Bem-aventurados os homens de Fé…

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O insurgente Helder acaba de deixar numa das nossas caixas de comentários uma divertida e reveladora pregação: “Se você comparar a acção de Tony Blair ou da Greenpeace com a da Toyota, fácilmente concluirá que a segunda faz muito mais pelos objectivos de redução de emissões que os primeiros. E isso tem um nome: capitalismo.”
A Fé nos mercados e nas empresas há-de levar esta malta ao Céu. Mas descamba por vezes numa comicidade irresistível.
O santo Helder está mesmo convencido de que colossos industriais como a Toyota se dão ao trabalho de investigar novas tecnologias e alterar processos de fabrico, criando produtos menos nocivos para o Ambiente… apenas movidos pela bondade intrínseca dessa acção! Já encontrei testemunhas de Jeová menos crédulas em milagres e outras divinas intervenções.
Se não receasse abalar profundamente as fundações mágicas do reino de fantasia do bom Helder, talvez lhe explicasse que está a ver tudo ao contrário: os fabricantes de automóveis fabricam carros cada vez menos poluentes em resposta aos regulamentos cada vez mais exigentes que alguns países vão adoptando. E preparam-se já para as restrições ainda mais draconianas que se adivinham ao virar da esquina. Quanto aos governos, como o de Tony Blair, grande parte da sua motivação para intervir neste campo vem da pressão da opinião pública; e aqui fica explicado o papel que organizações como a Greenpeace (por sinistras que sejam) têm nesta tendência.

Mas não digam nada ao Helder. Deixem-no continuar emigrado no seu lindo mundo, onde a indústria automóvel acolhe com um sorriso estas imposições (como já o fez quanto aos airbags, por exemplo), os produtores de guloseimas protegem a saúde das crianças e as tabaqueiras reduzem de moto próprio a nicotina nos seus produtos e ainda os decoram com simpáticos avisos. Tudo para bem do Homem e do seu Deus Único, o Mercado.

7 thoughts on “Bem-aventurados os homens de Fé…”

  1. O mercado, esse demónio que só quer o nosso mal.
    “FT reports that McDonald´s just redesigned the McFlurry cups so that hedgehogs won´t get stuck in them, in case someone throws the cups on the ground.”
    Tssss, onde já se viu uma coisa destas. O que eles fazem para ganhar dinheiro.
    No mundo aqui do Luís, isto não existe. O problema é que o único mundo que já não existe é aquele sonhado pelo Luís. Caiu com o muro.

  2. Ó dr. Sabe-tudo,

    Eu, provavelmente, acredito muito mais no mercado do que você. Desde os 25 anos que sou empresário e conto apenas com a competitividade das minhas empresas para sobreviver. Nunca vivi à pala do Estado, de fundações ou de universidades.
    Já agora: porque não rebate nada do que ficou aqui escrito e vem com esse paleio tonto de muros e outras cassetes que nada têm a ver comigo nem com este post?

  3. O extremar de posições não leva a nada. Não existe um regime de só mercado, que levaria ao fim do mercado, assim como o estatismo exagerado não fez nada bem ao ambiente, basta olhar para o que foi o bloco de leste. Nisto como em tudo uma certa temperança não faz mal a ninguém. Como disse Braudel não existe capitalismo sem estado capitalista. Pelo que o òdio de certo fundamentalismo do mercado a tudo que saiba a emprego ou subcídio do estado é completamente delirante. Não existiria bomba atómica nem o poderoso exército dos estados unidos para proteger o dito mercado sem subcidios a fundo perdido, etc, etc. Como é completamente delirante o anticapitalismo de certa esquerda e o seu megaestatismo, que tanto prodhom como marx queriam extinto. Tanto ódio mal desperdiçado. Mas parece que só assim as coisas mechem.

  4. Caro Luís,
    http://www.oinsurgente.org/2006/11/06/liberal-versao-do-dia-olha-outro/

    “… apenas movidos pela bondade intrínseca dessa acção!”

    Tanta palavra para isto Luís? Talvez tenha razão, o santo, bom “H”elder seja feliz assim…afinal o Reino do Céus é dos pobres de espírito não é?
    Vai por aí grande confusão e preconceito, mas pronto é falta de talento meu com certeza.
    Só mais uma nota: os reguladores não imaginaram, nem criaram os airbags. Quando deram por eles já cá estavam.
    abraço da twilight zone

  5. Leia, por favor o artigo que linquei, e procure a expressão “airbag mandate”; vai ver que está equivocado: sem os reguladores, continuariam a ser uma curiosidade de topos-de-gama.
    Tal como se engana com essa dos “pobres de espírito”: até eu, ateu militante, sei que a versãp certa é “pobres em espirito”. O que faz um mundo de diferença.

    E, claro está, parabéns pela capacidade de encaixe demonstrada no seu cartoon!

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