Grande parte da minha vida
Feita de paz e sem guerra
Foi numa casa construída
Com pedras daquela serra (Mote)
Na Serra dos Candeeiros
Parava o vento do mar
Eram lentos os carreiros
Com os olhos a cantar
Traziam pedras gigantes
Para a mão dos britadores
Fazer em poucos instantes
As pedras dos construtores
Os pedreiros sujos de cal
A pegar no fio de prumo
Que traça numa vertical
Lugar do fogo e do fumo
Sem desenhos ou papéis
Nascia a planta dum lar
Quatro canas dois cordéis
São os limites dum lugar
Na Serra dos Candeeiros
O azeite era o mais puro
Os ventos tão verdadeiros
A cantar por sobre o muro
Vinha a água das cisternas
Sempre boa e sempre fria
Sem as técnicas modernas
A limpeza era uma enguia
Vinha o leite já fervido
Vinha o queijo saboroso
O dia era mais comprido
Tudo era mais vagaroso
A pedra que me defende
Do Verão e do Inverno
Não se paga nem se vende
É um valor forte e eterno
A Serra dos Candeeiros e a torre altaneira da igreja de Sta. Catarina. É engraçado, nasci mesmo entre as duas (Benedita).
Não te quero obrigar a tomares um calmante, porque a tua saúde está acima de tudo, mas acreditas mesmo que exista algum Morricone entre o Minho e o Algarve preparado para arriscar Música numa balada dessas?
Posso dar-te um link dum vídeo dum gajo que declama Ovídio. Estás interessado?
Fica em paz na ausência de guerra e não me chames maloio porque é falta de educação.
Obrigado Teresa pela leitura e comentário. Sempre fui uma pessoa diferente em relação a rivalidades locais – nunca me pareceu que as terras ao lado da minha fossem piores, são apenas diferentes. Para mim Turquel, Benedita, Carvalhal e Vimeiro são boas terras com boa gente. Engraçado que a primeria memória da Benedita é de eu com a minha mãe pedirmos um copo de água e darem-nos um copo de água-pé… Era mais barato porque a água vinha de cisternas, a única parte da casa que estava sempre fechada à chave.
JCF, agora por causa da história das rivalidades, lembrei-me dos meus avós, quando nos contavam das verdadeiras batalhas campais entre a população da Benedita e Santa Catarina, para determinarem a “linha de fronteira” entre as duas freguesias (algures nas primeiras décadas do séc. passado). Ríamos até às lágrimas, quando eles nos descreviam como as pessoas se armavam com tudo o que tinham à mão, enxadas, sachos,ancinhos, foices, etc. para se degladiarem uns aos outros; não raras vezes com maus resultados. Felizmente, hoje já não existem essas rivalidades e damo-nos todos bem com os nossos vizinhos. Essa história da água-pé, por um copo de àgua, não conhecia, mas não me admira nada que assim fosse, pois a água era um bem muito precioso e não pela escassez, mas pelo trabalho que dava trazê-la para casa, carregando com cântaros e baldes do fundo dos vales onde estavam as fontes e os poços.
Linda igreja, com mensagem, com sol e paz. É uma igreja feliz, já o foi mais, mas continua chamativa. Um Portugal que teima em desaparecer.