Os cuidados intensivos
Desde sempre se tem discutido o que é a poesia e o que é a literatura. Para muitos de nós a poesia vem antes da literatura pela simples razão de que a primeira poesia era cantada de terra em terra pelos antepassados dos trovadores. Por outro lado a literatura só começa a existir quando aparecem os primeiros livros. Ou seja, quando a poesia começa a poder ser repetida. Cada livro é como se fosse um trovador que vai cantar de terra em terra, de casa em casa. Já não vai a voz mas sim o seu registo gráfica, não vai a temperatura mas sim o seu desenho nas letras. Tenho para mim que a poesia é a mais pura modulação da voz do homem. Cheguei a ter uma série de versos que citava de cor. Por exemplo de Carlos de Oliveira: «A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da terra». Ou de José Gomes Ferreira: «Viver sempre também cansa!» Ou ainda de Carlos de Oliveira: «O sal é o mar servido nas nossas praias domésticas de linho».
Hoje gostaria de compartilhar convosco um breve poema dum autor grego (não sei se homem se mulher) que assina S. Kharkianákis e que a mão amiga de Maria Estela Guedes me ofereceu. «A poesia, irmã, não é nem canção nem reflexão. Poesia é cuidado intensivo aplicado à criação em sangue. E sobretudo registo de como a vida conduz à morte». O que estas crónicas pretendem ser é também isso mesmo: o intervalo possível entre canção e reflexão, entre a simples narrativa e a complicada filosofia a tentar compreender o que somos. Mas como o que fazemos não passa de uma apoteose efémera lá voltamos, mais uma vez, teimosos, a ver se, com o nosso sangue pisado, conseguimos escrever para não morrer.
“…escrever para não morrer. ”
Gostei. Muito.
Sandra
OK Sandra. Valeu a pena ter escrito, um leitor justifica tudo. Obrigado. Fixe!
Mas como o que fazemos
não passa de uma apoteose efémera
lá voltamos, mais uma vez, teimosos,
a ver se, com o nosso sangue pisado,
conseguimos escrever
para não morrer.
Sugiro um nome: Equimose.
Ou: Pancadaria.
Ou: Manutenção em vez de Cuidados Intensivos.
Caro José do Carmo Francisco,
A tua prosa é tão intensiva que malhaste forte e feio no texto. Transcrevo:
“Por exemplo de Carlos de Oliveira: «A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da terra». Ou de José Gomes Ferreira: «Viver sempre também cansa!» Ou ainda de Carlos de Oliveira: «O sal é o mar servido nas nossas praias domésticas de linho».”
Quiseste demonstrar que as tuas citações iam para além de um par de autores e acabaste com redundâncias excusadas. Há leitores que não dormem, jcfrancisco.
Vamos lá remodelar a tua gabarolice literária:
Por exemplo de Carlos de Oliveira: «A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da terra» ou «O sal é o mar servido nas nossas praias domésticas de linho». Ou de José Gomes Ferreira: «Viver sempre também cansa!»
Assim, não enganas ninguém.
E quem é que te disse que eu queria enganar quem quer que seja??? Tu é que estás a ver mal o assunto. A ordem das citações nada tem a ver com a ideia de enganar. Mas que preconceito mais mal amanhado… Já agora Manuel da Fonseca: «ALDEIA» Sete casas / duas ruas / no meio das ruas um largo / no meio do largo um poço de água fria
Se não quiseste burlar ninguém, meu caro, isso denota uma absoluta falta de lógica no encadeamento das frases. Falta de lógica. É sintomático.
Falta de lógica e falta de rigor.