«O Homem quase novo» de Paulo da Costa Domingos
A partir de Sá de Miranda («Que farei quando tudo arde?») Paulo da Costa Domingos inscreve nos seus poemas o inventário do real: «cansa estar-se assim conectado / à máquina da banca enquanto / gira o tapete-rolante de um real / a degradar-se». O Homem novo, prometido nas revoluções, está adiado; o Mundo também: «Negra, a maré ainda não bateu / à nossa porta. Ácidas, as chuvas / ainda não comeram o pasto / do nosso rebanho». O Homem está dividido entre um tempo juvenil povoado por vizinhas inacessíveis («Bezerras imaturas») a Vala Comum dos idosos entre as ruas («o município não recolheu um pombo morto») e os lares: «Acenam uma separação / que vai ser irreversível, coração na boca / e duas pedras frias na mão, entregues / a lares onde o poema nem sobrevoa / nem é real, na companhia veterinária / de parceiros no abandono». Entre o grito juvenil («Tá-se bem!») e a lágrima dos antigos («com os olhos húmidos») o poema vê nos gatos a ligação à Vida: «Fazer a verdura voltar / a parecer verde / para que os gatos se purguem / e o apaziguamento da idade / se concilie com a Natureza». Mas também o Paraíso perdido que o poema persegue: «Um vento atiça o gato, expulsa / essa dádiva selvagem do bosque / primitivo». Depois de Peter Sloterdijk («Numa cultura em que sistematicamente nos mentem, queremos saber, não apenas a verdade mas a verdade nua e crua») vem a homenagem a Cesare Pavese: «Fumo um cigarro, tento pensar agora / noutra coisa, mas sorrio / estimulado pelo meu segredo. / Escreve-se imaginando um leitor / que saiba ler. Farrapos.»
(Conceito e Edição: Frenesi)
ainda vou fazer um poema de homens novos, de paraísos presentes, de está-se bem com risos e lágrimas, à antiga.
Força, Sinhã !
Jnascimento
(pronto, já cá está) :-)
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
um acordar em beijo de abraço
um deitar em abraço de beijo
(um amor branco de ternura e de desejo)
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
duas mãos cerradas de força ao peito
dois peitos abertos sem força no leito
(um amor de espertina escrito a preceito)
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
um ensaio de drama por ano
uma crónica por mês
um romance por semana
um livro de poemas por dia
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
poesia a toda a hora, simplesmente poesia: insisto
e se num minuto a rima faltar
não desistas, amor, de mim
estarei somente a descansar,
ou os dedos do bico do lápis a afiar
não vês que o riso do choro é assim?
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
um lavar de alma no rio, da alma que cora no mar
uma corda de nós com laços
um todo de brilhantes pedaços
safiras brutas em lapidar
como eu quero, meu amor, que o amor seja isto
poesia a toda a hora, simplesmente poesia: insisto
um incêndio de tu e uma chuva de eu
uma chuva de ti e um incêndio de mim
poesia a toda a hora, simplesmente poesia: insisto
como também assim quer o meu deus:
e o meu deus quer que o amor seja isto.
Porra, Sinhã ! Que maravilha!
Jnascimento
:-) obrigada, Jnascimento.
(mas o meu poema é isso mesmo que dizes: fala de uma porra – que tem de ser maravilha) :-)
Sinhã, ganharás um inimigo despeitado assim que o carmelo franciscano terminar de ler o teu poema.
Exma. Sra. D. Sinhã, apresento-lhe os meus respeitos.
porquê, Luvas Tires? (o Zézinho, Senhor-Artista, sabe que sou e serei uma eterna aprendiz encantatória) :-)
grata, Jafonso. :-)
(mas fico a pensar quais são os condimentos desses respeitos.) :-)
Aqui estou depois de um dia de hibernação, já com os 60 acumulados e 18 pessoas à volta da mesa. Já só pago 4,90 euros no cinema… Agora a sério: vou dizer duas coisas. Uma que não sabes e outra que sabes. Não sabes que gostei muito do poema, ficas a saber. O melhor elogio é esse, trata-se de um poema. Um texto acabado, uma peça concluída, um discurso organizado. Mas sabes que a poesia é uma questão de maratona – não é corrida de velocidade. Este poema está a pedir um livro, a tal maratona que é o oposto da corrida de 400 metros.
:-) gostei tanto do que disseste e da forma como disseste. muito obrigada, estou comovida. :-)
(mas não 60, não: toca a levantar que tens muito o que fazer. palminhas à tua vida.) :-)
Ok tudo bem fui sincero como sempre, não fiz rascunho… Tenho alguma experiência, o meu primerio livro ainda foi composto a chumbo – isso agora até parece pré-histórico. De facto nasci em 13-2-1951 – não há volta a dar. Naquele tempo era o dia das «5 chagas de Cristo» mas depois mudou o calendário. Obrigado pela mensagem de simpatia. Toca a arribar que tristezas não pagam dívidas…
:-) isso mesmo. :-)
Exma. Sra. Da. Sinhã, os meus respeitos são condimentados pelos atributos que caracterizam um poema do qual gostei e que encontrei naquele com que nos brindou. Tem mais ou foi apenas um fogo fátuo?
:-) não são necessários tantos berloques – trata-me, à espanhola, por tu.:-)
(sim, muitos mais – a minha poesia não é veloz) :-)