Chuva nos telhados da Travessa André Valente

Os pingos de chuva são uma oração ao contrário, lágrimas de Deus em direcção à terra.
Nos telhados da grande cidade a água perde-se e entra, minutos depois, nas sarjetas do fim das ruas. Ou travessas. Ou praças. Ou avenidas.

Nas velhas províncias, nos barracões e nas adegas, entre fumo e frio, a água multiplica-se nos pátios interiores, nos regatos, nas ribeiras e, por fim, nos rios maiores a caminho do mar.

As gaivotas aparecem no telhado do prédio em frente. Fácil de explicar: o Tejo está apenas a mil e cem metros de distância. Chegam tarde para anunciar a tempestade que já se instalou nos telhados da Travessa André Valente.

No pormenor do óleo de Estrela Faria (datado de 1934) surge o esplendor da cor da cidade, arco-íris de telhados onde a chuva que não pára se assemelha a um óleo capaz de eternizar a força do momento e o mistério do quadro – pequena superfície que aspira a registar para sempre um lugar e as suas cores felizes.

3 thoughts on “Chuva nos telhados da Travessa André Valente”

  1. “Os pingos de chuva são uma oração ao contrário, lágrimas de Deus em direcção à terra” Gostei!

    A avaliar pelo chuva que tem caído, Ele deve estar farto das palhaçadas que se passam cá abaixo.
    As cócegas devem ser um bom método para fazer regressar o sol.
    Viva as cócegas! Abaixo os palhaços!

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