Da cobardia e da coragem (texto escrito em 2010)

Começa, desde logo, pela escravatura da gramática. Pela escolha das palavras. Eis o início da cobardia ou do medo de se dizer o que se é, o que se pensa, por causa daquilo que tem um nome: consequências. Numa pátria de gramática, a cobardia é uma cobra, os cobardes são escravos da língua, encostamo-nos para trás ao fim de um dia de opiniões e o ar está poluído de silêncios, isto é, do ruído enorme das palavras subsidiárias, as que acautelam as malditas consequências, as que asseguram que não se criam inimigos, as que não afunilam oportunidades futuras de convívios, desde logo profissionais. Eis então o silêncio desse ruído, todos os dias.
Nos murmúrios das mesas de café, dezenas de afirmações categóricas, dedos em riste, tanta gente afirmativa, tanta gente de peito aberto às balas, mas, depois, as faces desses murmúrios dão a sua fotografia aos textos que as desmentem, às intervenções que as integram no sistema dos bons costumes, faces sorridentes em apertos de mãos aos inimigos dos murmúrios das vésperas secretas, tudo assegurado, os amigos oportunos, os convívios para o que possa ser, os empregos de amanhã.
Há quem não tenha medo de uma máquina que não perdoa essa falta de medo passem os anos que passarem. Em bom rigor, há quem viva, mesmo, sem uma película de plástico transparente, porque genuinamente pensa, diz, escreve e fala sem a percepção de um sistema que regista, que pune, que cobra e que demite.
Os loucos, livres, ingénuos, na verdade, corajosos na vida pública porque o são numa mesa de café como o são na defesa de um amigo que leva uma facada numa esquina, são gente pouco atenta à manipulação dos cobardes com vestes de gente brava. São como as crianças recrutadas para os exércitos. Motivam-nos para darem a cara, para escreverem, para dizerem, para gritarem, aplaudem-nos em telefonemas privados, dão sugestões, dizem do que diriam no seu lugar, mas reservam esse lugar para os tais loucos, loucos de tão livres, que se esquecem, ou não sabem sequer pensar sobre isso, que cada palavra tem um preço, que cada intervenção assertiva cria um inimigo, que cada luta desinteressada interessa a alguém e é sempre olhada como interessada por tantos outros.
Os loucos de tão loucos pela liberdade caracterizam-se pela generosidade. Não sabem dizer não a qualquer pedido no qual vejam justiça. Emagrecem até ao limiar dos ossos pelos outros, se for necessário, e um dia, às vezes, acordam no espantoso acontecimento de um pedido deles não ser atendido pelo camarada, descobrem com a mesma perplexidade de um navegador que a bitola ética do outro não é a sua, verificam que há vinte portas fechadas por causa de uma denúncia justa, ligam para quarenta caixas de mensagens, encontram, enfim, um outro silêncio, o seu preço, e esse dá pelo nome de solidão.
É aí, nesse lugar, nesse lugar que é uma doença, a doença que predomina todas as doenças, a solidão, que o louco pela liberdade faz uma escolha: descobre o polvo que o rodeia e avança com os passos de sempre ou adere à poluição dos silêncios e junta-se em mesas de cafés, com a sua acutilância, de dedo em riste, denunciando as injustiças, as corrupções, as mentiras, murmurando-as, portanto, mas escorrendo-as no dia seguinte subordinado à gramática do compromisso, a ver se assegura portas abertas, chamadas atendidas, convívios sociais, amigos que dão jeito, trabalhos futuros.
Quando, nesse lugar, nesse lugar doloroso, mas de amadurecimento, o louco pela liberdade, o anterior ingénuo que tinha por normal não sofrer por carregar apenas a sua consciência, escolhe subordinar a gramática e não se subordinar a ela, escolhe riscar a palavra consequências do seu dicionário de convicções, temos um corajoso.
Em seu redor, um degelo. Ficarão poucos; os que contam. Mas, recordando Shakespeare, ele experimentará a morte apenas uma vez na vida. Já os cobardes, esses morrem várias vezes antes da sua morte.

12 thoughts on “Da cobardia e da coragem (texto escrito em 2010)”

  1. A Isabel Moreira está a mandar recados à direcção de um certo partido político ?
    Se está acerta na “mouche”.

  2. Quanta cegueira, a desta mulher. Ela é feita de revolta, de negatividade, de julgamento. Parece um animal que depois de sair da jaula, não vê outra coisa senão agredir os outros com pensamentos apresentados como se enformassem a verdade absoluta.

    Cobardes, diz ela. E ela é o quê? Ela dá o salário dela para alimentar outros? Ela defende os que não tendo, de facto acesso ao Direito e à justiça nem à habitação nem saúde?? É claro que não.
    Ela é uma super mulher? The hell she is! Esta mulher vive de ódios, de traumas, ela sim é a solidão feia e agressiva em pessoa. Ressabiadissima, culpando os outros pela sua ostensiva agressividade.

    Consequências? Ela é a consequência viva da sua essência, que não consegue mudar. Odeia tanto. Porquê?
    Junto de mim NUNCA terá voz, mas tem pena. A morte,minha cara, acontece-lhe todos os dias e com tanto ódio que tem pelo mundo e por quem OUSA discordar de si, morre mais do que uma vez ao dia, e assim sucessivamente.

  3. PRIMABERA/BERÃO, e a tua sepultura é onde?

    jasmim, tu és uma mariazinha néscia, estás bem com as anacas que tens. De quando em vez precisamos de circo.

  4. isabelinha tu continuas igual a esse texto de 2010; acho que até estás pior dessa pesporrencia enfadonha e tão cheia de Cagança snob que pareces ter engolido toda o manual da flatulência psicótico de uma só vez !

    Repetir a mesma entediante lengalenga e merdunça desde 2010 sem se rir uma só vez da ridicularia esquizoide ???? Vai depressa ao médico para te aumentar a dose … que pastelada de autocomiseracao !

  5. Ao ler a Isabel Moreira neste texto só me ocorre que ela poderá estar a falar dos dirigentes do seu próprio partido. Nesta altura, para quem quiser ver, já é mais que evidente que a Operação Marquês é um gigantesco embuste dos agentes da justiça que montaram a dita “operação”. Desde há muito, há uma perseguição em curso contra o PS, sendo Sócrates, desde que foi eleito PM, pretexto e vítima principal. Perante os factos mais recentes e mais escandalosos, apenas uma voz, apenas uma, de entre os “notáveis” do PS , não se acobardou: Mário Soares. Os restantes, cobardemente, sob a batuta de Seguro ou Costa, não se fizeram ouvir. Tiveram medo de…de tudo! De perder eleições ou de perder os tachos. Também acredito que tiveram medo de perder a liberdade ou ver as suas vidas destruídas pelos muitos e variados “operacionais” da Operação Marquês, da Face Oculta, do Freeport, do Casa Pia. Compreendo-os a todos, até ao próprio Sócrates, quando foi a sua vez de ficar caladinho. Só não compreendo a quem a Isabel está a chamar cobardes, porque maior cobardia não há do que assistir ao linchamento na praça pública de um camarada inocente e seguir a sua vidinha como se nada fosse. O PS vai pagar muito caro a sua cobardia colectiva, de ontem e de hoje. Ninguém respeita os cobardes e, ou estou muito enganada ou o povo já percebeu até onde pode chegar a cobardia dos dirigentes do PS. A Direita, essa, até já brinca com o saco de cobardes que dirigem o PS. Sabe que pode lhes pode fazer tudo, tudo mesmo, e que eles nãoo vão reagir, tolhidos por todos os medos.
    Fica a perder, sobretudo, a nossa democracia. Mas isso parece nunca ter incomodado ninguém dentro do PS. Nem a Sócrates, quando eram outras as vítimas dos “operacionais”.

  6. Pois Isabel, a verdade não desbota com o passar dos anos, anda por aí, circula, não se esconde, para desespero dos néscios.

  7. Quando se dá antena aos pobres – de cultura – ei-los manifestando-se com as suas análises longas, patéticas mas importantes! Importantes, porque continuamos a verificar que aqueles continuam a votar – o que é muito , muito mau. Pior seria, admito, se eles julgassem de acordo com os seus princípios e análises, pois não haveria julgamentos segundo regras, mas segundo uma convição «sui generis» arredia de regras processuais, designadamente probatório e contraditório.
    A política « do umbigo» é aquela que prevalece no caso da prisão preventiva- ninguém tinha dado por ela até agora. A partir do momento em que foi aplicada a um cidadão – ex – governante -, eis os ANALISTAS – a dissertarem sobre a existência de tão vil medida. É que para eles, «está na cara» que o homem é inocente. Note-se – isso é o que se vai ver. Atá lá – APRENDEI – presume-se inocente.
    Porém, quando não se teme, só se tem um remédio – aguardar serenamente até se ter acesso à conclusão da investigação. Até aí, quanto menos se disser, melhor. Na verdade, se algo houver que possa despoletar mais investigação, então, CALE – SE o arguido. Para falar depois.
    Que vimos em tudo isto? Um diz-se estagiário e que vai ver montras. Outra, ataca uma procuradora e não se vê ao espelho. O que determina a defesa e DEVIA ficar QUIETO, faz entrevistas da prisão, apronta uma arrogância nunca antes vista, ao ponto de, os colegas de reclusão, um deles inspetor da PJ, denunciar o tratamento privilegiado na cadeia. Recebe quem quer, quando quer, a que horas quiser e NÃO é visto como os outros que têm de se agachar. Este porque falou e não temeu as consequências, tornou-se novamente arguido – de processo disciplinar.Onde estão os que embandeiram as «cobardias e a coragem» de outros? Não as vejo sequer pronunciar-se na questão, antes ALDIGAM sobre a alegada perseguição ao 44. HIPOCRISIA, não será?
    E, claro, temos os leigos, como esse/essa de cima, falando do que não sabe, do que desconhece. Até hoje AINDA não encontrei aqui, um comentador que EXPUSESSE as IRREGULARIDADES e PROVASSE a inexistência de factos! Tão só se escoram na VULGAR perseguição política, falta de postura por parte de António Costa! Este ultimo tem um problema: é XUXA – comuna erivado -, mas aparenta estar a atuar de acordo com o que se espera de um pretenso governante – NÃO SE IMISCUI EM QUESTÕES JUDICIAIS. A separação de poderes – que os IGNAROS DESCONHECEM – já tem alguma antiguidade. E enquanto existir formalmente ( nem todos se chamam Pinto Monteiro), ACosta tem o direito de não se imiscuir.
    O que esta GENTALHA que «bota faladura e a escrevinha» não sabe é que: NENHUM MAGISTRADO, nem o mais INCOMPETENTE, se atreveria a um PROCESSO desta ordem, SE NÃO TIVESSE DOCUMENTOS e PESSOAS ( sim pessoas) enformando o PROBATÓRIO. E diz o IGNARO «só quem não quer ver?», pois patente está quem não vê. Não vê porque não sabe e se não sabe, não deve alvitrar. Just simple as that.

  8. Para lá da competência, para subir na vida, muito boa gente dá
    o rabinho e oito tostões! Ficaram famosas as 27 perguntas que,
    os magistrados, ao fim de oito anos não tiveram tempo para fa-
    zer ao P. Ministro no caso “freeporcos” !
    Que podem haver magistrados com costas quentes? Claro que
    podem! Que os há a sofrer de partidarite é um facto e até há quem
    goste de ser mais papista do que o Papa!
    Todas as provas serão apreciadas quando for formulada a acusação,
    ao que parece está em fase de composição de ajuste do trânsito do
    dinheiro nas diversas contas em meio mundo!!!

  9. Ó tu aí de cima, e lembraste-te de perguntar ao Pinto Monteiro «esse» porquê? Convida-o para um almoço…

  10. “Um Europeu não gostar da Grécia inteira é como um esquerdista não gostar da Isabel Moreira”

  11. Boas, gostava muito de me comee7ar a viicar nesta se9rie , parece muito interessante mesmo. c9 a primeira que vou ler na area de “Terror” xDSf3 encontro na Fnac, ainda sf3 saiu o 1 e o 2vol.?O meu problema e9 que em Se3o Pedro do Sul ne3o existem Quiosques como quando em estava em Lisboa , o que e9 uma pena :(E nem todos os dias me desloco ate9 Viseu, como e9 obvio para ir a Fnac.Se houvesse algum sitio onde possa comprar online este1 se9rie em PT era estupendo ;)Cumprimentos

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