Voix

c’est une voix de velours celle qui te dit que tu pourrais rester
si un oiseau habite sa bouche
ou si un barbiturique a choisi d’y vivre, je ne sais dire
mais la voix qui meurt dans ta voix
n’a faim d’aucune autre
et elle ne veut que ta bouche
rien que ta bouche

c’est une voix qui coule comme une fiole
qui ne chante qu’une fois et puis meurt
et en mourant laisse un trottoir mouillé
et une maison abandonnée et en mourant
laisse un trottoir et une ville perdue
une voix qui en mourant
sort entièrement

c’est une voix celle qui te demande maigre et affaiblie
qui se dépouille des mots après la pluie
qui fait ses adieux de la pluie après les mots
une voix qui part pour mourir
comme un chat dans les banlieues de la nuit
après s’être donnée entièrement
à ce qu’elle t’a dit.

Poema de Daniel Jonas (Moça Formosa, Lençóis de Veludo, CCA, 2002)
Tradução de João Pedro da Costa

12 thoughts on “Voix”

  1. gosto muito, é poema que aguenta tradução – ou se calhar é a qualidade da tradução que sustenta o sucesso da mudança de língua… podias era pôr aí, em extensão, a versão em português.

    (eh pá, e sejas bem-aparecido!)

  2. Além de poeta, o Jonas é tradutor. De várias línguas, para várias línguas.

    Daniel Jonas nasceu no Porto, tem 35 anos. É Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa com uma dissertação sobre o poeta inglês John Milton, de que resultou a tradução de Paraíso Perdido (Cotovia, 2006). Publicou quatro livros de poemas, entre os quais Os Fantasmas Inquilinos e Sonótono (Cotovia, 2005 e 2006). Traduziu Um Punhado de Pó, de Evelyn Waugh, e Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello. Prepara actualmente a tradução de À Rebours, de Joris-Karl Huysmans, e uma selecção e tradução de poemas de William Wordsworth.

  3. É lindo ver que ainda resistem aqueles que, em vida persistem em demonstrar talentos. Não os houvera e teríamos MacUniverso menos fastidioso.

  4. Imensas desculpas, queria dizer mais ( ), embora o engano me tenha encontrado paradoxalmente emburgado.

  5. Primo: foi o Daniel que, vá lá, me desafiou para a tarefa – ele foi convidado para participar num encontro de poetas em França e a organização pediu-lhe essas traduções. De início, a responsabilidade pareceu-me imensa, mas depois pensei: que diabos, não deve haver ninguém que gosta tanto da poesia dele como eu e por isso… Devo dizer que a experiência tem sido magnífica e que, de facto, é espantoso como a língua francesa se presta à sintaxe, à música e ao labor lexical da escrita do Daniel (se leres esta tradução em voz alta, por exemplo, isso nota-se imediatamente). O meu agradecimento à nossa Cláudia que me fez uma muito competente e atenta revisão das traduções. Ficou fã da escrita do Daniel e tudo. :-)

    Nik: o Daniel é uma poeta, até na forma como traduz (sempre para Português e não para várias línguas). A sua tradução de Paradise Lost é uma demonstração cabal disso mesmo.

  6. JPC: entendi, mal, que o Jonas fosse o tradutor do poema ou que o tivesse escrito directamente em francês.

    Antes dele, o Paraíso Perdido já tinha sido traduzido para português por três tradutores diferentes, desde o século XVIII. Fernando Pessoa tb projectou traduzir Milton, o seu poeta preferido de todos os tempos, acima de Shakespeare, mas nunca levou avante

  7. Muito obrigado pela explicação, primo, que nos deixa orgulhosos da família.

    Sem dúvida que a sonoridade é um dos encantos do francês. Não tenho a menor competência para avaliar a tradução, mas o que fizeste é, inevitavelmente, um novo poema onde as rimas e associações fonéticas encantam.

  8. Nik: as traduções anteriores são incomparáveis à tradução do Daniel, que é um monumento de sintaxe, ritmo e métrica.

    Primo: nem imaginas a minha alegria por estar a contribuir para a divulgação da poesia do Daniel no mundo francófono. Nem é uma responsabilidade, é uma pura alegria.

  9. Já agora… e este poema do Daniel Jonas?

    JÁ NÃO É POSSÍVEL ENROLAR MAIS ESTA ERVA

    Já não é possível enrolar mais esta erva
    nos teus dedos;
    os teus dedos
    já não tocam o nervo da noite
    e o fumo violento
    que inalas a desinfestar a alma
    faz-te vagarosa beleza.

    O anzol circular que o teu lábio mordeu,
    paixão de peixes,
    quer morder o meu
    aço. A erva quer ser lua
    na crescente inclinação rente.
    Eu não quero ser nada.

    E está frio, mas não menciono nenhum mês
    como o fazem os poetas.
    Duas belas balas medem
    o calibre dos meus olhos. Cindo nos dedos
    outros dedos contorcidos:
    o gás é nosso amigo.

    Não há grilos na hesitação
    do silêncio. Não há mortais desembainhando
    navalhas. Hoje longa hespéria
    te espero
    e assim como um torpor te entro
    como fumo
    nos pulmões.

    Magnífico!
    P.S. Bute fundar um clube de fãs?

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