«Fragmentária mente» de Manuel Barata
Neste seu terceiro livro de poemas Manuel Barata (n. 1952) não se afasta das linhas dos anteriores volumes de 2003 (Quadras quase populares) e de 2005 (Fragmentos com poesia). Junta Natureza e Cultura. No poema Junho recorda a terra onde nasceu: «Nas manhãs de Junho / Quando o sol tudo doirava / A nossa casa era também / A sombra da oliveira / Do outro lado da rua». Mas em vez da mãe pode ser a avó: «Muito erecta em seu balcão / De cores tristes vestida / Cantava toda a manhã».
Noutros poemas surgem citações e leituras de autores tão diversos como Jorge Luís Borges, António Machado, Paul Éluard, Manuel da Fonseca, Ferreira de Castro, Gil Vicente, Bernardo Santareno, Cesário Verde, Adília Lopes, José Gomes Ferreira, Herberto Hélder, António Ramos Rosa, Ruy Belo, Bocage, Miguel Torga, José Antunes Ribeiro, António Nobre, António Osório e D. Dinis.
Enquanto lê a poesia culta o autor sente o fascínio da quadra popular: «A tristeza de uma vida / Pode ficar registada / Numa quadra comovida / Quatro versos, quase nada».
No entanto a sua escrita contém e articula uma revolta proclamada com todas as letras: «Pertenço a uma geração / Que tudo deu à pátria / E da pátria só agravos recebeu. / Nasci sob a pata e a bota / Do déspota de Santa Comba; / A Angola fui parar / Longe da pátria e dos meus; / e lutei pela democracia / E por uma pátria fraterna. / Rapazes de cueiros dizem agora / Que gozo de muitos privilégios. / E eu digo (lhes) livremente: / A puta que os pariu! / A puta que os pariu!»
(Edição: Edições Alecrim, Capa: Hugo Feio)
“Pertenço a uma geração…”
Isso é poesia? A mediocridade dá para tudo, é o que é.
Ó pá essa podia ter ficado no tinteiro. Não sabes que é o tempo que se encarrega de separar o pó da posteridade? E tu não és o tempo…