Atento, discreto, pacato. No perímetro da luz, olha a dona. O gato.
No lume aceso com a lenha do barracão antigo, as sombras são afastadas até ao sótão da infância. Aos gatos, sua paisagem, seu povoamento.
Que força empurra o gato frente ao sol no castanho-luz do telhado?
Teu gato a quem a chuva proíbe telhados e terraços. Veio do Egipto num navio de Veneza. No Cacém, sorri à dona portuguesa.
Terra trazida. Pequenas partículas de chuva nos limões e nas maçãs, invisíveis memórias de uma terra trazida. Minha terra, perto do teu gato.
Vejo intervalos de sol nos telhados do bairro, humidade permanente a respirar nas telhas como se o prédio fosse um corpo cansado, humano. O gato espreita.
Roubar alguns cabelos teus para fazer cordas de uma guitarra. Suave melodia, frente ao gato.
Há no teu olhar telhados infinitos, memória de paquetes brancos no rio e de sardinheiras vermelhas na varanda ao lado. Luz e calor. Gatos e sorrisos.
Há na tua voz um som que incorpora os sinos de Lisboa. De São Roque à Sé, da Conceição Velha à Madre de Deus. Toda a geografia de um afecto assim reproduzido, junto ao gato na janela.
tudo bem a menos aqui de uma pulga que não me larga, psicopulga,
Obrigado «z»; para ter um leitor já vale a pena escrever. Porreiro, pá.
Também quero um “porreiro pá”!
E tens todo o direito, jovem, apenas não poderei dizer como ao outro porreiro «pá» mas quando muito «porreiro, miúda». Prova que apreciaste o meu trabalho feito de paciência, acumulando as palavras em degraus…
Que trabalho, que paciência? Então não foi só chegar à janela para ver a luz à hora em que havia gatos e donas e os sinos tocavam, porque os telhados até estão lá sempre? E depois foi só deixar as teclas traduzirem-no.
Ficou porreiro, homem!