Briefing (s)

 

Começaram mal. A ideia, desde logo. Um secretário de estado a dar notícias, “as notícias” que deviam ser dadas. Nada a perguntar. Esclarecer não faria muito sentido, porque estava o governo a dizer as notícias. Pareciam as aberturas de telejornais. Mas com um membro do Governo a falar das notícias que deviam ser dadas. Uma espécie de departamento de notícias e propaganda.

Às vezes apetecia chamar Vargas ao mensageiro da sua própria mensagem. E a mensagem era diária. Senhoras e senhores: o briefing diário. Ou a rádio nacional diária.

Azar, essa coisa do objeto da notícia querer controlar a notícia, dá sempre em rádios clandestinas, como aconteceu: jornalistas a colocarem perguntas, sarilhos no Governo, e o briefing a demitir em direto membros do departamento assistente do departamento de notícias e propaganda.

Que fazer? Anunciar que não haveria relato diário do que deveria ser notícia. Mas nos intervalos as rádios clandestinas continuaram a ter notícias – mas como?

Pois é. Fim da inovação não inovadora.

Fim? Mais ao menos. O espírito da coisa continuou vivo. Todos os dias. Controlar a informação a que os portugueses têm direito. Confundir as pessoas com palavras aparentemente inócuas a dizerem no seu eco “cortes”, “despedimento”, “definitividade”.

Palavras incertas para esconder o que é certo: um programa ideológico de empobrecimento, animado por economistas de pensamento único, dizer muitas vezes essa coisa possível só à iluminação de deus: “não há alternativa” e por isso “consenso” e por isso, diria, escravatura.

Discutir muito que não se discute a “saída limpa”, ou suja, não se discute, não se assinam documentos, ouviram?

Quem assina um documento defendendo uma alternativa de visão ponderada do país é “essa gente”, tem uma “agenda”, não é “patriótico”, bando de irresponsáveis que assustam os mercados (ups, mas os mercados não sabem já o que consta do manifesto? E as taxas de juro não continuaram bem?). Então? O que se passa, patrióticos?

Assim de memória recordo-me de muita agitação nos mercados quando Portas se demitiu a prazo incerto (que bom seria vê-lo aplicar essa lógica, a contrario, ao direito do trabalho, agora que penso).

O briefing sem nome muda de estratégia: assustar. Não digam, não discutam, o momento é errado, “lá fora” escutam “reestruturação” e tomam-nos por bárbaros incumpridores, até (até?) Barroso vem censurar a palavra inconsciente.

O briefing dá-se com um secretário de estado ainda em funções, o que valida a certeza: a concretização da ideologia do empobrecimento de pensamento único é definitiva. Confusão, culpabilização da imprensa, depois um “não devia ter acontecido”, pois é, não devia em nome de quê?

Da verdade ou da mentira?

Os números da pobreza em Portugal são discutidos e Portas faz um briefing olhando os deputados e deputadas: todas as pessoas que “saíram” do RSI têm mais de 100 mil euros na conta.

Acontece alguma coisa?

Não. Por mim, peço desculpa por não ter abandonado o plenário.

 

 

6 thoughts on “Briefing (s)”

  1. como não quero diabolizar a classe jornalistica,digo que o despedimento mais facil,serve para estes trabalhadores não quererem chatear a entidade patronal,com noticias que deviam sair e não saiem e com verdades silenciadas para manterem o posto de trabalho.a esquerda democratica tem esta desvantagem,pois quem manda é o capital.o caso do jornal o publico,mantem-se na praça com prejuizos enormes para fazer loby e javardices a favor da direita, na altura das eleiçoes.que os pariu. é por isto que só leio o “avante camarada”!

  2. Ó Isabel, não tinha, ao menos, e em alternativa, um sapato para atirar à cara do dissimulado-vice, do impostor-vice, mentiroso vice (100 mil na conta bancária?! Quem, quantos, onde, quem os inscreveu no RSI de forma tão inconsciente, criminosa mesmo)?
    Um sapato nas fuças, Isabel, e ainda era pouco para o dissimulado auto-proclamado. Acredite, Isabel, dói-me nunca ter ouvido, pelo menos sempre que aquele vice de Cavaco e Passos pisa a AR, mimosearem-no com a definiçâo que deu de si próprio: dissimulado. O “senhor Vice Dissimulado”. Imagine, Isabel, se esta coisa da dissimulação fosse com alguém da sua bancada! Não quer descer ao nível do PSD/CDS? Compreendo. Mas até quando não vão dar a provar a estes dissimulados um pouco da própria vilania? Nâo seria, nas actuais circunstâncias, um verdadeiro serviço de informaçâo ao povo? E de elemntar justiça? Pense nisso.

  3. Desculpas aceites Isabel. Torna-se cada vez mais doloroso assistir ao indecoroso espetáculo que nos é oferecido pelos nossos representantes na AR.
    É uma dor de alma ver que a indignação, a resposta incisiva atempada e mordaz, o desmascaramento dos impostores, o nojo, para já não falar na nossa defesa, andem tão afastados daquele hemiciclo.
    Não é já chegado o tempo das pateadas, do bater com as portas?

  4. paguei a casa em 22 anos.se me tivessem diminuido o prazo, as prestaçoes aumentavam e eu talvez tivesse que entregar a casa ao banco.a nossa divida sendo dilatada pagamos mais mas em prestaçoes mais suaves.estou enganado? acho que não.durão barroso,já se esqueceu que foi do mrpp,mas do psd tem sempre presente a defesa dos seus interesses e por isso faz mais este frete com estas declaraçoes!

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