«O silêncio: lugar habitado» de Graça Pires
Autora que se estreou em 1990 com «Poemas», Graça Pires surge com o seu 11º título, Prémio Nacional Poeta Ruy Belo, edição da Labirinto, capa de Júlio Cunha e apoio da Câmara Municipal de Rio Maior. O título começa por suscitar uma interrogação. Como o silêncio é o oposto da palavra (A palavra é tempo, o silêncio é eternidade), o poema organiza-se entre Paisagem («as aves marinhas vão morrer no solitário coração dos barcos afundados» ) e Povoamento: «Não tem fim o silencioso enleio / que se esconde por entre a argila / nos dedos do oleiro; ou se enrola no linho / dos lençóis tecido pelas mães».
Depois funciona entre o Lugar («No meu país havia marinheiros / com braços de tempestade») e a Memória: «Os antigos conheciam os segredos dos caminhos e dos muros». A seguir oscila entre a Natureza («As abelhas coladas à cal dos muros / pela violência da luz / tornam impossível a essência das colmeias») e a Cultura: «Contra a luz não ousávamos quebrar / o silêncio que na música se abrigava / Schubert e as canções em palavras».
Por fim esta poesia discreta, alta e sábia, opõe a Morte («pode ser um nó / ou um grito ou uma trepadeira enroscada / no corpo ou na lápide onde escreverão / o nome que tivemos») e as Palavras: «Às vezes vêm de muito longe / de fatigadas viagens / de mortes prematuras / de excessivas solidões / Mas vêm. / E trazem a inicial pureza das fontes / E a lâmina do silêncio / E a desordem da noite / E a luz extenuada do olhar / Tão cúmplices, as palavras.»
as palavras são eternamente vivas, zézinho?:-)
Não, pelo menos nem todas as palavras são eternamente vivas. Algumas que nos chegaram dos velhos Gregos e outros Antigos parecem eternas mas eterno é o silêncio. As palavras, como o Amor, são precárias, breves e frágeis.
o amor é precário, breve e frágil. não é assim, antes, o desejo? :-)