Nunca a direita me causou tamanho espanto. Isto que se chama de democracia vive bem se direita e esquerda conseguirem ser alternativas de poder, com propostas ancoradas em projectos de governação que se vejam e, claro, com a determinação de exercer efectivamente o poder, premissa mais fácil ou mais difícil consoante os tempos que correm, mas que tem de estar sempre presente em quem nos diz votem neste ou naquele Partido, com um rosto que é a ilusão possível de um líder.
Não sei o que se passa com a direita. Com a direita que pode vir a ser Governo. Sei que há uma direita que aprova medidas de austeridade e que depois aplaude e comenta com mãos de Pilatos o discurso do Presidente comparsa que diz demagogicamente dos limites dos sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses.
Essa direita que sabe estar tudo mal e que apresenta proposta nenhuma, que se revê, repito, quase em lágrimas, num discurso de tomada de posse que lhe dá base para uma moção de censura, no dia seguinte pia baixinho e vota contra o instrumento parlamentar que pode derrubar o Governo. Alguém, no seu perfeito juízo, ouvindo o líder do PSD e todos os seus discípulos devorarem o que entenderam ter sido uma crítica violenta ao Governo e mesmo um novo plano de acção acredita que não concordavam com a moção de censura do BE? Concordavam, sim (tal como o CDS). Mas andaram para ali às voltas, tendo a opção de dizer bem alto que pura e simplesmente não reconhecem o BE como força política legítima ou coçar as unhas na madeira, como os gatos, cheios de medo do poder, cheios de medo do poder, cheios de medo do quê? Da responsabilidade.
Não querem, não podem, não sabem agir de acordo com o que dizem, isto é: ser autênticos. Se o fossem, já teríamos tido moção de censura, já teriam soprado ao ouvido de Cavaco que dissolvesse a AR. O PR, líder da oposição, já o teria feito. Mas e depois? Quem passaria a ser o rosto das medidas de austeridade? Não é melhor que seja o Sócrates? Não é melhor que seja ele e que se continue a dizer umas cenas na televisão, com os blogues a dizerem das suas, que isto tem um limite, isto que o PSD aprovou, sim, pois, sempre a referirem-se aos lugares, esses morangos cobertos de chocolate, perguntando se já estarão “preenchidos”?
Pois é. A miséria da direita, quando vamos às suas bases, aos jovens que escrevem na bloga, e que hão-de ser qualquer coisa no futuro, e alguns já são, já têm “lugares” e tudo, os malandros, encontramos a estratégia/preocupação recorrente, em forma de pergunta, de querer saber se “restam” vagas neste ou naquele organismo internacional ou então dão-nos conta de nomeações como se de crimes.
Desgraçada direita sem ideologia, sem projecto, sem propostas, com medo do poder, que só quererá quando entender ser isso bom para si e não quando for isso bom para o país; desgraçada direita que vai contando o tempo apontada para os lugares, salivando, salivando muito, são morangos cobertos de chocolate, não é poder, é uma cadeira quentinha.
A estrategia é toda do homem do leme. Ele mandou fazer o acordo para o OE, depois de falhar nas intentonas e para ganhar a eleição presidencial; ele tentou que Socrates apresentasse a demissão, após o achincalhamento que fez da sua governação perante os portugueses e diplomatas estrangeiros; ele mandou o PSD ficar quietinho sobre moções de censura, porque não convem que o povo perceba que a vinda do FMI e as medidas de austeridade graves que este trará apareçam como consequencia da crise politica despoletada por Cavaco-PSD.
Ele está-se cagando para o País!
O seu espanto é legítimo e partilhado por mim. Pergunto-me se essa percepção de mediocridade se deve a uma degenerescência dos quadros dessa direita ou se, pelo contrário, a governação Sócrates levantou a barra de tal maneira que expôs, por contraste, o nível miserável de inteligência e ideias onde sempre estiveram, mas que não se notava tanto.
Afinal, nunca como hoje se viu tanta gente reputada a dizer tanto disparate, e a serem constantemente desmentidos pela realidade. Não admira que percam a cabeça e entrem em delírios ridículos. Uma tristeza.
Peço desculpa mas um texto dorido e doloroso para essa direita, toda torta, não mercece esse final.
Sem ideologia?
Lamento , mas não é assim.
Com carradas dela. Com montes, como dizem em Cascais…
Então clamar uns, por menos Estado, por menos impostos e por mais empregos garantidos e, outros, por mais estado, outra vez mais empregos, mais bolsas de estudo, mais isto e mais aquilo, tudo envolvido em excelente papel de embrulho de marcas internacionais…de todos os consumos…,ir e vir à faculdade no seu pópó, isto não é ideologia?
Isto é política e da boa! Da dura!
O que é subliminar nestas manifs de maiorias silenciosas (?) é a esperança num qualquer messias, num D. Sebastião que lhes evite as maçadas de terem de enfrentar a vida e, pasmemos, a própria política!
Fazer escolhas.
Escolher prioridades.
Dar a cara por um certo nível de solidadriedade, ou por solidariedade nehuma.
Isso é que falta.
Dar nomes aos bois e verem-se ao espelho.
Para não ser chato nem presumido, não direi, ao espelho da História…
Talvez a maioria nem me entendesse, e fosse a correr comprar gel!
Cumprimentos
É mesmo isso, a autora acertou na «mouche» – quem passaria a ser o rosto das medidas de austeridade? Aí é que está a questão…
A direita comandada por Kavacu perdeu estrondosamente com a não vinda do FMI,
sua aposta final, na frente interna,
e com a diplomacia de JSocrates a vencer vagarzinho na UE,
e junto dos grandes que a comandam…
Isso explica o desnorte das greves, dos marcellos, dos mendinhos, da casa civil
enfim do próprio Venerando
cujas teses de fim do mundo, felizmente para o país,
vão-se vencendo pouco a pouco, para muito sobressalto e muita infelicidade do dito…
é a vida, como dizia o outro…
abraço
Ah, esperem lá, afinal a direita é que tem medo de chegar ao poder. O BE, o tal partido que apresentou uma moção de censura para, apressadamente, no dia a seguir dizer que se a direita o aprovasse caíria no ridículo, é que está, nitidamente, preparado e cheiinho de vontade de assumir as rédeas do país. Quando o líder parlamentar do BE, ao fazer tal declaração, parecia estar a condicionar a aprovação da sua própria moção, nada mais estaria do que a dar uma motivaçãozinha extra para a direita a aprovar. Caramba, como pude ser tão burro por não ter percebido logo isso? Eu a pensar que Louçã socorria-se de uma reles estratégia política – e não fui só eu a pensar isso… muitos ignorantes andam por aí, arre! -, para, afinal, não estar mais do que a mostrar ao mundo que é um homem responsável que quer ser o próximo PM. Bem, eu até compreendo o Francisco, é que isto só de criticar e ser do contra e de lançar foguetes panfletários sem cheirar um bocadinho o poder deve acabar por cansar.
Convenhamos, Isabel, que lógica teria a direita, mesmo com as críticas legítimas que faz ao governo, votar a moção de censura apresentada pelo BE nessas condições? E independentemente disso, crê piamente que se fosse o PSD ou o CDS a apresentar uma moção, o PCP e o BE iriam votar a favor? E votando contra, já os tomaria como aliados ou bengalas do governo?. A direita “não é autêntica”, a esquerda é que o é. Sempre. Apontar incoerências aos outros, querendo esquecer as próprias é um exercício já demasiado gasto e chato. Chatíssimo. O que me espanta – também tenho os meus espantos tamanhos – é que ainda haja quem o faça tão convictamente e num jeito tão desassombrado.
Quando diz que a direita já poderia ter apresentado moção de censura, refere-se apenas a este ano, a reboque do discurso de Cavaco, ou ainda ao ano passado? Qual seria o momento adequado do ponto de vista da direita ou, melhor, no interesse do país para desencadear a queda do governo? Não me parece uma dúvida impertinente, esta. Se neste ano, pelo menos até à recente apresentação surpresa da nova sequela do PEC que me parece que irá precipitar os acontecimentos, não veria uma razão assim tão gravosa para justificar partir já para uma moção de censura (então o PM não tinha já dito que a execução este ano tem andado nos trinques?), muito menos veria no ano passado. Não por uma questão de competência do governo, que essa já anda há muito pelas horas da morte, mas pelo contexto da coisa, contexto esse que não se pode negligenciar. Claro que o PR com ou sem o sussurro do PSD já poderia ter dissolvido a assembleia há um ano. Que se lixasse a crise orçamental do país, que se lixasse a subida inapelável dos juros da dívida, que se lixassem os mercados, a UE, a Frau Merkel, era cortar tudo a eito e esquecer que o actual PM até tinha sido reeleito há não tanto tempo assim e se o foi, foi para governar. Uma crise política logo no ano passado tinha vindo mesmo a calhar, sim senhor. Alcançar um acordo para fazer face a uma emergência nacional – sim, foi disso que se tratou e ainda se trata -, tentando que se alcançasse uma tão rigorosa como imperativa execução orçamental para não fugirmos mais dos eixos e dando uma oportunidade a quem foi eleito para governar, evitar quase até ao limite apresentar uma moção de censura por se ter noção de que temos os olhos da Europa postos em nós, é pois próprio de gente irresponsável, que tem medo do poder, que quer entregar o trabalho sujo aos outros. Muito bem. Aliás, basta recordar a campanha eleitoral de Manuela Ferreira Leite para perceber a sua clara intenção de não tomar medidas impopulares se fosse governo. Tudo eram rosas nas suas palavras, raio da velha caduca.
Vá, não sou ingénuo ao ponto de pensar que não há e houve também um tacticismo político. Mas é compreensível. Passos Coelho é líder do PSD há não muito tempo, precisa de ganhar posição no partido, e bem sabemos como isso é tão difícil por lá com Santanas e afins, e ainda houve umas presidenciais pelo meio. Se há quem dia que o PSD quer apenas limitar-se a esperar que o governo caia por si, o mal essencial não está no principal partido da oposição, mas sim no governo que não tem capacidade para não se deixar cair. Isso sim é bem mais preocupante que qualquer táctica político partidária e que um suposto medo de governar agora por parte da direita.
Finalmente, para além de nos esclarecer que Passos Coelho não é afinal um liberal como muita gente apregoa (“Desgraçada direita sem ideologia”), remata dizendo que a direita só quererá o poder “quando entender ser isso bom para si e não quando for isso bom para o país”… Como as coisas estão, nunca será boa altura para se governar este país. Nem hoje, nem daqui a anos. Não é uma questão de um mau momento apenas. Convença-se disso.
depois disto e de ter ouvido Sócrates, só posso dizer que Portugal está a atravessar o deserto.