Ministro da saúde atirado ao único critério do mercado selvagem

Estamos a falar de prestação de cuidados de saúde. Estamos a falar de prestação de cuidados de saúde por técnicos altamente especializados. Estamos a falar de contratação desses técnicos – enfermeiros – tendo em conta – assim devia ser – as suas habilitações profissionais e humanas. Estamos a falar de doentes. Estamos a falar de vida e de morte. Estamos a falar de quem administra cuidados de saúde mas também de quem o faz de forma humanizante.
Estamos a falar de contratar esses profissionais. Acontece que a ARS de Lisboa e Vale do Tejo abre um concurso público cujo critério cimeiro era o do menor valor/hora. Assim, ganhou a empresa Sy‐Care e Medical Search o que significa que o valor hora a pagar pelo trabalho qualificado de um enfermeiro é de 3,96€.
Isto corresponde a 554,40€/mês o que, depois de todas as deduções, significará que os enfermeiros irão auferir cento e poucos euros.
Está por esclarecer se é verdade que a ARS de Lisboa e Vale do Tejo pagará à empresa Sy‐Care e Medical Search por cada um destes enfermeiros 1,151€.
Mesmo que esta última parte não se verifique, estamos perante um ataque à dignidade do trabalho com um descaramento pouco habitual. Atirar a contratação de pessoal altamente especializado que lida com áreas sensíveis para a lógica do mercado puro e duro é destruir a sociedade que se civilizou com base em regras, distinções necessárias, direitos, deveres, papel do Estado e que sabe que contratar um médico ou um enfermeiro não é o mesmo que ir às compras dos melhores sapatos em saldo.
O Ministro não pode ficar calado. Estamos num tempo em que o silêncio é amigo da cumplicidade.
Entretanto, episódio a episódio a sociedade agita-se.
Como não?

28 thoughts on “Ministro da saúde atirado ao único critério do mercado selvagem”

  1. Mas como é isto possível?

    Com base em que legislação?

    E é a primeira vez que acontece?

    Resumamos: o Estado agora contrata profissionais especializados com base em Empresas de Recursos Humanos privadas? E vão passar também a ser assim “contratados” os Médicos?

    E os Juristas?

    E os Gestores públicos?

    E os Engenheiros?

    E os Arquitectos?

    E os Polícias?

    E os Juízes?

    Dr.ª Isabel Moreira, na posição em que está, não pode ficar pela crítica e o choradinho, por favor, esclareça os seus leitores. Responda, por obséquio, às minhas questões. Muito obrigado.

  2. Não percebo a admiração.
    Se já há empresas, os ditos partidos, para contratarem os deputados, qual é o espanto?
    Os deputados ganham e amanham-se um bocado melhor, é a única diferença.

  3. Exactamente, M.A.A..

    Este indecoroso”out-sourcing” é o cúmulo do modo como a pandilha neoliberal vai levando, a todo o custo, à prática, a sua cartilha, tão oportunamente surripiada ao memorando da troika.

    Este “modus operandi” é literalmente meter no bolso de umas empresas privadas um óbulo pilhado ao profissional indedeso e necessitado.

    Sendo necessário contratar estes profissionais, porque é que a ARS não abriu um concurso para esses porfisionais e para essas funções, pagamdo o estipulado nas tabelas remuneratórias da função pública.

    E já agora: quem é que me garante que um contratado por essas empresas é mesmo enfermeiro, médico,…..?

  4. Marco Alberto Alves,

    sei que, pelo menos no IPO, estão a recorrer a estes serviços para contratação à hora de médicos. Sei por um médico que trabalha lá, e parece que acontece em mais sítios; aliás, esse é um dos motivos que levou à convocação de greve por parte da Ordem dos Médicos.

    O mais “curioso” é que não há poupança nenhuma por parte do Estado, durante o processo, quem ganha são mesmo as empresas de trabalho temporário, sobretudo as que não têm de responder por critérios de qualidade, mas de preço mais baixo, como é o caso.

  5. «Estamos num tempo em que o silêncio é amigo da cumplicidade»

    Pois é! É isso mesmo! E o que fez o PS nos anos 90, quando alguém reclamava da contaminação dos derivados plasmáticos oriundos da Áustria, e o PS deixava a Srª. Beleza confortavelmente instalada na Assembleia da República? Que me diz disso? Não se queriam meter, dizia-se.
    Mas há alguma diferença nos políticos? NENHUMA! Não brinquem. Venham os exemplos!

    Vira o disco e toca o mesmo, cara deputada! Consegue mudar o sistema?

    O político português esgota-se na teoria, não sabe a prática, adora apertar a mão ao estrangeiro e deixou Portugal transformar-se num baldio!

  6. Na verdade, Portugal com tantos doutores e engenheiros, corre o risco de ter criado os novos analfabetos e inadaptados, pois não sabem varrer nem lavar ruas, não sabem atender telefones, não sabem servir ao balcão, as portagens socorrem-se das máquinas, não há construção civil, também não há campos para cultivar, porque as quotas do maravilhoso tratado de Lisboa não deixam, ó pazinhos, é do CARAÇAS! Sejam práticos!

    A corja tem tentáculos e o polvo chega a todos os lados, nem precisa de nome, nem de adivinhar, o gajo é omnipotente e omnipresente.

  7. Maria de Belém Roseira, deu ontem a solução para acabar com estes negreiros – leiam-se “empresas de contratação”: Cooperativas. Enfermeiros e ou médicos organizarem-se nessas estruturas produtivas.
    No caso dos enfermeiros e sendo um único patrão, o estado, seria muito fácil acabar com estes xulos que mais não fazem que viver à conta do suor alheio.
    Pior que estes, que pagam uma miséria indigna, são uns outros que andam a contratar pessoas para os mais diversos serviços e no final NÃO LHE PAGAM. Sei de quem tenha trabalhado e no fim lhe disseram na cara que não tinham dinheiro.
    O que fazem as autoridades? Nada, nadinha…
    Não seria caso destes cidadãos indecentemente e vergonhosamente enganados se organizarem em milícias e partirem o focinho a estes filhos da puta?
    (Já sei que os de barriguinha cheia vão dizer que a vilolencia não, patati patata…) Mas quando lhes partissem a tromba uma vez eu gostava muito de saber o numero dos que reincidiam na vigarice….)

  8. prontes, indignação já temos, agora falta saber se há enfermeiros que aceitem trabalhar por este preço ou se a sy-care os vai importar de cuba.

  9. Bom, a indignação é evidente, mas a pergunta fulcral ainda não foi respondida: se isto que o Min. da Saúde agora fez é mesmo legal, QUEM O PERMITIU?

    Por que razão a admissão de Técnicos Especializados, seja de que Profissão for, para trabalhar em organismos públicos não se faz, como sempre se fez (presumo), por meio de Concursos públicos, limpos e com regras claras?

    Que raio de descaracterização da Administração Pública é esta? Quem a permitiu e quem a não combateu??!

    EU NÃO QUERO LEGAR AOS MEUS FILHOS UM PAÍS DESFIGURADO!

  10. Desculpem destoar do tema.

    Mas, pergunto: e para as “Novas Oportunidades Universitárias” que permitiram ao Relvas fazer a sua licenciatura num ano, não há um post?

  11. pois, esse é ouro caso em que o ministro deveria ser “atirado” não para o critério do mercado não sei quê, mas para o esgot de onde nunca deveria ter saído.

    O Público (ganhou um inimigo, o Relvas) dá destaque de primeira página com texto muito detalhado sobre mais esta falcatrua. E em poucas horas vai em record de comentários, fora os censurados (política da casa).

    Tirei este, que me parece engraçado:
    “Miguel Relvas foi, consecutivamente, eleito deputado desde 1985 até 2009. Os únicos empregos que teve foram como consultor, curador de uma fundação, e administrador da Finertec. Em que parte do mundo é que este «currículo profissional» dá direito a ser licenciado em Ciência Política? Por ser político há muitos anos? Eu também sou um ser vivo há muitos anos: quero a minha licenciatura em Biologia. Já!”

  12. Seria interessante conhecer melhor as ligações entre os responsáveis destas empresas de trabalho temporário e os administradores e directores da Saúde Pública. Talvez se ficasse a saber a razão por que as coisas correm assim!

  13. As empregadas domésticas face a isto têm chorudésimos ordenados! (na volta, começam a ir-se embora todas as pessoas qualificadas e ainda vamos mesmo acabar como um país de domésticas – bem necessárias, por sinal – mas talvez pouco capazes de nos darem vacinas e injecções, tratarem de primeiros socorros e esses etcs.)

  14. Há medicos a serem contratados atraves de empresas identicas.É legal,mas é uma vergonha.Há mais de 25 anos começou na banca com as empregadas de limpeza.Agora alastrou a muitas profissoes. Contesto estas empresas e a exploração que elas praticam.A concorrencia entre elas baixa os preços a pagar,que depois se refletem no salario hora.Alem dos beneficios evidentes no custo do salario os clientes resolvem alguns problemas como o do absentismo.Quando falta um trabalhador de imediato é substituido por outro..Era bom que na assembleia da republica fosse promulgada uma lei a contento de todas as partes.Acabar com este tipo de empresa, nos tempos que correm a nivel nacional e internacional vejo muitas dificuldades.

  15. Maria Rita, parece-me que aqui o ponto não é acabar com essas empresas, é acabar com este esquema vergonhoso de o Estado recorrer a elas para trabalho que não é propriamente o do estafeta para trabalho pontual. E sem diminuição de custo para o contribuinte – antes pelo contrário, como temos visto.

    Faz parte da estratégia óbvia de desvalorização máxima do factor trabalho – qualificado ou menos qualificado, se trabalhas, vales zero.

  16. Quando ouvi á noticia, não acreditava. Hoje vejo-a aquí outra vez e tenho que acreditar.
    Tudo segue o caminho marcado, a revolução liberal está à recolher os frutos ainda antes do previsto, tudo vai bem. O negocio está agora em meter os fucinhos nos nichos económicos onde se move dinheiro. Ou seja o dinheiro do cidadão recolhido nos impostos para servirem o povo, deve xestionarse por as trandes trusts para tirar beneficio e empovrecer o povo na baixa dos salarios.
    Eis o cerne desta ceifeira. Reformas nas leis do trabalho, baixa de salarios, xestion do dinheiro público : privatizar os servizos públicos do estado de benestar.
    Eles comem tudo e não deixa nada.

  17. edie, obrigado, pois, mas tu provocaste, e então vá ainda que seja um pouco maçado, por ser videos longos…

    http://www.youtube.com/watch?v=A3H7CWGZ3T4&feature=related

    no passado mes de maio en Santiago de Compostela houve um homenajem o Zeca, eu estive lá. Foi increivel. Tal vez não souperes que à Grandola foi estreada na universidade de Santiago num festival universitario o que foi o Zeca?. Isso é o que dizimos por cá, também alguns dizem que Colon era galego.
    Isso era o que se recordava na homenajem ( o de Colón não)
    Longo, mas um poco à solta pode pesquisar alguma coisa interessante.

    http://www.youtube.com/watch?v=XM8T81yc_Y8

    Que seja a nosso recordo para os/as enfermeiros/as

  18. reis,

    vi metade do primeiro, o resto vou vendo aos bocadinhos. Confesso que me emocionei ao ouvir a morte saiu à rua, e também, no geral, por saber que o espírito está vivo por terras de Galiza. Não, não sabia dessa estreia e afinal o Zeca é hoje mais galego que português, as voltas que a vida dá…

    Já agora, homenagem aos enfermeiros/as e médicos/as, que estão mesma situação, embora a deputada não pareça estar a par…

    http://www.youtube.com/watch?v=tTRO3cSFUcE
    http://www.youtube.com/watch?v=QNLfQkHQlE8

  19. Pois, mas a Dr.ª Isabel Moreira continua sem responder à pergunta essencial. E isso é bem mais importante do que lágrimas de crocodilo, ou beneméritas sugestões da Dr.ª Belém Roseira.

    E é esta sempre a imagem final que fica do PS: uns Calimeros impotentes e inúteis, se bem que muito bonzinhos…

  20. Conselho aos enfermeiros: filiem-se na Maçonaria e tirem uma licenciatura de um ano. Resultados assegurados.

  21. ora prontes, tal como previsto, não há enfermeiros para trabalhar por este preço. as empresas seleccionadas deveriam ser obrigadas a cumprir os contractos adjudicados ou a indemnizar o estado em caso de desistirem, até se costuma apresentar caução para concorrer. agora anulam tudo, começam o processo de novo, não há responsáveis ou custos políticos e ficam todos bem na fotografia. oh isabel! estás à espera de quê para pedir a cabeça do zarolho da opus day?

    http://m.tsf.pt/m/newsArticle?contentId=2644604&page=1&related=yes

  22. ignatz, really?? estás à espera que a isabel deixe de estar à espera? E que ainda por cima te responda enquanto espera? (não estás, não é? eu sei que tu és um tipo inteligente)

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