Traz a casa das sementes
Com enxadas e forquilhas
Nos poemas diferentes
Foi casa de maravilhas
Entre a luz da Natureza
E o esplendor da Cultura
Seu poema é a incerteza
E não lhe cansa a procura
A raiz feita de afecto
Chegou à Academia
Na vindima do projecto
Faz falta a adega fria
Se a língua é um espanto
Milagre só igual à vida
Um voz que sobe ao canto
É clamor e terra erguida
Nas adegas e nos celeiros
Com sementes e cereais
Cabem precisos, inteiros
Os corpos dos animais
E se as palavras são pão
Dum forno de muita gente
Cada poema é um grão
E o campo quer semente
À porta dum hospital
Ou escondido na capela
Toda a clínica geral
Se fecha numa janela
Numa igreja londrina
Ou no museu madrileno
Mulher atrás da cortina
É um Vermeer sereno
Ou Goya de fuzilados
Corpos caídos sem luta
Quantos tiros disparados
Na infâmia que se disputa
Entre o nojo e o delírio
Entre a morte, seu mistério
Entre o hissope e o círio
Só um remorso é critério
Se a morte é ignorada
Surge o lugar do amor
A vida não vale nada
Se lhe falta esse rumor
Velásquez tinha meninas
El Greco perto do Tejo
No volume das esquinas
Um perímetro do desejo
Entre Palmela e Azeitão
No moscatel mais doirado
O poema dá uma razão
A quem o tem trabalhado
Poeta da arte e do ofício
Entre a pedra e a verdura
O poema é o precipício
Do que o sonha e procura
JCF, pode ser que isto cantado se torne mais tragável. Coitado do Osório.
tão gira (mas não breve, zézinho).:-)
Sinhá «breve» porque o autor publica poesia regularmente desde 1972. Topas???
o que seria de mim sem ti para me destopares os olhos, zézinho.:-)
O Osório não foi à tua cama puxar-te os pés durante a noite? Livra!
Eu digo «Safa!» e até podia dizer «Livra!» mas não digo. O que alguém escreveu acima vale menos que o peido de um cigano. Menos que zero…
zézinho, conta-me a que cheira o peido de um cigano
(assim, o livra! também ouve e fica a saber o que valeu. contas?) :-D