Velha rua de Lisboa
Que por acaso foi minha
Queria tornar-me pessoa
Tinha uma alma sozinha
Trabalho das nove às seis
Ao sábado toda a manhã
Ganhava trinta mil réis
O Inverno pedia mais lã
Bilhete de sete tostões
Uma zona em atrelado
Saía no largo Camões
Veiga Beirão atrasado
Avançava tão resoluto
Nas três cadeiras fatais
Sebentas do Instituto
As Chagas já são sinais
Cidade hostil para mim
Minha voz não se ouvia
Fosse assado, fosse assim
Nunca tinha uma alegria
A guerra era uma ameaça
Que sentia convocada
Nas fardas donas da praça
A morte foi medalhada
Nos cafés entre boatos
Com açúcar e amargura
Lia notícias e relatos
Visados pela censura
Já tantos anos passados
Olho de novo esta rua
Se viveu noutros lados
Tem uma que chama sua
Um obrigado muito especial ao Simão, com livraria nas Escadinhas de S. Cristóvão (à Madalena) sem o qual nunca teria chegado a esta fotografia. Nem ao poema. A foto é de 1966, ano em que comecei a trabalhar.
:-) trinta mil reis. quanto é isso?
Sinhã 30 mil réis são trinta escudos – era o que eu ganhava por dia em 1966. Dava 900 escudos por mes mas descontava para o fundo de desemprego e sindicato mas só aos 18 anos pude ser sócio. Bizarrias…