«Fernando Pessoa – Empregado de escritório» de João Rui de Sousa
Trata-se da segunda edição (revista e aumentada) do já clássico livro de 1985 que João Rui de Sousa organizou para o SITESE. Fernando Pessoa foi sempre múltiplo: poeta e pensador, ele-mesmo e ele multiplicado em heterónimos, esteta e político, crítico literário e sociólogo, introspectivo e polemista, ansioso e lúcido. Mas desde 1907 e até ao fim da sua vida Fernando Pessoa foi sempre correspondente estrangeiro em numerosos escritórios. Como refere Bernardo Soares: «Todos nós, que sonhamos e pensamos, somos ajudantes de guarda-livros num Armazém de fazendas ou de outra qualquer fazenda, em uma Baixa qualquer. Escrituramos e perdemos; somamos e passamos; fechamos o balanço e o saldo invisível é sempre contra nós.»
Da sua colaboração na «Revista de Comércio e Contabilidade» vejamos três notas:
«Em correspondência comercial há três princípios que convém ter presentes: antes mais explicado que mais breve; antes muitos parágrafos do que poucos; antes responder depressa, embora dizendo só parte, que demorar a resposta para dizer tudo.»
«Uma carta áspera ou violenta é sempre injustificada porque é sempre inútil. Indispõe e não dá resultado. Quem não paga porque não quer não passa a pagar porque lhe dizem que não paga porque não quer. Isso já ele sabe. E quem não paga porque não pode, não fica contente que se lhe diga ou se lhe insinue que não paga porque não quer.» «É do pior gosto, e do pior efeito, desculpar-se um chefe com um erro dum empregado. Não há erros de empregados. Todo o erro dum empregado é apenas o erro de ter empregados que fazem erros.»
(Editora: Assírio & Alvim, Capa: fotos do escritório de Francisco Camello)
«A actividade social chamada comércio, por mal vista que esteja hoje pelos teoristas das sociedades impossíveis, é contudo um dos dois característicos distintivos das sociedades chamadas civilizadas»
Fernando Pessoa.
Porreiro. Trabalhei 30 anos no departamento de comércio externo de um Banco. sem o comércio não tínhamos café à mesa…