Balada para Carlos Paredes

Na mais teimosa vontade
Entre as cordas e os dedos
Nasce um rumor na cidade
A empurrar velhos medos
Era o mundo a duas cores
Dentro dumas fotografias
Meia dúzia de senhores
Confiscavam nossos dias
Se para uns era a SACOR
E bons empregos escassos
Para outros era a MABOR
E o pior para nossos braços
A guitarra é uma bandeira
Que juntou esta multidão
Entre o Rossio e a Ribeira
A água azul dum camião
De autocarro muitas vezes
Entre Benfica e Sete Rios
A música dos portugueses
Não precisava dos fios
Nem rádio nem televisão
Davam a exacta medida
O esplendor duma paixão
Mais forte do que a vida
Os sons desta melodia
Resistem a toda a usura
Se os oiço hoje em dia
Envolvidos em ternura
A força da qualidade
Bateu um acorde triste
Na luz da posteridade
Carlos Paredes resiste

6 thoughts on “Balada para Carlos Paredes”

  1. Prezado JCF,

    Grande musico, o Carlos. Um mestre. A unica coisa que lamento e ele ter andado a tocar balalaika tantos anos quando nao tinha mais nada que fazer. Mais aprenderia se tivesse ido a missa de vez em quando. Quanto ao poema, com cheiro a gasolina e enxofre galvanizador de pneu de protesto, qualquer miudo sabe muito bem que nao saiu da pena de Lorca. Se e teu, como palpito, diria que estas de a-balada, como o meu compadre alentejano.

    Tens que meter urgentemente na cabeca uma coisa. Um poeta nao procura a Inspiracao, e Ela que vem ter com ele. Talvez seja por isso que nao se escrevem obras-primas todos os dias.

    Um abraco do teu admirador.

  2. Só não percebi uma coisa: então é agora, 32 anos depois do primerio poema publicado no «Diário Popular» e 29 anos depois do primerio livro premiado pela APE e publicado pela Moraes Editora que tu me vens dizer o que eu «devo meter na cabeça»??? Não te parece um bocado tarde para isso???

  3. Caro JCF,

    Precoce entao teres publicado o teu poema num jornal rasca como os demais aos 28 anos, e isso? Imagina tu que o Alegre na mesma idade ja era conhecido em Portugal e do outro lado da ‘cortina de ferro’, menos a Albania, e ate se pensava que ele iria ser o nosso Yevtuchenko. Ainda bem que ele nao acreditou nisso e acabou por preferir, anos depois, ir fazer malha para a AR, muito mais rendoso em todos os aspectos incluindo o de se ganhar fama.

    E claro que nao quero que metas nada na cabeca 32 anos depois de veres o teu nome impresso a letras gordas num suplemento literario de jornal, que disparate! Estava apenas a precaver-te contra a remota possibilidade de nem todos os teus poemas agradarem sempre, pelo menos a especialistas nesta area como eu. Ja agora faz um favor a gente e poi aqui esse poema historico. Garanto-te que vou le-lo e compara-lo no valor com esta balada, que presumo devas ter escrito naquela fase da tua vida em que oscilavas entre seres comunista ou socialista, porque anti-fascista ja eras, tenho a certeza.

  4. Ok combinado vou procurar esse poema de 1978, publicado mais tarde no livro «Universário» da Moraes Editora. A pedido de várias famílias. Um abraço

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