«Cópula e outros poemas notáveis» de Luís Filipe João
Luís Filipe João (n. 1949) publicou em 1981 a primeira edição deste livro que surge agora numa segunda edição aumentada com mais 23 páginas de texto e ilustração.
Entretanto publicou em 1994, 1996 e 1999 mais três títulos: «Chocolate em repouso», «Os revólveres de Schopenhauer» e «Poemas práticos».
Da primeira parte do livro lemos de novo o início do poema «Cópula»:
«Ejaculante seda / encrespada esfíngica pele rutilante de ébano / violando sólido aflito clítoris / o pagem corpo endereçando ionizante / de aragem insuspeita abrupta ruptopénis lento / intumescido afagar de pétalas denteando o seráfico dédalo / alvinescente no deleite escorrendo carícia (…)»
Há na segunda parte do novo livro um outro ritmo, mais sincopado e breve:
«Amanhã mil nervos. / Um cavalo branco ou negro de vento / Me levará para o / Mosteiro do silêncio. / A espada repousará no esquecimento».
Os novos poemas prolongam esse anterior encontro do Homem e da Mulher:
«Somos puros / chove granizo / nos teus dentes. / Os joelhos aceleram / a luz sem regras. / A oração começa nos olhos / da libelinha».
Pode ser uma oração mas esse lugar pode ser o novo nome do poema: «A poesia é o segredo / guardado na estrela / prestes a explodir.»
(Edições MIC, Colecção Salamandra, Desenhos: H. Mourato e Fernando Grade)
fiquei cópulosa.:-)
Eu afianço que daqui por 50 anos ninguém se recordará do ruptopénis com falta de pilhas, nem do livro, nem do autor. Alguém recorda do Romaria do missionário que arredou Pessoa e Mensagem do 1º lugar do concurso do SPN? Só se for pela anedota.
“A oração começa nos olhos / da libelinha”
Da Isabelinha, diria o Duagte Pio de Bgagança.
“A oração começa nos olhos / da libelinha”
Da Sinhãzinha, dirá mais logo o Essa de Ceirós.
O ceguinho e o bolchevique
(…)
O regulamento destinava dois prémios a obras poéticas, sendo o primeiro, no valor de cinco mil escudos, atribuído a um livro não inferior a 100 páginas. A edição da “Mensagem” que Pessoa apresentou a concurso tem precisamente – e não será coincidência – 100 páginas numeradas, mas incluindo as que apenas ostentam títulos, subtítulos e epígrafes. O estratagema não pegou e a obra foi eliminada do concurso pelo respectivo júri, que, no entanto, terá apreciado o livro, já que usou do subterfúgio de o considerar um só poema (juízo, aliás, aceitável) para o poder premiar na segunda categoria, dotada de mil escudos e relativa a poemas soltos. Por intervenção posterior de Ferro, Pessoa acabaria por receber os mesmos cinco contos que couberam ao vencedor da categoria principal, o jovem missionário Vasco Reis, de 23 anos, que se candidatara com o livro Romaria.
Sabendo-se qual foi a posteridade da “Mensagem” e do seu autor, não deixa de ser caricato pensar que rivalizou com um livro como “Romaria”. Podia até ser uma estimável obra esquecida de um autor a quem o tempo não fez justiça. Mas não é. É um drama em verso absolutamente ridículo, protagonizado, entre outros, por um ceguinho, um bolchevique e uma entrevadinha.
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Vale a pena transcrever um diálogo entre estes dois últimos, que até é dos trechos menos soporíferos do livro. Grita o bolchevista, dirigindo-se ao seu “macho esquelético e lazarento”: “Arre macho! up! up! vais a dormir, diabo!/ Tens vocação p”ra frade e ócios de nababo!/ Porca de vida a minha!” A entrevadinha procura aquietá-lo: “Ó filho, tem paciência!/ A Dor é sempre um bem nas mãos da Providência!…” Mas o marido não é homem que agradeça um conselho: “Caladinha, mulher! ou temos salsifré!/ Se vês que o macho arreia, então vai tu a pé…//… Um raio duma velha escanifrada e má,! A qu”rer-me converter… E esta?! Vejam lá!” Já o ceguinho, vem-se a saber, era afinal Santo António de Lisboa, e não só cura as maleitas da entrevadinha, como alcança converter o bolchevique, que, na última página, já “resplandece de luz interior”.
O mais espantoso é que o júri que escolheu este pastelão incluía quatro autores respeitáveis: a novelista e dramaturga Teresa Leitão de Barros, o poeta Acácio de Paiva, o já referido Mário Beirão e, pasme-se!, Alberto Osório de Castro, poeta de inegável talento, amigo íntimo de Camilo Pessanha, apreciador de Baudelaire e Verlaine, colaborador da Centauro e de outras revistas modernistas. Poderíamos imaginar que se limitou a subscrever a escolha dos outros jurados, para não criar conflitos. Nada disso. Fez questão de deixar escrito, na sua declaração de voto, que, ao ler Romaria, tivera “a sensação que produziria a aparição de um Cesário Verde ou de um António Nobre”. Acontece que este novo Nobre escrevia assim: “Com o dinheiro da ceia/ Vais comprar uma candeia./ Tem paciência, Zé Miguel!/ Antes sofrer a larica,/ Que andar sempre na botica.”
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Quando esse júri, há três quartos de século, pegou na “Mensagem”, sem saber o que o esperava, começou por ler esta quadra, que abre o primeiro poema do livro: “A Europa jaz, posta nos cotovelos:/ De Oriente a Ocidente jaz, fitando,/ E toldam-lhe românticos cabelos/ Olhos gregos, lembrando. (…)” Compare-se com a primeira quadra de Romaria: ” – Sou ceguinho de nascença/ Deus o quis e foi por bem…/ Que não vejo assim no mundo/ Tanta dor que o mundo tem…” Já o júri do SPN nem essa desculpa tinha. Nenhum deles era ceguinho.”
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Excerto de um texto de Luís Miguel Queirós
Lembro-me destes “ceguinhos” de cada vez que o jcf diz que fez parte do júri que premiou um poeta com olhos de libelinha e tomates a condizer.
:D
mas tomates quais figos intumescidos :)
POEMAzinho inspirado na “ejaculante seda” e no coitado do “sólido aflito clítoris”. Ele há solidões que não são nada recomendáveis.
É assim:
Tau-tau pela má poesia
que revolve as entranhas
provocando azia
e metáforas estranhas
Tau-tau e muitos tau-taus
Que o ângulo recto ferve a 90º
PS. Eh pá e ando eu a tentar deixar de beber…
Zézinho, já sabes: a inveja move mais gente que pessoas.:-)