Dizer e desdizer: uma forma de ser

Um dos maiores argumentos para o corte, em 2012, de um ou dois subsídios dos funcionários públicos (FP), portanto de uma ou duas remunerações e, para a mesma lógica, relativamente aos pensionistas, apesar de tiro ter atingido os reformados, foi o da situação de favor dos FP.
O TC demonstrou a inconstitucionalidade e não teve de explicar o que milhares e milhares de pessoas sabem: não há posição de favor alguma, e mesmo que houvesse, estava por justificar proporcionalmente a loucura. Estamos a falar de gente com salários congelados, estamos a falar de gente com um “contrato em funções públicas” que marca a quebra de diferencial com o regime privado, estamos a falar de gente que ganha menos à medida que sobe na carreira, isto é, para trabalho igual no público e no privado, o publico ganha menos.
Sim, estamos a falar de gente que serve o país, que não é intocável, claro que não, mas que por servir o país a sua eventual saída tem de ser precedida de estudos, como se fazem há quatro anos, olhando serviço a serviço, pensando se no lugar x faz sentido contratar ou antes, com calma, implementar regras como, com base em números, contratar um FP por cada três que saiam.
Mas este Governo, que dizia que os FP eram gente de pedra e de privilégios, atirou para as notícias isto: “Executivo quer cortar no “mínimo” 50% dos contratados na função pública”.
Trata-se do maior despedimento coletivo de que há memória em Portugal. E atinge os “contratados a prazo”. Mas há disso na AP?
Afinal há.
Qual foi o estudo desta medida que pode atingir mais de 50 mil pessoas?
Qual foi o estudo que teve em conta que serão atingidos (contratos a prazo) os mais jovens da AP; Os mais qualificados?
Por quê a sangria?
Difícil perguntar se quem vai à AR anunciar o maior despedimento coletivo de sempre é Relvas.
Ou fácil de perceber que é só um corte de despesa orçamental. Cego e desumano, precisamente porque não havia nada para explicar.
Restam as explicações fruto de uma coligação ofensiva: nos dias seguintes alguém vem dizer que “não é bem assim”.

(No P3)

9 thoughts on “Dizer e desdizer: uma forma de ser”

  1. “por servir o país a sua eventual saída tem de ser precedida de estudos”…E os outros andam o servir o quê, Isabel?

  2. Srª Deputada Isabel Moreira,

    Aproveito para lhe agradecer pela iniciativa que teve de remeter ao Tribunal Constitucional o confisco dos subsídios de Natal e de Férias.

    Ao ler o seu texto, a primeira coisa que me veio à ideia foi o autêntico massacre que fizeram a António Guterres por ter integrado na FP alguns contratados a prazo ou a recibo verde.

    Sou filha de funcionária pública e alguns familiares também são da FP. Isto esclarecido, para que, quem não me conheça, ousar pensar que exista um mínimo resquício de inveja ou outro sentimento similar, sinto-me indigente no que se refere ao campo da saúde – tão importante – porquanto paguei sempre todos os impostos e avultados descontos no salário que auferi durante 38 anos na actividade privada.

    Podia adiantar mais sobre isto que tanto me choca por haver num Estado de Direito cidadãos de 1ª, 2ª, 3ª… até porque tenho um dossier sobre várias acções que tomei há largos anos, mas não quero tomar-lhe mais do seu profícuo tempo.

    Ficar-lhe-is muita grata se quiser ter a amabilidade de responder a este meu comentário.

    Muito obrigada.

  3. percebo tudo o que diz, Odete
    e penso que tem toda a razão: há aqui uma tentativa de criar cidadãos de 1ª e de 2ª
    desde logo tentando amolecer a contestação, tentando colocar uns contra os outros, dizer que os FP têm um regime de sonho e assim conseguir que todos os privados vejam com bons olhos cortes de direitos fundamentais “dos outros”. mas não há “outros”. somos “nós”, privados e publicos brutalmente atingidos. e deve haver união nessa evidência. desmentir o que se diz sobre uns e outros. se os FP tivessem um regime de ferro não havia supranumerários, não tinham contratos a prazo, não tinham contratos em funções públicas, não tinham salários congelados desde 2010, não tinham tido os cortes de 2011, não ganhavam mais na base e menos no topo, etc. mas são FP. e, antes disso, pessoas, com casas para pagar, com dívidas, filhos, pais idosos, problemas infinitos, em tudo isso iguais aos privados.
    sabemos bem quem são os “outros”

  4. oh pázinha! o que a odete diz é que os funcionários públicos têm melhor sistema de saúde e que ela se sente descriminada por isso. essas tresleituras alucinadas para surfares asneira pode fazer sucesso lá no parlamento com as franciscas & menezes, mas aqui não te safas.

  5. “tentando colocar uns contra os outros”…mas não foi isso que fizeste, Isabel, sempre que abriste a boca, para dizer que uns ganham mais que outros, que uns servem o país e outros, pelos vistos, não; e que estes FP são uns desgraçados altamente prejudicados em relação aos “outros”, por exemplo, por terem os salários congelados? Fazes ideia da congelação – E DIMINUIÇÂO – de salários no sector privado? Sabes os dados dos privados para comparar com o público? MOSTRA-NOS. Eu até já deixei aqui uma pista, mulher. Porque te metes a fazer comparações e a dizer no parlamento que os FP são cidadãos de 1ª, se queres passar, fraca e porcamente, a ideia de que não há “outros”?
    Então defende-os a TODOS, porra. O que peço é mínimo: sê coerente entre os discursos que fazes, e sobretudo sê coerente entre o que aqui dizes quando tentas emendar a mão e as acções que tomas como deputada. Esquece que és funcionária, por uma vez. Ou então lembra-te que todos somos funcionários a levar na tromba. Não como isso de que há uns que têm de manter diferenciação em relação aos outros. Que é isso que defendes na prática, e perante isso, o que disseste à Odete é palha.

    P.S. Deviam ser despedidos por incompetência e não por estarem a prazo, até porque muitos destes são mais qualificados e competentes. MAS, os desgraçados não podem ser despedidos por esse motivo, esse é um privilégio dos privados que, aliás, já podem ser despedidos por qualquer motivo. Deixaste passar isto, não foi? Correct me if I’m wrong.

    E, Odete, é verdade,o acesso á saúde (enquanto serviço público) dos privados é neste momento praticamente inexistente; já o acesso aos serviços privados dos perseguidos, está grantido sem taxas moderadoras. Não agradeças, Odete. Não há motivo para tal.

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