Um livro por semana 159

«A Reconstrução do Sagrado» de Aurélio Lopes e João Monteiro Serrano

Depois de «Videntes e Confidentes» sobre Fátima, Aurélio Lopes, que se estreou em 1995 com «Religião Popular do Ribatejo», regressa ao tema em parceria com João Monteiro Serrano. Com o subtítulo de «Religião Popular dos Avieiros da Borda d´Água», este volume de 168 páginas investiga o modo como a religião em memória trazida da Vieira de Leiria se transformava em religião prática nas aldeias à beira do Tejo. A viagem era complicada: «A gente ia primeiro a pé até Monte Real, em seguida de comboio até Alfarelos e, depois, noutro comboio até Santarém». A instalação não o era menos: «O barco era instrumento de trabalho mas igualmente casa, veículo de transporte, maternidade e enfermaria». Com a itinerância, os Avieiros deixaram de frequentar as igrejas («excepto para casamento ou funeral») e a razão era a distância: «Não íamos porque era muito longe e não tínhamos vida para isso». As relações com as comunidades locais não eram fáceis: «Aos Avieiros do Patacão que mandavam os filhos à escola na Quinta da Lagoalva, era-lhes exigido que frequentassem a missa ao domingo em conjunto com as crianças, condição indispensável para as mesmas terem direito ao almoço escolar na semana seguinte». Os pioneiros sabiam rezar («A minha avó sabia. Ela era da Vieira») mas os mais novos já não: «A gente não tinha vagar de aprender as rezas porque andávamos de noite e de dia por lá». Daí a importância do bruxo: «Esta noite iam e apanhavam bom peixe. Se na noite que vem não apanhassem nada, diziam logo que era uma bruxa que andava ali».

(Editora: Âncora, Prefácio: D. Manuel Pelino Domingues, Capa: Ideias Virtuais sobre foto de João Serrano)

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