Será que o acaso não existe?
Há um mistério entre as recordações e a memória, uma terra de ninguém onde os sons se perdem, as imagens se diluem e as revelações se deixam apagar por um empurrão do acaso. O acaso não existe – alguém teima em repetir no encontro casual numa livraria das Escadinhas do Duque. O dono da livraria sorri e dá razão a toda a gente. Para cada um sua verdade – título de um livro, lema de vida para quem tem uma porta aberta, sujeito aos diários encontros e desencontros do acaso.
Um poeta que veio do Brasil passou aqui e escreveu o poema das Escadinhas do Duque sem saber ainda que o livro onde o poema seria incluído seria dado à estampa numa editora das Escadinhas do Duque.
O acaso não existe – é a frase que teima em permanecer no meu espírito. Acabo de sair de um Tribunal e avanço disparado para a beira-rio. Passo pelo interior de um parque de estacionamento, percorro esplanadas diversas e páro no Peter. Mando vir pão com atum e um gin tonic. Envio mensagens a alguns amigos dizendo onde estou. Que te faça bom proveito – respondem calorosos. O acaso não existe – é a conclusão provisória desta crónica. Porque somos nós a fazer minuto a minuto as nossas escolhas do momento. Viver é escolher, estamos sempre a escolher o que julgamos ser o melhor para nós e para os nossos. O acaso não existe? Talvez. Só o presente se vive, nunca ninguém meu conhecido viveu no futuro e este gin tonic não é do passado. Mas quem é que me pode explicar quem, que força estranha me conduziu do Tribunal à mesa do Peter na beira-rio de Lisboa numa destas tardes cinzentas a ameaçar chuva?
A força estranha: ter estado comprimido num lugar e precisar de activar os músculos, arejar os neurónios, e repor os níveis de glicémia.
O acaso existe na medida em que não existe e vice-versa. Em linguagem corrente diz-se calhou ou não calhou. De nada vale escolher e não calhar.
Simplesmente o acaso faz parte da vida.
gostas da água. com certeza.:-)
Alguma garina que viste por aí, Zé. Ou encontraste síto para estacionar de borla.
O Zé não levou o carro; foi a pé. Pão com atum e gin tonic é que me parece não ligarem muito bem. Ou será só pretexto para sabermos que frequenta o Peter?
Se não existisse, não se falava dele
Dizer que atum e gin tonic não ligam entre si só pode ser por ignorância, burrice ou maldade. SEja como for fica registado o atrevimento deste falso «bombeiro». Faz lembrar o outro «estão verdes, não prestam…»
«…ignorância, burrice ou maldade», escreve o zézinho. E ainda «…fica registado o atrevimento…». Tanta prosápia em duas linhas! Só conheço o Peter’s Café da Horta e prefiro de longe uma salada mista (ex-libris do Peter!) ao pão com atum, é uma questão de paladar. E para a próxima, zézinho, veja se escreve gin TÒNICO em português, seu peneiroso da treta. Conselho de bombeiro.
bombeiro, andas inflamado.:-D
Estás pitosga, andorinha: podias ter reparado que coloquei mal o acento em TÓNICO. Foi uma rasteira da tua prima «gralha». Fica emendado. E agora, vai ver se estou na esquina, ó sinhã de mau-agoiro!
:-)
neste caso o acento não mudou nada. ai que saudades das intermitência da CCorte.:-)
(vá, leva lá o carretel para focos indomáveis).:-)
José do Carmo Francisco,
Apetece-me dizer-lhe o seguinte:
Não sei quando o acaso existe, mas sei sempre quando ele não existe