Vinte Linhas 485

Uma releitura de «A Capital» de Eça de Queiroz

Integrado nas actividades da Livraria Fabula Urbis (Rua Augusto Rosa 27 – Lisboa) estou envolvido num clube de leitores cuja primeira tarefa foi a leitura comentada de «A Capital» de Eça de Queiroz. Dois aspectos me tocaram em especial.

Primeiro as duas frases que Artur, o jovem candidato a jornalista e dramaturgo, vindo lá de Oliveira de Azeméis, preparou para (julgava ele) impressionar o Melchior no jornal «O Século». Eis as duas definições:

Lisboa é a estação central da inteligência.

A Província é a penitenciária do espírito».

Depois a maneira como Eça de Queiroz descreve a saudade que Artur começa a sentir no momento em que recebe onze mil réis do Rei Bamba, curiosa a alcunha do homem que lhe leva coisas ao «prego». Assim: «Então, quando sentiu o dinheiro na algibeira, Artur teve subitamente uma vaga saudade enternecida de Lisboa, da vida que deixava. A cidade, coberta dum bom sol, com os seus cartazes nas esquinas, as lojas dos livreiros abertas, as carruagens rolando, parecia-lhe ser o único lugar possível para uma existência inteligente: se não conseguira chamar a atenção da senhora de vestido de xadrez na véspera, poderia ser mais feliz outras vezes! Nunca o Melchior lhe parecera tão afectuoso; e achava, de repente, nas fisionomias que passavam um vago tom inesperado de simpatia.

Comovido disse: Ao menos, pela última vez, jantemos juntos, Melchior».

Recomendo a experiência aos nossos leitores, o livro aguenta-se bem e vale a pena.

One thought on “Vinte Linhas 485”

  1. O livro é bom, gostei. Artur é alguém que fica pasmado só à lembrança de Lisboa. Ele tem que conhecer a capital, ele sonha com a capital, palpita por essa cidade onde ele estaría sem dúvida destinado ao sucesso. Mas a história acaba mal – ele foi lá e acabou por ser ‘comido’ de cebolada por quase todos. Era toda a gente a xulá-lo. Depois de ter sido bem encavado e encornado, lá acabou por regressar ao seu buraco em Oliveira de Azeméis, a amargurar a sua ingenuidade.

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