What happened to Logan is every woman’s nightmare, but it’s also atypical. Most cases of sexual assault in Egypt are not as gruesome as Logan’s experience, they are instead much like what happens to Hussein—a near constant stream of verbal harassment and the odd groping. A 2008 study found 83 percent of Egyptian women said they had been sexually harassed, while 62 percent of men admitted to harassing women; 53 percent of men blamed women for “bringing it on” themselves. But there’s one thing the numbers don’t spell out: the psychological impact of frequent minor assaults—too trivial to report on their own—is debilitating.
Bom, como ninguém se chega à frente e o assunto é assim para o (muito) melindroso deixo apenas a expressão do meu nojo perante a cobardia e a baixeza inerentes no que respeita à vertente animal da coisa.
Quanto à vertente humana, custa-me pensar nas egípcias entregues às mãos daqueles mânfios abrutalhados e ainda me custa mais pensar que estes episódios abjectos possam condicionar a Comunicação Social ao ponto de a distinguirmos pelo género na hora de atribuir tarefas…
É muito bonito ver gente a arrotar postas de pescada sobre realidades que desconhecem.
Vejam lá se aprendem com quem sabe:
“5. Dear right wing blogosphere and also Bill Maher: You can’t generalize about women’s position in Muslim countries based on a reprehensible mob attack on CBS reporter Lara Logan. Generalizing about a whole group of people based on a single incident is called “bigotry.” It is also a logical fallacy (for wingnuts challenged by six syllables in a row, that means, ‘when your brain doesn’t work right’) known as the ‘Hasty Generalization.’ Nobody seems to note that allegedly helpless Egyptian women were the ones who saved Logan, or that Anderson Cooper was also attacked.”
http://www.juancole.com/2011/02/top-five-myths-about-the-middle-east-protests.html
E mais, muito mais em: http://www.juancole.com/
Já agora, para quem quer deixar de ser ignorante em geopolítica, fica outra recomendação:
http://walt.foreignpolicy.com/
Ah, isto agora é na base de “os que eu leio são mais espertos do que os que tu lês”?
Kid, ou chavalo como se diz no meu bairro, fala-nos lá dessa realidade que a menos que proves conhecer é tão bem fundamentada como a deste post e por isso tresanda a posta de pescada essa tirada mariola do “aprendam com quem sabe”.
Palavra que sou um observador atento do que tenhas para ensinar sem ser com a decalcomania de quem se calhar conhece tão bem a “realidade” como tu…
Ó shark, já que te preocupas mais com as desventuras de uma reporter americana, do que com as centenas de pessoas que estão neste momento a ser massacradas pelo regime Líbio, ou pelos manifestantes assassinados pelo regime Egípcio, ficam aqui as referências de quem te pode ajudar a perceber o que é históricamente relevante:
Juan Cole is Richard P. Mitchell Collegiate Professor of History at the University of Michigan. For three decades, he has sought to put the relationship of the West and the Muslim world in historical context. His most recent book is Engaging the Muslim World (Palgrave Macmillan, March, 2009) and he also recently authored Napoleon’s Egypt: Invading the Middle East (Palgrave Macmillan, 2007). He has been a regular guest on PBS’s Lehrer News Hour, and has also appeared on ABC Nightly News, Nightline, the Today Show, Charlie Rose, Anderson Cooper 360, Countdown with Keith Olbermann, Rachel Maddow, the Colbert Report, Democracy Now! and many others. He has given many radio and press interviews. He has written widely about Egypt, Iran, Iraq, and South Asia. He has commented extensively on al-Qaeda and the Taliban, the Iraq War, the politics of Pakistan and Afghanistan, and Iranian domestic struggles and foreign affairs. He has a regular column at Truthdig. He continues to study and write about contemporary Islamic movements, whether mainstream or radical, whether Sunni and Salafi or Shi`ite. Cole commands Arabic, Persian and Urdu and reads some Turkish, knows both Middle Eastern and South Asian Islam. He lived in various parts of the Muslim world for nearly 10 years, and continues to travel widely there. A bibliography of his writings may be found here.
é a segunda vez que este tema aqui aparece, o que decorre, suponho, da urgência de semelhante estudo por aqui: em portugal também não haverá certamente mulher adulta que não tenha sido alvo, alguma vez, de assédio sexual. é bom que a comunicação social continue a denunciar, porque a verdade é que as coisas parecem ter melhorado com a passagem do tempo.
Estás a tirar conclusões precipitadas, VW. E isso enfraquece imenso a tua argumentação, sobretudo depois de me esmagares com a artilharia do currículo de um gajo que não és tu pelo que não tenho forma de debater com ele e saber o que valem as suas ideias.
Tu apareceste a contestar, tipo billy the Kid, alto e pára o baile que está aqui a palavra de alguém que não me parece estar a criar os filhos na Líbia pelo que pode ser um teórico excepcional e não perceber um boi da verdadeira essência das coisas.
O mundo árabe está a sofrer um martírio, mas isso também o mundo judaico sofreu e não é por isso que tu achas que eles são os bons da fita.
Não vou aqui citar nenhum catedrático, defendo-me com o que tenho, os bons dos muçulmanos maus (tal como os cristãos homólogos) oprimem as mulheres e nem preciso de meter na mesa o clássico exemplo talibã. É um facto e não envolve um ou dois canalhas mas um número incontável de labregos que circulam por entre as multidões que lutam pela liberdade mas têm-nos lá no meio a tratar de hipotecá-la. Como se vê pela realidade da maioria dos seus regimes, alguns inicialmente bem motivados e depois entregues nas mãos de fundamentalistas religiosos ou de ditadores.
São factos. Não permitem generalizar mas também não me parece que seja isso que o post se propõe.
Agora vá, vem a mim com as pistolas e os carolas cámónes no cinturão e vamos deixar a onda kids para podermos falar a sério sobre as várias questões que o post suscita.
Bute?
As questões que o post suscita são irrelevâncias no contexto do maior “terramoto” geopolítico desde há 20 anos. Eu vou é falar de coisas sérias.
Os regimes da região foram todos forjados por um lado ou pelo outro da guerra fria
O seu único sustentáculo é o aparelho securitário.
Depois da descolonização, o Ocidente instalou as monarquias absolutas e a URSS instalou
regimes nacionalistas ditatoriais.
Quando surgiu uma possibilidade de democracia no Irão em 1953, a operação Ajax, levada
a cabo por Ingleses e Americanos liquidou-a, porque um regime democrático poderia levar
à nacionalização das petrolíferas.
Em seguida o Ocidente por um lado tentou fazer passar para o seu lado alguns dos regimes nacionalistas, o que conseguiu por exemplo com o Egipto de Sadat/Mubarak e (temporáriamente) com o Iraque do Saddam (e mais recentemente com o Khadaffi), por outro lado, patrocinou, juntamente com os sauditas, a proliferação por todo o Médio Oriente de escolas islâmicas que propagaram o fundamentalismo mais retrógrado, com vista a virar
as populações mais conservadoras contra o nacionalismo de inspiração comunista.
É espantoso contrastar as imagens, por exemplo, do Afeganistão dos anos 60/70 com o produto final da aliança saudita-americana (financiada pelo BCCI, que tinha a família Bin Laden no conselho de gestores).
E agora vêm chorar lágrimas de tubar… perdão, crocodilo pela situação das mulheres no Médio Oriente.
Devem pensar que tomam todos por estúpidos e ignorantes…
O Ocidente não é de todo alheio ao que aconteceu no mundo árabe nos últimos 70 anos. e isso não é justificável porque os judeus, ou os sioux, ou os aztecas tiveram experiências catastróficas.
Quem pensa que se pode sacudir assim a água do capote está muito enganado.
Quanto a eu ou shark achar que este ou aquele são maus da fita, isso é irrelevante porque existem umas coisas incontornáveis chamadas Geografia e Demografia.
a consequência destas é que a experiência colonial tardia, chamada Israel, só pode sobreviver mais que umas décadas se:
a) Abandonar os colonatos e retirar para trás da linha verde (fronteira de 67), mais coisa, menos coisa.
b) Ou fizer a limpeza étnica de pelo menos meio milhão dos palestinianos da cisjordânia.
Como os israelitas não querem abdicar da cisjordânia, bem podem começar a encomendar uns vagões e concretizar a definitiva ironia histórica…
Com a devida vénia para a espertalheza soberana das soluções que o Kid Karocho arranjou, mais os amigalhaços la do café, para resolver imediatamente e de forma duradoira, não so os problemas do Egipto, mas também os do médio oriente e os do mundo, estou com a Susana e com o Shark.
A nossa falta de respeito para com as mulheres, que é uma parte estatisticamente significativa da falta de estima que temos por nos proprios, não é APENAS fonte de lamentaveis agressões boçais.
E’ também, no sentido mais radical do termo, falta total de inteligência, e de jeito para a inteligência.
Por outro lado, a nossa multi-secular falta de inteligência (ou de jeito para a inteligência) talvez tenha sido forjada de proposito, no inicio, como instrumento para nos atirarmos mais facilmente aos mouros.
La no café…
Se tu achas que quem “chore” a condição feminina vergonhosa em boa parte do mundo árabe/muçulmano integra o grupo dos hipócritas que se concentram em questões secundárias estamos de facto nos antípodas nesta matéria, Kid.
Como tu, consigo discernir o efeito da herança maldita de um passado desenhado pelas potências ocidentais ao longo de vários séculos. Mas se esse efeito justifica a condição miserável de grande parte das populações desse mundo que mais parece outro, jamais branqueará os abusos que derivam da ignorância e sobrevivem da tolerância que nenhuma simpatia “clubística” ou remorso por tabela por causa dos antepassados deve enfatizar.
Tu concentras-te nos abusos de nações sobre outra, eu concentro-me nos abusos de pessoas umas sobre as outras. Comungamos a preocupação, apenas nos focamos em aspectos mais ou menos restritos. Mas julgo que também partilhamos um objectivo: a paz e a prosperidade para aquela zona do globo, o fim desta chacina imbecil que já pouco bebe das asneiras que citaste. As cicatrizes do passado, nos países como nas pessoas, não podem condicionar para sempre o rumo tomado ou justificá-lo quando errado.
Os povos escolhem destinos, como agora se vê, ou aceitam-nos por preguiça (olha o nosso exemplo ocidental, esse paradigma do sucesso planetário a que dou graças pertencer mas padece dessa apatia generalizada que acabará por degradá-lo a um ponto insustentável) e essas escolhas não podem ser imputadas a terceiros por sistema.
É o caso da opção pelo desrespeito pelas mulheres, algo de tão censurável, absurdo e contraproducente nessas populações como na nossa, mas felizmente cada vez mais desigual no grau de impunidade que só pode sustentar-se em falsos pretextos ou no poder de tradições culturais ou outras que o tempo precisa matar porque as coisas mudam.
Podem mudar a partir do todo, como tu defenderias, ou pela soma das partes corrigidas pelo saudável efeito da liberdade e da democracia que nos permite, como é minha dama, lidar com um problema de cada vez e em função da maior ou menor sensibilidade para com uma qualquer das faces medonhas da natureza humana.
E não acho que possas hierarquizá-las dessa forma tão leviana.
Ó João os problemas vão resolver-se de uma maneira ou de outra. Mas quando as consequências dessa resolução lhe caírem em cima (qual avião a chocar com um arranha-céus), porque se estava a cagar para o que lá se passa (excepto para a sua louvável preocupação com a situação das mulheres), quero ver se vai reagir tão passivamente…
Os americanos (os comuns, não a liderança), por exemplo, deixaram-se levar para uma aventura catastrófica no Iraque
porque só repararam que existia um mundo para lá do umbigo deles depois de 11-9-2001.
Mundo esse que, veio a revelar-se, não compreendiam de todo…
Ora aí está um texto com que eu concordo quase integralmente, Shark,
embora continue a discordar na questão de que há uma ordem na relevância
desses problemas
Postas as questões nesses termos, não posso senão aplaudir o teu post,
Sim Kid Karocho, e então se comparar com o que me espera no dia do juizo final, ainda pior.
O meu comentario, em eco aos do Shark e da Susana, não era sobre o que se passou no Egipto, que admito perfeitamente, no entanto, possa ser importantissimo e o preludio do fim definitivo da macacada.
Ora, ora, o discurso de milhares e milhares de anos: primeiro tratamos dos assuntos importantes, e depois, dessa coisa das mulheres. O que vale é que não esperamos sentadas…senão, ainda acaba a humanidade no planeta e haverá sempre assuntos mais importantes para falar.
Kid Carocho: você acha mesmo que, se não fosse o apoio do ocidente em geral e dos Estados Unidos em particular aos ditadores e monarcas totalitários dos países árabes, estes países seriam hoje umas democracias florescentes e igualitárias e respeitadoras das mulheres? É verdade que os Estados Unidos «deram gás» a grupos radicais, directa ou indirectamente, ou armaram-nos mesmo, no tempo da guerra fria. Mas convém não ter ilusões: é preciso muito mais do que a retirada da influência das grandes potências ocidentais para aquelas sociedades se pacificarem, primeiro, e evoluírem, depois.
edie, caso ainda não tenha reparado, há uma ligeira diferença entre sofrer discriminação relativamente a outro grupo e ser despedaçado por armas de alto calibre durante um protesto (ver Líbia). O que quer dizer que há opressão e há Opressão. As proporções são diferentes e as prioridades são, necessariamente, diferentes.
Penélope, quanto ao que eu acho que seriam as sociedades do Médio Oriente se o Ocidente não tivesse imposto o jugo de tiranos a milhões de pessoas e tivesse, cinicamente, apoiado
a difusão do Islão radical e obscurantista, sim, acho que seriam sociedades mais evoluídas do que são hoje.
Como já mencionei é espantoso ver fotografias do Afeganistão nos anos 60 e 70 e testemunhar a regressão civilizacional, trazida por cortesia dos “freedom fighters” do Ronald Reagan.
Mas a minha posição não tem a ver com o que eu penso ou deixo de pensar sobre isso.
O que eu estou a dizer é que é absolutamente hipócrita o jogo do Ocidente em lamentar a ausência de democracia nas sociedades árabes depois de, durante 60 anos, tudo ter feito para suprimir a emergência da democracia nessas mesmas sociedades.
O que eu estou a dizer é que é absolutamente hipócrita o jogo do Ocidente em lamentar o obscurantismo e o atraso social desses países quando em muito contribuiu para espalhar a ideologia retrógrada responsável por esse mesmo atraso civilizacional.
Abordar o tema da opressão das mulheres no Médio Oriente, omitindo todo esse contexto ou é de uma ignorância, ou é de uma hipocrisia absolutas.
O post da Isabel está excelente, à temperatura ideal e bem atempado com os tiros que andam por aí a dar nos países subdesenvolvidos do Magreb, mas o que me excitou realmente mais foi o link que encontrei no seu link sobre o crescente desejo entre as mulheres do orgasmo anal.
Não sei, e a Isaabel tambem é capaz de não saber, como é que isto se irá resolver entre as mulheres de Lesbos, com os adubos tão caros e não haver muito mais alternativas para fazer crescer os grelos que acompanham, em disputa, os carapaus..
Have a look, men, at the bottom of the page where our friend directs you to.
Kid Carocho : você diz « se … o Ocidente não tivesse imposto o jugo de tiranos a milhões de pessoas e…». O que eu contesto é a ideia implícita que você transmite de que não haveria tiranos, nem ditadores, nem corruptos naquelas partes do mundo a imporem o seu jugo se não fossem os ocidentais a impô-los. Concordará que é atribuir qualidades angélicas a sociedades que, realisticamente, eram tão ou mais imperfeitas que a nossa. A meu ver, mais, atendendo à religião dominante. É como dizer que a África era governada no séc. XV, XVI, etc, por chefes tribais bondosos, justos, pacíficos e anti-esclavagistas e depois vieram os europeus e semearam o ódio e a cizânia. Essa visão é demasiado simplista.
Só peço um pouco menos de idealismo. Ninguém racionalmente pode defender a violência e a manipulação e chantagem que a guerra fria induziu pelo controlo de zonas ricas em matérias-primas apetecíveis e indispensáveis à perspectiva ocidental de progresso. Mas há desníveis civilizacionais. Que foram explorados, sem dúvida. Agora que parece que as populações estão a acordar, talvez graças às redes mundiais, há que apoiá-las. É chato dizê-lo, mas acontece que é do interesse do Ocidente esta mudança. Há algumas décadas já era desejável, mas, provavelmente, teria sido impossível.
Penélope, eu não estou a atribuir qualidades nenhumas a nada, eu estou simplesmente a
descrever a história dos últimos 60 anos. Que não goste dessa realidade é o seu problema.
A Penélope é que escolhe ignorar que esses regimes foram impostos pelo Ocidente e pela URSS, porque a descolonização se dá precisamente no contexto da guerra fria. Essa é a realidade histórica, o resto são fantasias.
A Penélope é que escolhe ignorar que quando no Irão, em 1953, surgiu a hipótese de abertura democrática, que foi esmagada pela Inglaterra e pelos Estados Unidos.
A Penélope é que escolhe ignorar que, de facto, a exportação do wahabbismo para o Afeganistão provocou um retrocesso civilizacional nesse país.
Isto não tem a ver com idealismo nenhum. Isto é a realidade e é com ela que tem que lidar.
Não é com as suas hipóteses fantasiosas.
Grande golpe de vista, Kalimatanos.
Kid: não, eu não vejo nada. As lutas de fundamento religioso vão continuar nos países muçulmanos enquanto a religião tiver a importância que tem na política e na sociedade.
Síria, 1982:
http://en.wikipedia.org/wiki/Hama_massacre
Tem piada Penélope, o massacre de Hama foi ordenado pelo Hafez Al’Assad (um líder nacionalista secular apoiado pela URSS) com o objectivo de erradicar um movimento fundamentalista islâmico que surgiu e cresceu com o apoio dos Sauditas e dos Americanos, com o objectivo de subverter os regimes apoiados pelos soviéticos…
Aliás Síria é muito fraco exemplo para a tal ” importância que (a religião) tem na política e na sociedade” de que fala.
Veja se se informa melhor sobre factos históricos antes de publicar os seus posts, para não fazer má figura.
Kid, pretendi apenas ilustrar que nem tudo é preto e branco e que o que é melhor não é claro. A Síria era uma coisa, o Irão era outra, os palestinianos são outra, etc. Entretanto a guerra fria acabou. Mas os conflitos religiosos estão lá e muitas daquelas sociedades vivem ainda como na Idade Média. Com a violência ao dobrar da esquina e a desqualificação e opressão de metade da sociedade – as mulheres. Muita coisa tem de mudar e já devia ter mudado há muito, há bem mais de 60 anos. Nem tudo, ou mesmo quase nada, é criação dos ocidentais. E penso que está na hora de, eles próprios, escolherem que tipo de vida querem. Fico, porém, apreensiva, quando vejo os manifestantes ajoelhados na praça voltados para Meca. Voilà.
Food for thought, Penélope:
À excepção do Irão (com os antecedentes do golpe anti-democrático de 53 patrocinado pelos EUA), as sociedades do Médio Oriente que vivem ainda como na idade média são as monarquias instaladas e sustentadas pelo Ocidente, e o Afeganistão, onde o Ocidente financiou e armou grupos Wahabitas para destruir o regime secular pro-soviético…
Pense bem nisso, hein? Que coincidência? Agora some lá 2+2… pode ser que dê 4…
E também penso que é pouco saudável ficar apreensiva com os rituais de algumas religiões, quando tenho a certeza que não se incomoda minimamente com os de outras…
Alguma vez se sentiu incomodada quando simbologia religiosa era usada por alguns manifestantes durante as revoltas anti-comunistas na Europa de Leste?
… Ah, e lembre-se que há 120 anos em nenhuma sociedade ocidental as mulheres tinham direito a voto… lembre-se também do que era a situação das mulheres em Portugal há 60 anos.
Ainda bem que muita coisa mudou nas nossas sociedades nos últimos 60 anos…
Sim, Kid, os ocidentais (soviéticos incluídos) jogaram sujo para defender os seus interesses, já sabemos. Não me venha é com a explicação simplista de que é essa a única causa do atraso, da pobreza, da falta de democracia, da intolerância e da violência dessas sociedades.
Está enganado. Símbolos ou rituais religiosos utilizados em reivindicações políticas incomodam-me sempre. Mas, no caso das revoltas actuais nem sequer são usados como arma de arremesso. Pelo contrário, são rituais comuns a opressores e oprimidos. É isso que é preocupante e nos leva a fazer associações entre a evolução de certas sociedades e a religião que professam.
Karocho,
se é preciso esperar que termine a matança de homens por outros homens (h bem pequeno) para que a Opressão das mulheres tenha estatuto de relevância, então, volto atrás e digo que afinal é melhor esperar sentado.
Mas já agora, gostaria de saber, pelos seus curiosos critérios, quantos milhares, milhões de mulheres têm de ser desrespeitadas, humilhadas, violadas,mortas à pancada ou à pedrada, queimadas vivas como viúvas, vendidas como escravas sexuais, pagas a metade do salário e caladas, para achar que o assunto não é uma futilidade e até merece um O em Opressão?
Penélope:
1. Peço-lhe que indique onde é que eu disse que “a única causa do atraso, da pobreza, da falta de democracia, da intolerância e da violência dessas sociedades” tinha sido o facto de que “os ocidentais (soviéticos incluídos) jogaram sujo para defender os seus interesses”. Essa argumentação falaciosa é aquilo que os anglo-saxões classificam como um “strawman”.
2. O que eu defendo é que essa é a principal causa. E para isso dou exemplos, sendo o mais notório o Afeganistão onde ocorreu, de facto, um retrocesso civilizacional quando os Mujahedin, armados e financiados pelo ocidente, derrubaram um regime secular que se,
em termos sociais, não estava ao nível dos países ocidentais, ainda assim seria um
exemplo, na actualidade para as monarquias do Golfo Pérsico. É na realidade que eu
baseio a minha argumentação. A sua é sustentada apenas pelas suas ideias feitas.
edie
De onde é que você conclui que são exclusivamente homens a morrer nas ruas de Túnis, Tripoli, ou Cairo? Já reparou que há muitas mulheres a participar nestes protestos?
Já pensou que para elas conquistarem os seus direitos sociais têm que primeiro lutar
pelos seus direitos políticos, e que nisso têm causa comum com os manifestantes homens?
Não há nada de curioso nos meus critérios: para conquistar os direitos sociais as
mulheres têm de fazer ouvir a sua voz no plano da política. Foi isso que aconteceu
com as sufragistas no final do séc.XIX início do séc.XX, e por isso algumas foram
brutalmente reprimidas – Opressão com O grande. Só depois disso foram as mulheres
gradualmente adquirindo os seus direitos sociais, através da voz política que ganharam
nessa luta.
Agora que, para introduzir ruído na discussão dos eventos históricos actuais no mundo
árabe (que potencialmente podem vir a dar essa voz política às mulheres), certos media
venham fazer manchete do caso individual de uma reporter americana e com isso tentar
desviar a discussão para a situação das mulheres no mundo àrabe, completamente
descontextualizada, parece-me a mim não apenas fútil mas desonesto.
Só para terminar, Penélope, congratulo-a por se sentir sempre incomodada pela utilização de
símbolos ou rituais religiosos em reivindicações políticas.
Agora o resto da sua argumentação não faz sentido nenhum:
“Mas, no caso das revoltas actuais nem sequer (símbolos ou rituais religiosos) são usados como arma de arremesso.”
E isto não é positivo porquê?????
“Pelo contrário, são rituais comuns a opressores e oprimidos.”
Hmmm, pelo que eu sei, nestas revoltas, tanto opressores como oprimidos, fazem parte das mesmas sociedades o que quer dizer que do ponto de vista sociológico (religião
incluida) poucas coisas os separam. Daqui resulta que as discordâncias são de cariz
político e não religioso, o que vem desacreditar aqueles que tentam associar estas
revoluções a movimentos religiosos.
E daí conclui você que “É isso que é preocupante e nos leva a fazer associações entre a evolução de certas sociedades e a religião que professam.”
Para a próxima vez tente construir a sua argumentação com algum nexo lógico…
Kid (já tinha escrito isto quando li o seu segundo post):
O facto de o Afeganistão ter sido um caso extremo e lamentável de disputa entre as potências e sirva perfeitamente a sua tese do paraíso destruído e conspurcado não deve impedi-lo de olhar para os autóctones e também para o restante mapa dos países muçulmanos, que é imenso. Admitirá concerteza que nenhum daqueles dirigentes-maravilha foi fabricado na Pensilvânia nem lhes foi implantado, nalgum laboratório ocidental, o gene da eterna corrupção à mão dos ocidentais. São dali. Muitos herdaram o poder, outros tomaram o poder porque assim quiseram, e pediram, ou não, ajuda a quem quiseram, outros até foram eleitos. Todos eles negociaram, ou não, ao longo dos anos, com quem estava interessado nos seus produtos ou favores e assinaram acordos. Não deve fazer deles vítimas infantis do ocidente. São os principais responsáveis pelo rumo dos seus países. Transferir essa responsabilidade principalmente para os ocidentais não me parece acertado.
Espero bem que a população, agora mais informada, corra com eles e lá ponha pessoas mais democratas e menos corruptas, porque, aqui chegados, devem existir algumas, apesar da manifesta inexistência, para já, de organização política entre os manifestantes.
Mas isto não impede que aquelas sociedades tenham muito caminho a percorrer até ao reconhecimento de direitos e liberdades, à separação de política e religião, à tolerância e ao abandono de práticas centenárias de subjugação e humilhação de parte da população. No Afeganistão, no Iraque, no Irão, na Líbia e por aí fora. E isso, para mim, é a questão fundamental e que está agora em aberto. E gostava que também fosse a questão fundamental para eles. O excesso de oração, tendo em conta os resultados da aplicação, à letra, do Alcorão, é sempre preocupante.
Penélope, não me atribua aquilo que eu não defendo. Acerca do Afeganistão o que eu
disse foi:
“os Mujahedin, armados e financiados pelo ocidente, derrubaram um regime secular que
se, em termos sociais, não estava ao nível dos países ocidentais, ainda assim seria um
exemplo, na actualidade para as monarquias do Golfo Pérsico.”
O que, sejamos sérios, não é nenhuma tese de “paraíso conspurcado”.
Os regimes que surgiram depois da descolonização do Médio Oriente não resultaram de
qualquer aclamação ou escolha da população. Foram escolhidos por potências estrangeiras que os financiaram e armaram para que o seu poder desses escolhidos
pudesse prevalecer.
(Já agora, à excepção do Líbano, gostava de saber quais foram eleitos? E não estou
a falar de eleições ganhas com 95% dos votos, ou no Iraque e Afeganistão ocupados.)
Os dirigentes foram escolhidos de entre elites locais cultivadas por séculos de colonização
– primeiro pelo Império Otomano, depois pelas potências Ocidentais. Portanto os valores,
as ideologias e os comportamentos dessas elites são parcialmente moldados por influências externas.
Não são os Portugueses que tanto se gostam de gabar em como influenciaram as
sociedades e as culturas dos actuais PALOPs?
Como legitimação desse poder uns regimes utilizaram ou a religião (os defensores da fé)
ou o nacionalismo (uma misturada de inspiração vagamente marxista). Os primeiros
escolheram a via obscurantista, os segundos a via do despotismo pseudo-esclarecido.
Mas esse tipo de legitimação do poder é apenas (e sempre) uma fachada que esconde a
natureza violenta desse mesmo poder, o que me leva às duas seguintes observações:
1. Os regimes que usam a religião para se auto-legitimarem escolheram o Islão porque
os seus súbditos eram na esmagadora maioria muçulmanos. Se não fossem teriam
escolhido outra religião, ou teriam abandonado a religião em favor de uma qualquer
outra ideologia.
2. O atraso ou retrocesso civilizacional pode ser observado em regimes que nada têm
a ver com Islão ou outra religião. Como exemplos tem o “Kampuchea” dos Khmer
Rouge, ou a Coreia do norte.
Será que também vai dar aos Cambodjanos ou aos Coreanos um sermão sobre –
parafraseando – sociedades que têm muito caminho a percorrer até ao reconhecimento
de direitos e liberdades, à separação de poderes, à tolerância e ao abandono
da subjugação e humilhação da população?
A preocupação dos ocidentais com o atraso civilizacional do Médio Oriente quando
nunca suportaram a mudança para regimes menos retrógrados, ou inclusivamente,
provocaram mudanças para regimes ainda mais retrógrados é intelectualmente desonesta
e manifesta uma falência moral, que é a principal causa da perda de “soft-power” pelas
potências ocidentais naquela parte do mundo.
(Já agora uma pergunta bónus: lembra-se de quais foram as potências que não mexeram
uma palha para impedir o genocídio cambodjano pelos Khmers e que quando os
vietnamitas invadiram e depuseram o Pol Pot e o seu gang ainda censuraram o Vietname
por essa acção?)
correcção: no antepenúltimo parágrafo do post anterior, onde se lê Khmers, deve-se ler Khmers Vermelhos
Kid: Vou terminar. A guerra fria não foi bonita. Estamos de acordo. Mas isso não deve servir para taparmos o sol com a peneira. Tenho muitas dúvidas que abundassem democratas nos países do Magreb e noutros do Médio Oriente quando você diz que os americanos e ingleses lá colocaram ditadores carneirinhos (a jusante e a montante, respectivamente). O caso do Mossadegh, no Irão, foi escandaloso, claro (os interesses da BP). Será que duraria muito tempo no poder? Com as forças em presença, também tenho sérias dúvidas.
Agora, adiante. A questão é de fundo. Alguma coisa tem de mudar do lado de dentro daquelas sociedades e também das suas elites para pôr fim às ditaduras e à falta de liberdade e refrescar as mentalidades. O problema, talvez para si, não sei, é que esses ventos que irão penetrar naquelas cabeças soprarâo forçosamente do ocidente.
OK, concordamos em discordar. Até na sua última frase, porque não só há muita gente
naqueles países com, cabeça para pensar, ao contrário do atestado de menoridade que a
Penélope acaba de passar a esses povos, como a influência global do ocidente está a diminuir rapidamente, relativamente às potências asiáticas (muito por conta das
asneiras que tenho vindo a enumerar ao longo destes posts).