Da crónica, hoje, no Público, de José Pacheco Pereira:
«Peguem numa lupa e vão ver as fotografias dos “palácios reais”, as fotografias dos grandes e médios eventos desses anos finais da monarquia e podem continuar pela República e pelo Estado Novo dentro e vejam o Portugal que lá está ao lado da Família Real nos vasos partidos segurados com arame, nas louças com “gatos”, nos jardins pouco cuidados, nos espelhos com a prata gasta, nas roupas puídas e usadas, nas decorações erguidas de madeira e papelão, no tom de abandono, descuido e pouca limpeza, que nem a hierarquia do upstairs e do downstairs servia para funcionar bem, não porque não houvesse muita criadagem, mas porque faltavam os mordomos ingleses. Esse mundo que tomam por brilhante e cosmopolita era o mesmo Portugal que hoje pretendem esconjurar porque “feio, porco e mau”, o mesmo Portugal – oh sinistro adjectivo! -, “piroso”, de que pensam fugir conhecendo os vinhos de casta, comprando relógios Patek Philipe para entesourar, caçando vestidos de duendes verdes, fazendo subir o preço do Almanaque de Gotha nos leilões, e passeando-se por resorts e spas. Não, não estamos nos nossos melhores dias…»
Este homem está cada vez mais interessante.
A falta que faz a cultura. Entre João V e Manuel II, exclusive, nenhum rei gostou de livros. Gostavam de música, de preferência cantada na igreja, da caça e da borga. Os marqueses de Marialva, primos da família real, por volta de 1800 só tinham um livro em casa, e o pátio de entrada do palácio estava coberto de bosta de cavalo, segundo Beckford.
A falta que faz o bom velho James, que tinha já servido o meu pai e também o meu avô. Lembro-me dele com o seu porte impecavelmente erecto, apesar dos seus noventa e três anos. Lembro a mestria com que me servia o Old Bushmills (e como lhe custava servir-me whiskey…).
E não, meu pai não me deixou um Patek Philipe, apesar de ser velho amigo do próprio Patek e do irmão, o Philipe. Não o lamento, apesar de tudo deixou-me um Camel. Ofereceu-mo a rir, dizia que era uma marca que condizia comigo, nunca percebi a mensagem subliminar…
agora a gargalhada foi minha, comendador.
São comendadores destes que equilibram o desconsolo que nos deixam juízos do tipo do do JPP.