cinco anos de diferença só são muito tempo agora, No futuro vão voar e chagarão a ser uma vantagem.
    Um abraço para cada um de vós
    Jnascimento

  2. tadinha da criança, não merecia que lhe formatasses a abóbora, malgré son nom tomás. um must essa aritmética das datas em cornucópia com a genealogia dos xicos, fazer inveja a qualquer rodrigues dos santos. não registes a patente e depois queixa-te que entraram pelo telhado e fugiram pró milão sem pagar portagem, à la duarte lima.

  3. oh xico! atão não fazes referência à avó materna da criança ou engravidaste a sopeira da vizinha e não queres que se saiba.

  4. Ó José do Carmo, em primeiro lugar, quero dizer-lhe o quanto gosto do que escreve — as suas recordações dos anos 50 e 60, décadas em que eu também fui criança, evocam tanto as minhas memórias. O José do Carmo veio do Alentejo para Lisboa; eu vim do Alto Douro para o Porto — tirando o cenário há tanta semelhança nesse crescer numa cidade grande.
    Em segundo lugar, você deve ter alguém com uma profundíssima inveja de si, um tipo que se identifica como anónimo, e que só bolsa baboseiras e destila veneno.
    Continue a escrever, não lhe ligue, esse anónimo nem merece resposta.

  5. Afonso henriques, fiz o seu percurso, do Alto Doiro para o Porto e do Porto para Lisboa e tb gosto do que jcf escreve. Prezo a amizade dele, além do mais.
    Boa tarde, conterrâneo, está o S. Martinho à porta e devemos festejá-lo,
    para não deixarmos tudo para a Stª Luzia, com marrã e jeropiga!
    Jnascimento

  6. Caro Afonso obrigado pelo comentário e já agora uma nota pessoal – nasci na Estremadura, vivi no Montijo 1957-1961 Vila Franca de Xira 1961-1966 Lisboa 1966-1972 Caldas da Rainha 1972 Évora 1972-1974 Lisboa 1974 até hoje. Mas gosto muito do Alentejo, ainda agora fui a uma homenagem ao Manuel da Fonseca. Amigo Joaquim vamos ver se segunda aparece a jeropiga no nosso almoço. Ou vinho fino, já agora…

  7. que belo rapagão, o Tomás. ser mano velho também é, além de alegrias, carregar as dores do mundo. e quando assim não é, a decepção é grande. mas não há-se ser o caso do Tomás, pelo brilho que assim parece ter. :-)

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