Inácio Rebelo de Andrade (n. 1935) assinou em 1998 o livro «Quando o Huambo era Nova Lisboa». Este volume recente inclui uma série de 82 fotos de Angola, 82 memórias comentadas e, num certo sentido, continua o livro anterior. Há nestas 190 páginas não apenas a paisagem mas também o povoamento.
De um lado a geografia da terra: «Não há sol como o de Angola: amarelão, redondão, gordão, faiscante sobre a terra e sobre o mar, que aquece o corpo e conforta a alma. Quem teve o privilégio de ver esse sol um dia não o esquecerá jamais».
Do outro lado a história: «Era o costume: numa terra onde os negros predominavam, os brancos é que davam nome às ruas, às avenidas, aos largos, não importa a que lugar público homenageando com isso os patrícios importantes do Puto. Havia assim a Rua Serpa Pinto, a Avenida António Barroso, o Largo Maria da Fonte, etc., etc.».
No intervalo entre paisagem e povoamento fica a viagem que o próprio livro constitui: «Naquele tempo as estradas de Angola eram de terra batida e havia rios sem pontes entre as margens. Chegava-se lá, podia ter-se a sorte de a jangada estar já à espera – e era então meter aí a viatura, imobilizá-la com a caixa de velocidades e o travão de mão, caçar-lhe bem as rodas e iniciar a travessia».
(Edições Colibri, Capa: Francisco Amorim, Revisão: Maria Villanova)
Nos anos 80 fui em trabalho a Luanda. Ao passar no Kinaxixe dei com um blindado russo num pedestal, que outrora fora a base de uma estátua. Na base tinha pintadadas a preto o seginte; “Maria do Tanque”, perguntei ao meu colega angolano o que era aquilo. Ele respeudeu-me; no tempo colonial era aquela, a estátua da “Maria da Fonte”.