Retrato de mulher no Bairro do Bom Retiro em 1961

Sempre de luto, não lhe sabia o nome

Que se esgotava em ser mãe de três

O António, o Manuel e a Marcolina.

A água do poço da casa era salobra

E servia apenas para as lavagens

A da sopa era da fonte de Santa Sofia.

A casa deles era pobre, húmida e fria

Mesmo rente à terra de semeadura

E muito abaixo do muro da nossa rua.

O mais velho era campino, lá longe

Vinha só de quinze em quinze dias

Para levar o avio numa saca preta.

António não usava o fato das festas

Mas sim o vulgar tecido de cotim

Tal como os militares e todos nós.

Manuel e Marcolina iam à Escola

Não tinham livros, alguém lhos deu

E calçavam sapatilhas das baratas.

Ainda hoje lhe recordo a silhueta

O cheiro da sopa de todos os dias

A máquina onde costurava lágrimas.

E não lhe recordo o nome que não sei

Nem a sua vida que trocou pela vida

Dos seus três filhos sempre asseados.

4 thoughts on “Retrato de mulher no Bairro do Bom Retiro em 1961”

  1. “A máquina onde costurava lágrimas.”

    devia ser uma singer, só acessível a pobres, uma espécie de hoover do pós-cavaquismo.

  2. ò gajo, pázinho, meue, claro que não recordaze o nome, e só recordas o «material», mas devias recordar-lhes o nome, sabes porquê? Para te lembrares do esforço da pessoa. Oube, por acazo resolvestes ajudá-la ou simplezmente decidiste saber da bida da mulhere? Tu éze uma alcuviteira, pá, tá-te no sangue, pá. Debes ser daqueles que bais á feira da contrefaçãoe e compras marca e exibes tipo pabãoe com penas murchaze, pá.

    Poize olha, pá, a dita sofredora se cumpriue com a cruze dela, podes crere que tem um cantinho num dos céuze. Tue, tu bais lá pra baixo com a lengalenga do que é barato e caro.


  3. Dos seus três filhos sempre asseados.

    continuando…

    O mê sobrinho Leitão
    caiu e ficou de borco.
    ‘Tá crescido e matulão,
    inda um dia chega a porco!

  4. continuando deste lado,

    O zeca tá pedrado
    chuta na beia o tempo todo
    só lhe sai trampa ralada
    em jeito de merda melada

    Ele é o bronco da benedita
    o tal que se diz de poesia
    mas só escrebe trampa
    ele é o poeta da merdesia

    Toma lá, ó Ca bresto. Fogo, esta gaita já pode editar uma antulugia de estrofes pró bairro alto e para o zézinho poder fazer um desenho e um cumentário.

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