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TV Susto

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Ontem, pela primeira vez, vi um noticiário da Rede Record. E aquilo mete medo. Imaginem o “24 Horas” em movimento: crimes em barda, corrupção por todo o lado, gente feia até mais não. Tudo tem aspecto patibular: do deputado corrupto ao delegado, passando pelos políticos, que, por sinal, andam sempre em fuga. Nunca antes tinha ouvido tantas vezes, em tão pouco tempo, as palavras “assalto”, “tortura”, “assassinato” e “chacina”.
Tão cedo não volto a falar do sensacionalismo das nossas TVs.

Eles andam por aí

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Para termos a inteira medida do que será a vitória de Cavaco, devemos prestar atenção à malta que ciranda em seu redor. Nem toda, é certo; mas a sofreguidão induzida pela proximidade da vitória já arreganha os caninos aos mais incontinentes. E lá começam a escorrer os insultos e a soberba. Agora, no Pulo do Lobo, que por norma até parece espaço mais ou menos civilizado, surge o McGuffin, brandindo os cacetes do costume: generalizações, agressividade, arrogância, falta de educação democrática.
Para este senhor, as eleições só nos colocam dilemas simplórios: de um lado, há “três ou quatro pseudo-candidatos”, com ideias por certo “de pacotilha”. Eles entretêm-se a produzir “ruído. Nada mais”. Todos andam “apostados em”: “denegrir”, “ridicularizar a austera figura de Cavaco” (ai que aleivosia!) e “desferir sórdidos ataques” que apenas revelam o “vazio e a indigência” dessa malta. Sim, que a “grande farsa desta campanha, protagonizada sobretudo por Soares e Louçã” é a “incapacidade destes para apontar um rumo ou uma estratégia de longo prazo para o país”, capaz de ir além do lugar-comum das “mui queridas questões «fracturantes» e do empenho em cultivar um estilo «cosmopolita» e «moderno».” Ao fim e ao cabo, é como se essa horrenda maltosa bramasse: “nós, que somos importantes e fundamentais, propomo-nos para bibelot pois não temos opinião sobre nada”. Soares, claro está, vagueia “fora do mundo”, carregado com a sua “puerilidade aliada à soberba”. Tudo isto é, de acordo com o vocabulário mal-educado do senhor Carapinha, “obviamente bullshit“.
E que tem ele a dizer do seu candidato? Nada de famoso. “Cavaco Silva não é propriamente uma figura «interessante». A «grande» sofisticação não mora ali. Também não se adivinham conversas de antologia sobre os mais apaixonados temas”. Então, porque vai ele votar nesse palonço sem interesse? Preparem-se: é porque “o que faz falta é sacudir a malta, esbofetear a malta, chatear a malta”. Nem mais. Cavaco será um “homem sério”, “adepto do rigor e da competência”. E essas credenciais bastam para fazer um Presidente. É que o McGuffin fica “mais descansado se souber que em Belém está um homem que, não se tendo resignado, está disposto a trabalhar. Ou, se quiserem, a «chatear».”

É ou não é uma tristeza?

A indecisão do poeta

Querem ler os brilhantes argumentos com que Vasco Graça Moura transforma a sua coluna de hoje num panfleto eleitoral? Vão lá. Ou, se quiserem poupar tempo, podem ficar com um breve resumo, com alguns comentários meus à mistura, em itálico:
Portugal está face a uma grave crise económica. Para a ultrapassar, “é imprescindível que haja total coesão e compreensão entre os órgãos de soberania”. Portanto, devemos votar num candidato programática e ideologicamente próximo do governo, certo?
O candidato salvador vai escorar a sua “capacidade política” “no rigor, na experiência, na competência e também na disponibilidade permanente”. Estará ele a falar de Soares, que nem aos 80 pára?
Mas claro que também é natural que a “personalidade do candidato conte, e conte muito, para a sua designação”. Portanto, devemos recusar o candidato que ainda há dias negou palavras suas e mentiu descaradamente.
Se estes métodos de selecção falharem, o melhor é eleger o candidato com um manifesto que seja um “compromisso solene e um programa viável de actuação”. Estou a ver aí uns quatro nessas condições…
Devemos exigir alguém que afirme a “sua independência e o seu posicionamento acima das forças políticas”. Já não percebo nada; agora está a apelar ao voto em Alegre?
A fechar, o nosso homem em Belém deve rejeitar “enquadramentos e compromissos partidários, a dicotomia esquerda/direita, a revisitação do passado e a ordenação do presente segundo enfoques paroquiais ou interesses mais do que discutíveis”. Aparte a ideia de fazer de conta que não há esquerda ou direita, não se entende grande coisa desta passagem; mas aquilo de não se regressar ao passado deve deixar de fora pelo menos Cavaco e Soares.

E agora, em quem vai votar Vasco Graça Moura, se não consegue coligir nem uma meia dúzia de argumentos que se possam aplicar apenas ao seu candidato? Pobre homem indeciso…

Um líder, uma visão

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George Bush continua a sonhar com a “vitória completa” que não deve tardar, uma vez que, “apesar dos obstáculos que enfrenta, os iraquianos mostraram que sabem unir-se em prol da unidade national”.
Ao mesmo tempo, a agência oficial de ajuda humanitária americana encontra ali um país “fora de controlo”, dividido por um “conflito intestino” envolvendo grupos religiosos, étnicos, criminosos e tribais. Será o mesmo “Iraque” de Bush?